No ano passado, série documental lançada pela Netflix levou os brasileiros de volta para 2012
Era 19 de maio de 2012 quando Elize decidiu confrontar seu marido na mesa de jantar. Ela diz que naquele momento havia despejado fatos que tiravam seu sossego: havia descoberto não só a segunda traição do companheiro, mas também que soube do adultério após contar com o trabalho de um detetive particular. Em seguida, declarou não só ter escutado ofensas, mas também ter levado um tapa na cara.
Esse é o cenário que originou um dos casos mais tétricos do Brasil. Isso porque o marido em questão era o empresário Marcos Matsunaga, dono da gigante companhia ‘Yoki’, que na época passava por uma negociação de 2 bilhões. Após o momento em questão, Marcos foi dado como desaparecido, contudo, o que se seguiu foram revelações perturbadoras.
Durante os dias em que o paradeiro de Marcos era desconhecido, nenhum pedido de resgate. O irmão apenas se deparou com um e-mail em nome do empresário onde ele dizia estar ‘bem’.
Ao mesmo tempo, Elizelevou aos familiares uma gravação que comprovava o adultério. Contudo, o cenário mudou quando restos mortais esquartejados foram encontrados numa estrada localizada em Cotia.
Em sacos de lixo, autoridades se depararam com diferentes partes de um corpo, que vestia roupas de grife caríssimas no momento da morte.
Naquele momento, tudo se conectou. As investigações constataram que aqueles eram os restos mortais de Marcos. Não só o e-mail recebido era falso, como também foi descoberto que havia sido enviado pela companheira do milionário, responsável por um dos crimes mais bárbaros do Brasil.
Elize Matsunaga, condenada pelo crime, teve a liberdade condicional concedida pela Justiça nesta segunda-feira, 30. A SAP (Secretária de Administração Penitenciária) cumpriu o alvará de soltura ainda nesta tarde.
Dez anos depois, brasileiros que não acompanharam o desenrolar das investigações conferem tudo que aconteceu em 2012 na série documental ‘Elize Matsunaga: Era uma vez um crime’, original da companhia de streaming Netflix, lançado no ano passado.
A produção conta com a primeira entrevista de Elize, que foi condenada a 19 anos, 11 meses e um dia de prisão, após assumir ter matado e esquartejado o companheiro. Logo de cara, ela aparece emocionada.
Logo manda um recado para o espectador: 'Respeito a opinião das pessoas. Sei que tem pessoas que entendem o que aconteceu, sei que tem pessoas que me abominam, que me julgam, e tudo bem'.
Enquanto relembra os fatos que resultaram na noite do crime, a produção mistura relatos dos advogados de defesa da criminosa, autoridades envolvidas nas investigações - e posteriormente condenação -, repórteres que cobriram o episódio, uma tia que sempre apoiou Elize, colegas (de ambos os lados) e a advogada de defesa da família de Marcos.
Quem assiste a produção se depara com os relatos da condenada a respeito do relacionamento, marcado por episódios turbulentos.
"Cada vez que eu citava a mulher, ele dizia que eu estava louca. Quando eu disse que sabia de tudo, que tinha contratado um detetive, me deu um tapa no rosto, ele nunca tinha feito aquilo. Ele negava tudo de forma tão extrema e me colocava numa situação de culpada, eu me perguntava: "Será que estou doida mesmo?’, relembra Elize. “Só sei que fui pro móvel na outra sala e peguei minha arma. Ele disse: ‘Atira, sua fraca, atira ou some daqui, vai pro Paraná com a sua família de bosta e deixa minha filha aqui'".
No desenrolar da produção, a defesa de Elize explica como foi possível humanizar uma criminosa que tinha a destino nas mãos de um júri e a vida infeliz que ela levava antes de conhecer Marcos.
Ao mesmo tempo, as autoridades envolvidas no caso também comentam as declarações ali dadas por ela, sempre as relacionando e também contestando diante do que foi apurado na época do assassinato.
"Que tipo de emoção me fez apertar o gatilho? Eu estava sentindo raiva dele, estava com medo e aliviada por não estar louca", explica ela em determinado momento.
Além disso, a obra documental também detalha o desejo dela em tentar se reaproximar da filha, que hoje tem 10 anos.
"Gostaria de falar para minha filha que não tem um dia da minha vida que eu não me sinta culpada pelo que eu fiz. Peço para que ela consiga vencer isso. Se não conseguir me perdoar, tudo bem. Irei respeitá-la", diz Elize.