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Matérias / Brasil

Veridiana da Silva Prado, a brasileira que chocou a elite cafeeira paulista no século 19

Conhecida como Dona Veridiana, ela se casou com o próprio tio, se divorciou e administrou sozinha um importante salão intelectual de São Paulo

Vanessa Centamori Publicado em 12/03/2021, às 12h00

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Dona Veridiana - Wikimedia Commons
Dona Veridiana - Wikimedia Commons

Se você vive ou já esteve na cidade de São Paulo, o nome Dona Veridiana talvez soe familiar. Acontece que existe na metrópole uma rua, na esquina com a  Avenida Higienópolis, que leva esse nome.

Em Higienópolis, durante o século 19, lá estava o palacete de Veridiana da Silva Prado, uma mulher que rompeu com os padrões das elites cafeeiras e teve enorme importância para a vida política e cultural do fim do Brasil Imperial e início da República Velha. 

Nascida em 11 de fevereiro de 1825, Dona Veridiana passou a infância em uma residência onde seu pai hospedara nomes importantes como Dom Pedro I. A visita ocorreu três anos antes do nascimento da garota, no ano de 1822, quando o monarca visitou São Paulo, e proclamou a independência do Brasil. 

O pai de Veridiana, Antônio da Silva Prado, era um homem rico, que ganhou o título de Barão de Iguape. Em uma das viagens de negócios do empresário, ele levou os filhos para conhecer a Corte. Veridiana conheceu então a Marquesa de Santos, que a elogiou pela graça e vivacidade, chamando-a de “menina misureira”. 

Veridiana da Silva Prado / Crédito: Wikimedia Commons 

Durante o período da regência, a garota leu e estudou muito, além de tornar-se poliglota: ela aprendeu inglês, francês e alemão com suas governantas. Os negócios do pai a interessavam muito, o que já revelava desde pequena que Veridiana seria uma mulher poderosa e envolvida na vida intelectual brasileira. 

Quando ela tinha apenas 13 anos de idade, foi forçada em nome dos negócios e do patrimônio da família a se casar com o próprio tio, Martinho da Silva Prado, que era 14 anos mais velho. 

Isso não impediu, porém, que Veridiana mantivesse sua personalidade forte e comandasse a família. Um tempo depois, a relação dela com o tio se desgastou quando uma das filhas deles, Ana Blandina, foi pedida em casamento por Antonio Pereira Pinto Júnior.

Martinho foi contra o casório da filha, enquanto que Veridiana aceitou a proposta. De qualquer modo, o casamento de Ana Blandina ocorreu em março de 1877, causando muitas discussões. 

Como resultado, um divórcio entre Veridiana e Martinho aconteceu em 1878. Embora ambos nunca tenham se separado legalmente, o fato de Dona Veridiana levar uma vida de mulher divorciada foi um escândalo para a elite paulista da época.

Palacete de Dona Veridiana / Crédito: Wikimedia Commons 

Enquanto as fofocas aconteciam, Veridiana decide ir para Paris, de onde volta em 1882. Inspirada na arquitetura francesa, ela inicia a construção de um palacete na chácara que comprara em 1879, no então bairro de Santa Cecília. 

A propriedade foi batizada por Veridiana com o nome de Vila Maria, como forma de homenagear a sua dama de companhia Maria das Dores, que se casou com Antonio Pacheco Chaves, em um matrimônio auxiliado por Veridiana.

Na chácara, a proprietária lançou um salão intelectual onde se encontravam inúmeras personalidades históricas para discutir sobre arte e política. Lá estiveram pessoas como Teodoro Sampaio, Joaquim Nabuco, Graça Aranha, D. Pedro II e a Princesa Isabel, que elogiou muito o palacete. 

D.Pedro I do Brasil / Crédito: Wikimedia Commons 

Segundo uma nota publicada no jornal Correio Paulistano de 19 de novembro de 1884, em seu diário, a Princesa Isabel escreveu: “A propriedade de D. Veridiana é lindíssima; casa à francesa, exterior e interior muitíssimo bonitos, de muito bom gosto”. 

Segundo o livro Dona Veridiana, de Luiz Felipe Avila,  quando a mulher recebeu D.Pedro II, ela fez questão de colocar todos os seus filhos e netos em fila, desde o porão de sua chácara até a porta principal do palácio, como se seus entes queridos fossem uma família real prestes a receber o monarca. 

A família Prado foi, de fato, um alicerce para a monarquia. O Barão de Iguape ( pai de Veridiana) era amigo pessoal de D.Pedro I. Além disso, o filho primogênito de Veridiana, Antônio Prado, foi ministro do Império em 1887. 

Apesar da família e da própria Veridiana serem monarquistas, em seu palacete, ela mostrava nas rodas de conversa que era contra a escravidão. A mulher continuou defendendo a libertação dos escravos mesmo após a Proclamação da República e chegou a ser presidente  da Sociedade Redentora para libertação dos escravos, formada por senhoras da sociedade.

Veridiana teve empregados de origens étnicas diversas, entre eles, uma jovem negra, que era pianista e com quem a dona só falava em francês. Também havia um índio botocudo e um cocheiro suíço, que levava Veridiana para passear de coche nos fins de tarde. 

Antônio Prado, filho primogênito de Veridiana da Silva Prado / Crédito: Wikimedia Commons 

O jardim do Palacete de Dona Veridiana era aberto às crianças do bairro, pois ela seguia o exemplo da condessa Penteado. O seu casarão tinha equipamentos muito modernos para a época, como um aparelho telefônico, cuja instalação ocorrera em 1884.

Além disso, o salão era decorado com móveis e peças trazidos de viagens, além de obras de arte finas encomendadas de artistas brasileiros como Almeida Junior e Victor Brecheret.

 O requinte não impedia que Veridiana fosse criticada por manter seu salão cultural. Mulheres da elite paulista criaram até um boato de que seu palacete era um clube masculino, sendo no local vedado o acesso de mulheres. 

Mas isso não passou de uma mentira, fruto de devaneios dos afortunados na cidade. Dona Veridiana continuou mesmo assim se reunindo com intelectuais e administrando fazendas de café. Ela faleceu em seu palacete em 11 de junho de 1910, aos 85 anos, sendo sepultada no cemitério da Consolação. Em seu testamento, deixou dinheiro para instituições de caridade, sobretudo para a Santa Casa de Misericórdia.


Saiba mais sobre o tema por meio das obras:

Dona Veridiana, de Luiz Felipe Avila ( 2004) - https://amzn.to/2Udyb9B

O palacete paulistano: E outras formas urbanas de morar da elite cafeeira, de Maria Cecília Naclério Homem ( 2010) - https://amzn.to/33Ao9nr

Politica Do Cafe Com Leite, de Jose Alfredo Vidigal Pontes ( 2013) - https://amzn.to/2QpnoYV

D.Pedro - A história não contada.: O homem revelado por cartas e documentos inéditos, de Paulo Rezzuti ( 2015) - https://amzn.to/38QtaJq

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