Imperador escreveu sobre o problema em um diário de viagens
Paola Orlovas, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 19/02/2022, às 06h00 - Atualizado às 14h48
Dom Pedro II, durante os anos de 1861 e 1862, já falava sobre a falta de ações do poder público para evitar e enfrentar as enchentes que ocorriam no Brasil Império.
Na época, o monarca escreveu sobre as chuvas que duravam dias e suas consequências em seu diário de viagens, onde também abordou especificamente a cidade de Petrópolis e os problemas em sua estrutura. As informações são do portal O Globo em reportagem de 2013.
No dia 5 de janeiro de 1862, dom Pedro II escreveu em seu diário de viagens: “Ontem de noite houve grande enchente. Subiu três palmos acima da parte da Rua do Imperador do lado da Renânia; acordou o Câmara (sic), e um homem caiu no canal, devendo a vida a saber nadar e aos socorros que lhe prestaram. Conversei hoje com o engenheiro do distrito; pouco se fez do ano passado para cá. Os estragos que fez a enchente levaram 2 meses a reparar, segundo me disse o engenheiro. Falei-lhe sobre a vantagem de introduzir na colônia a cultura da amoreira e criação do bicho-da-seda”.
Com um grande fascínio pela ciência, dom Pedro II, segundo O Globo, foi responsável por introduzir a meteorologia no Brasil, um sistema inspirado em tecnologias que havia visto no exterior para ele mesmo conseguir monitorar chuvas, com cálculos feitos a partir de temperaturas e precipitações, que também eram registrados em seu diário.
No documento, o imperador falou detalhadamente de uma chuva que durou 22 dias na cidade de Petrópolis. O evento se deu em dezembro de 1861, e para descrevê-lo, dom Pedro II usou de um higrômetro e um termômetro que media a temperatura em Fahrenheit.
O monarca também trocava seus registros com outros intelectuais e cientistas, que conheceu ao frequentar institutos de ciência da época. Entre seus colegas, estavam Alexandre Herculano,Louis Pasteur e Graham Bell.
O esforço de manter conexões como essas feito por dom Pedro II tinha como finalidade trazer inovações científicas para o Brasil e para Petrópolis, que segundo Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial, em entrevista ao O Globo em 2013, era monitorada constantemente pelo imperador.
Maurício Vicente Ferreira Júnior acredita que depois de relatar e medir as chuvas de 5 de janeiro de 1862, dom Pedro II repassou as observações para as autoridades locais, tentando fazer com que o impacto fosse reduzido, e não afetasse enormemente a vida da população:
Ele fazia recomendações ao poder público, não como chefe de Estado ou imperador, mas como intelectual que almejava uma visão de futuro para o país. E recomendava as medidas pensando na população”, disse Ferreira Júnior ao Globo em 2013.
Também há outros registros históricos falando de problemas provenientes das chuvas dentro do estado do Rio de Janeiro, como o caso de um evento que foi cancelado e que foi registrado na edição de 4 de julho de 1837 do periódico “Pharol do Império”.
“Não se tendo realizado o exercício d’instrucção no dia determinado, pelas muitas chuvas, deverá o mesmo ser no dia 9, se o tempo permitir para os Batalhões d’Artilharia, 4º e 5º de Infantaria, e Corpo da Cavallaria no mesmo lugar e hora já marcada”, informou a publicação na época.
**Errata: a reportagem errou na data do acontecimento histórico. O evento ocorreu em 1861 e não 1961. O conteúdo foi alterado.