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Matérias / Carros

Do Lincoln K ao Gurgel: Veja carros que contam histórias

Novo museu de Campos do Jordão, em São Paulo, transforma automóveis antigos em protagonistas de grandes acontecimentos do Brasil no século 20

Izabel Duva Rapoport Publicado em 22/02/2025, às 10h00

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Lincoln K de 1938 - Divulgação
Lincoln K de 1938 - Divulgação

O novo museu de Campos do Jordão, em São Paulo, resgata a história por meio de automóveis icônicos, como o Lincoln K e o Gurgel. Esses veículos não são apenas máquinas; eles simbolizam momentos marcantes do século 20.

O Lincoln K, por exemplo, esteve presente em eventos sociais da elite brasileira, enquanto o Gurgel representa a inovação nacional e o sonho do automóvel popular. Assim, esses carros tornam-se protagonistas de um passado que ainda influencia o presente. Conheça-os!

Lincoln K de 1938

Um dos automóveis de destaque do CARDE — Carro, Arte, Design e Educação —, o maior museu automotivo do Brasil e da América Latina recém-inaugurado em Campos do Jordão, cidade turística do estado de São Paulo, é o Lincoln K produzido em 1938.

Apenas cinco nesta configuração Touring de sete passageiros foram feitos no ano — e este, em especial, ficou famoso por servir de veículo oficial a diversas visitas de chefes de Estado ao Brasil.

Encomendada pelo ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, a raridade transportou figuras ilustres como os ex-presidentes Getúlio Vargas, do Brasil, Francisco Craveiro Lopes, de Portugal, e Charles de Gaulle, da França, além da rainha Elizabeth II e do papa João Paulo II.

Tradicionalmente, o modelo foi lançado em 1931 com motor V8. Porém, em um ano mudou para V12, elevando o nível de desempenho e prestígio da linha de luxo, e conquistando ampla aceitação.

Não só pelo motor, mas também pelas diversas opções de carroceria, inclusive personalizada. A do Lincoln K de 1938, por exemplo, foi feita sob medida pela Willoughby Company, de Utica, em Nova York, Estados Unidos.


Brasinca Uirapuru

Entre os mais de 500 carros antigos da mostra está um dos brasileiros mais raros e cobiçados da História: o esportivo Uirapuru, lançado pela empresa Brasinca em 1964. Com apenas 77 unidades fabricadas, ele claramente foi inspiração para o modelo inglês Interceptor, da Jensen, que surgiu no mercado dois anos depois.

Brasinca Uirapuru - Divulgação

No museu, é ele que recepciona o visitante que, logo na entrada, se surpreende no modo em que o veículo é exposto: no topo de um cajueiro de metal e folhagens em crochê, todo adornado com uma pintura do artista indígena Rudá Jenipapo, que se inspirou no pássaro uirapuru. A ideia, segundo Gringo Cardia, responsável pelo design do CARDE, é romper com qualquer expectativa de um museu meramente automobilístico e apresentar a memória afetiva do passado com um olhar à natureza.


Aruanda

A única unidade construída do Aruanda, o primeiro carro conceito brasileiro, não foi perdida por pouco. Criado em 1964 pelo então estudante de arquitetura Ari Rocha, o veículo passou por uma enchente em São Paulo, em 1978, e ficou desaparecido por duas décadas até ser encontrado num galpão desativado e devolvido ao criador.

Aruanda- Divulgação

O protótipo, exposto no Salão de Turim em 1965, foi projetado para ser um automóvel econômico, prático e leve, ideal para as cidades — mas oposto ao que se via nas ruas da época.


Willys

O automobilismo no Brasil não poderia ficar de fora na história do país que utiliza o carro como fio condutor. Nas décadas de 1930 e 1940, as corridas oficiais começaram a ganhar força entre os brasileiros, com a inauguração de autódromos, com a realização de grandes prêmios e, logo depois, nos anos 1960, com a chegada da Bateria Willys, que se destacou como um marco na profissionalização do esporte no país.

Willys - Divulgação

A equipe dominava as competições com carros como o Willys Interlagos e grandes pilotos como Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace e Bird Clemente. Para apresentar os três automóveis originais da equipe que fazem parte da coleção do CARDE, o museu produziu uma sala cuja referência visual é de um autódromo, com pistas e curvas que podem balançar o coração de qualquer amante do automobilismo nacional.


Gurgel

Nos anos 1970, enquanto o mundo explorava veículos movidos a combustíveis fósseis, o engenheiro João Augusto Gurgel já pensava em alternativas sustentáveis. Depois de colocar o primeiro carro cem por cento brasileiro nas ruas, o BR-800, o visionário apresentou o protótipo do primeiro elétrico do país.

Gurgel - Divulgação

Seu sonho era popularizar a tecnologia limpa — algo que aconteceu em 1981 com o Itaipu E-400 (acima), pioneiro da produção em série na América Latina. Apesar da eficiência e do baixo custo operacional, porém, não superou o que ainda é um problema nesses modelos: baterias caras e efêmeras. Sua produção foi encerrada em 1982.


Hispano-Suiza

A fabricação foi na Espanha, em 1911, mas a história do Hispano-Suiza 30-40 exposto no CARDE foi no Brasil. Nos anos 1960, o velho veículo (que ficou meio século parado em uma oficina da capital paulista) foi encontrado e adquirido por 30 contos de réis por Roberto Lee, um dos primeiros colecionadores de carros do Brasil e proprietário do Museu de Antiguidades Mecânicas, em Caçapava, interior de São Paulo.

Hispano-Suiza - Divulgação

O achado, após cuidadosa restauração, logo virou a principal atração do lugar. A alegria, porém, durou pouco. Com a morte de Lee em 1975, o museu foi fechado e vandalizado nas décadas seguintes. Hoje, é admirável ver esta raridade funcionando e brilhando mais uma vez.


Isotta Fraschini

Uma história de amor. E também de ostentação. Nos loucos anos 1920, o empresário magnata brasileiro Henrique Lage e a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni se conheceram na Europa, casaram-se e vieram morar no Brasil.

Apaixonado, Henrique presenteou sua amada com um luxuoso Isotta Fraschini, importado da Itália, em 1925. O carro, considerado um dos mais sofisticados do mundo e símbolo de grande riqueza naquela época, teve como moradia o Palacete do Parque Lage, no Rio de Janeiro, que Henrique remodelou para transformá-lo em um palácio também dedicado à artista.

Com desenho exclusivo assinado pela Carrozzeria Castagna, prestigiada encarroçadora milanesa, o modelo é único, feito sob medida e finalizado de forma artesanal com o número de identificação #810.

Isotta Fraschini - Divulgação

O motor também impressionava, atingindo velocidade próxima a 140 quilômetros por hora, atípica naqueles tempos. Histórias como essas, segundo a professora Heloísa Starling e uma das consultoras do CARDE, revelam fatos do Brasil em diferentes camadas e períodos. "O automóvel aperta o gatilho da imaginação e o historiador busca os livros e documentos para fazer essa conexão".