Pesquisadores estudaram as raízes dos Muwekma Ohlone
Nativos americanos da costa norte da Califórnia, os Muwekma Ohlone ocupavam áreas próximas da Baía de São Francisco, da Baía de Monterey e da parte inferior do Vale Salinas até a chegada dos colonizadores espanhóis no final do século 18.
No período pré-colonial, os Muwekma Ohlone chegaram a viver em mais de 50 tribos distintas de proprietários de terras — não formando apenas um único grupo unificado — que viviam da caça, pesca e coleta.
Os membros dessas várias bandas interagiam livremente uns com os outros, sendo que o povo Ohlone praticava a religião Kuksu, típica da região. Antes da Febre do Ouro, a região norte da Califórnia era uma das mais densamente povoadas ao norte do México, aponta Malcom Margolin em The Ohlone Way.
Entretanto, a chegada dos colonizadores espanhóis, em 1769, mudou a região para sempre. Os espanhóis construíram missões religiosas ao longo da costa da Califórnia, com o objetivo de cristianizar o povo e a cultura nativa.
Entre 1769 e 1834, a população de californianos indígenas caiu de 300.000 para 250.000. Após a Califórnia entrar para a União, em 1850, o governo do estado perpetrou massacres contra o povo Ohlone. Muitos dos líderes desses massacres foram recompensados com cargos no governo estadual e federal, aponta Jessica Wolf em artigo publicado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Em 1925, o antropólogo Alfred Kroeber declarou, erroneamente, a extinção da população Muwekma Ohlone. Mas a situação pode estar prestes a mudar, visto que alguns descendentes do grupo permanecem vivos até hoje.
Recentemente, um artigo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) comprovou a existência de descendentes dos Muwekma Ohlone em indivíduos modernos. Para isso, foi feito um estudo genético em restos mortais enterrados há mais de 1,9 mil anos.
Desta forma, foi comprovado geneticamente que a população nativa viveu na região por mais tempo do que muitos estudiosos estimam, conforme repercutido por matéria da Galileu. O projeto teve a participação de pesquisadores do Far Western Anthropological Research Group, em colaboração com pesquisadores da Universidade de Illinois Urbana-Champaign e da Universidade de Stanford; além do próprio grupo indígena.
Para isso, dois assentamentos de mais 2,5 mil anos foram analisados. Esses espaços pertencem a uma instalação educacional do Templo da Água, em Sunol. O primeiro espaço é chamado Síi Túupentak (nome indígena que significa “Lugar do Sítio da Casa Redonda da Água"). O sítio é datado entre 1345 a 1850 d.C. Por lá foram encontrados os restos mortais de 76 pessoas enterradas.
O segundo ponto é o Rummey Ta Kuččuwiš Tiprectak (“Lugar do Córrego da Lagoa”), que remonta aos anos 490 a 1775 d.C., onde 29 indivíduos foram localizados.
Uma análise foi feita entre 8 restos mortais encontrados em Síi Túupentak e quatro do sítio Rummey Ta Kučuwiš Tiprectak. Esse material genético foi comparado com a de 8 indivíduos modernos.
O indivíduo mais antigo que incluímos na análise genômica foi datado do século 1 d.C. e o mais recente do século 18”, explica a principal autora do estudo, a estudante Alissa Severson, em comunicado.
Noah Rosenberg, coautor do estudo, aponta que a comparação genética identificou um componente de ancestralidade em comum entre os materiais colhidos nos dois sítios, sendo que um deles é muito mais antigo que o outro. A mesma relação foi encontrada no Muwekma Ohlone moderno.
“O componente também existe em outras pessoas atuais, mas está em uma proporção muito maior na Muwekma Ohlone do que, digamos, nas populações do México ou do sudoeste dos Estados Unidos”, aponta.
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Assim a equipe comprovou a ligação genética entre os grupos antigos e os Muwekma Ohlone da atualidade, que lutam pelo reconhecimento de sua tribo. “Embora deixados como uma tribo sem terra, os Muwekma Ohlone nunca abandonaram suas relações tribais ou deixaram sua terra natal na área da Baía de São Francisco”, completa o coautor do estudo Alan Leventhal.