Criada pela pernambucana Juliana Notari, a obra gerou diversas polêmicas, já que abre portas para diversas interpretações
Em diversos momentos da história nacional e internacional, a arte teve como principal objetivo questionar padrões e estruturas em vigência. A própria Semana da Arte Moderna de 1922 gerou um enorme desconforto na sociedade da época.
Quando falamos de arte, no entanto, é comum encontrar aqueles que julguem caso determinadas peças sejam, de fato, artísticas. Fountain, o famoso urinol de Marcel Duchamp, por exemplo, é uma das intervenções mais famosas nesse sentido.
Com mais de 100 anos separando uma obra da outra, é a artista pernambucana Juliana Notari que sofre com atuais ataques contra sua mais nova criação. Trata-se de ‘Diva’, uma enorme escultura em meio à Zona da Mata Sul de Pernambuco.
O nascimento de uma diva
Tudo começou há 11 meses, quando Juliana, que já se envolveu em algumas outras polêmicas artísticas no passado, quis subverter significados mais uma vez. Com uma ideologia bastante clara nas redes sociais, ela, agora, queria falar sobre o feminino.
Tendo em mente as comparações e paralelos entre nossa atual sociedade, a construção do gênero feminino e o conceito do feminismo, a artista criou ‘Diva’. Instalada no parque artístico botânico Usina de Arte, em Água Preta, a escultura é, no mínimo, inusitada.
"Em meio a tantas rochas no meio do caminho desse ano distópico, finalmente termino o ano com a obra 'Diva' pronta”, narrou Juliana. Em suas redes sociais, a artista explicou sua criação e comentou sobre o processo, em post feito no dia 30 de dezembro de 2020.
As profundezas de uma obra
De longe, a escultura pronta pode ter, segundo sua idealizadora, duas interpretações. A primeira — e mais óbvia — é a representação de uma vulva, a parte externa dos órgãos genitais femininos. As cores da obra, no entanto, ainda trazem uma segunda narrativa.
Em tons avermelhados, ‘Diva’, sob algumas lentes, também pode tratar-se de uma ferida aberta. "Se fosse só a vulva, eu teria feito os grandes lábios, o clitóris", explicou Juliana,em entrevista à Folha. Portanto, a escultura "é uma ferida também".
No total, após meses de escavação, a obra composta por concreto armado e resina tem 33 m de altura, 16 m de largura e 6 m de profundidade. Vibrante, ela foi escavada por uma equipe de "40 mãos", segundo Juliana, na área de uma antiga usina de açúcar.
Críticas à quem critica
Em suas postagens, Juliana deixou claro que ‘Diva’ é uma obra feita para "dialogar com questões que remetem a problematização de gênero, a partir de uma perspectiva feminina". Tal discussão ainda trata de "uma cosmovisão que questiona a relação entre natureza e cultura na nossa sociedade ocidental falocêntrica e antropocêntrica".
Para muitos internautas, no entanto, a obra abre portas para diversas críticas e, assim, gerou grandes polêmicas. Enquanto alguns seguidores de Juliana afirmam que ‘Diva’ é relevante e "esplêndida", outros questionam as escolhas da pernambucana.
No Twitter, uma das plataformas onde a discussão mais engajou comentários, os usuários caracterizaram a escultura como transfóbica e genitalista. No geral, para muitos, não é assim que se pensa a questão de gênero no país.
Questão de raça
Muito além das discussões sobre gênero e machismo, entretanto, a própria construção de ‘Diva’ também foi criticada pelos internautas. Isso porque, durante a criação da obra, Juliana, que é uma mulher branca, postou uma foto com os homens negros que estavam escavando o terreno para que ele tomasse o formato necessário.
Nesse sentido, a posição de "mulher branca rica" de Juliana, em contraposto com "a mão de obra de homens negros”, foi questionada, como pontuou um usuário no Twitter. Para a artista, essa foi “a questão mais delicada apontada pelo público” — a obra, inclusive, foi escavada apenas por mão de obra masculina, outro ponto levantado pelos internautas.
"Eu e a equipe estávamos em harmonia, mas quando você vê a imagem, ela mostra a diferença de classes, a racialização. Tirei a foto e na minha branquitude reafirmei um processo típico do contexto brasileiro", reforçou. "Eu poderia ter tido mais cuidado."
Com os ataques, elogios, críticas e questionamentos, Juliana não demorou para perceber que sua obra havia viralizado nas redes sociais. Para ela, no entanto, o mais importante é que "as pessoas estão falando da relação social, de gênero, de natureza, de ambiente" ao discutirem ‘Diva’ e seus contextos. E, no final das contas, é para isso que serve a arte.
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