Soldado foi vítima de uma explosão causada por um carro-bomba lançado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)
Na madrugada de 26 de junho de 1968, o soldado Mário Kozel Filho foi morto após ser atingido por uma explosão causada por uma caminhonete. O ataque foi uma resposta do grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), no auge da Ditadura Militar brasileira.
Pelo ato, dez guerrilheiros foram presos e dois acabaram mortos pelos militares. Entretanto, mais de 50 anos após o episódio, o nome de uma pessoa ainda é falsamente ligado ao evento: o da ex-presidente Dilma Rousseff.
Era madrugada quando uma grande explosão foi ouvida no bairro do Ibirapuera, em São Paulo. Naquele 26 de junho de 1968, uma caminhonete havia explodido no Quartel General do II Exército. O veículo transportava 20 quilos de dinamite. Tratava-se de um ato terrorista.
Conforme aponta matéria publicada pela equipe do site do Aventuras na História, o ato foi encabeçado por membros da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização militante de esquerda que lutava contra a Ditadura Militar.
Na ocasião, apenas um militante dirigiu o veículo. Quando a caminhonete se aproximou do quartel, o motorista pulou e o carro seguiu em movimento — o responsável pelo ato acabou sendo resgatado por cúmplices que o esperavam em outro automóvel.
Antes do carro chegar ao seu destino, conforme relatos do próprio Exército e de jornais da época, segundo informado em artigo da agência Lupa, um sentinela chegou a disparar contra o veículo.
Metros à frente, a caminhonete parou ao bater em um poste. Neste momento, Kozel Filho se aproximou do carro-bomba, que explodiu em questão de segundos. Trinta anos depois, a ex-integrante do VPR, Renata Ferraz, revelou os motivos do atentado que matou o soldado e feriu outros seis militares.
Conforme aponta matéria do Aventuras, Renata disse que, dias antes da ação, o grupo tinha roubado armas de um hospital militar, o que levou o comandante do II Exército, general Manoel Rodrigues Carvalho de Lisboa, a desafiar os guerrilheiros a entrar nos quartéis dele. Aceitando a provocação, o grupo lançou um carro-bomba no quartel. Ferraz relatou que os integrantes se penitenciaram por aceitarem a provocação do general.
Em maio de 2021, segundo relatado pela Agência Lupa, uma publicação voltou a circular nas redes sociais. Nela, há a acusação de que a ex-presidente Dilma Rousseff teria participado do ato que culminou com a morte de Mário Kozel Filho.
“Dá série: ‘Coisas que você nunca aprendeu nos livros de História do MEC.’ Hoje faz 52 anos que a ex-presidente Dilma Rousseff matou o soldado Mário Kozel Filho, jogando uma granada no portão do Quartel General do Exército. Sim, tivemos uma terrorista assassina como presidente!”, dizia a publicação.
Porém, é fato que Dilma nunca esteve ligada ao ato. O primeiro ponto que desmente o episódio ‘nunca citado nos livros de História do MEC’ é que o atentado aconteceu em junho de 1968.
Rousseff, entretanto, na época, era ligada ao Comando de Libertação Nacional (Colina), conforme aponta sua biografia, que é documentada pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Colina só passou a agir junto à Vanguarda em 1969, ou seja, pós-atentado que vitimou Kozel Filho.
Além disso, nem mesmo obras ligadas ao militares apontam a participação de Rousseff no ato. Em ‘As Tëntativas de Tomada do Poder’ — dos militares Agnaldo del Nero, José Conegundes do Nascimento e Lício Maciel —, por exemplo, o nome de Dilma não é citado entre aqueles que planejaram ou executaram o ataque, segundo reforça a Lupa.
No dia 16 de janeiro de 1970, a ex-presidente Dilma Rousseff foi presa por militares. O motivo, entretanto, conforme recorda o Aventuras, se deu depois que os militares interceptaram bilhetes que seriam enviados por Ângelo Pezzuti — uma das lideranças do grupo que Rousseff participava — e que tinham ela como destinatário. Porém, Dilma jamais recebeu as mensagens.
"Eu comecei a ser procurada em Minas nos dias seguintes à prisão de Ângelo Pezzuti. Eu morava no Edifício Solar, com meu marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, e numa noite, no fim de dezembro de 1968, o apartamento foi cercado e conseguimos fugir, na madrugada. O porteiro disse aos policiais do Dops de Minas que não estávamos em casa. Fugimos pela garagem que dá para a rua do fundo, a Rua Goiás”, relatou, posteriormente, a ex-presidente.
Pouco depois de ser presa, Dilma Rousseff acabou sendo transferida para uma prisão em São Paulo. De acordo com seus relatos, ela ficou detida por 22 dias seguidos na capital paulista, onde sobre os mais diversos tipso de tortura.
Fui interrogada dentro da Operação Bandeirantes (Oban) por policiais mineiros que interrogavam sobre processo na auditoria de Juiz de Fora e estavam muito interessados em saber meus contatos com Ângelo Pezzuti, que, segundo eles, já preso, mantinha comigo um conjunto de contatos para que eu viabilizasse sua fuga”, diz.
A ex-presidente, porém, negou que isso tenha acontecido, visto que ela havia deixado Belo Horizonte no começo de 1969 e sua prisão se deu cerca de um ano depois.
“Desconhecia as tentativas de fuga de Pezzuti, mas eles supuseram que se tratava de uma mentira. Talvez uma das coisas mais difíceis de você ser no interrogatório é inocente. Você não sabe nem do que se trata.”
Deste período, Rousseff contou detalhes da tortura que sofreu. “Não se distinguia se era dia ou noite. O interrogatório começava. Geralmente, o básico era choque”, comentou.
“Muitas vezes também usava palmatória; usava em mim muita palmatória. Em São Paulo usaram pouco esse ‘método’. No fim, quando estava para ir embora, começou uma rotina. No início, não tinha hora. Era de dia e de noite. Emagreci muito, pois não me alimentava direito”.