O tráfico de escravizados foi um dos mais atrozes e duradouros movimentos de subjugamento de povos da história da humanidade
Os navios negreiros eram embarcações que marcaram uma mancha atroz na História da Idade Moderna, causando tortura e humilhação milhões de pessoas sequestradas de seu continente em nome do lucro pessoal e da construção principalmente de colônias à base do trabalho compulsório. Objeto central da transformação da escravidão numa indústria comandada pela Europa mudou para sempre as relações entre os povos ao redor do mundo.
Conheça alguns fatos assustadores sobre esses barcos da morte.
1. Prolegômenos estatísticos
Segundo o The Trans-Atlantic Slave Trade Database, iniciativa de banco de dados catalográfico sobre o tráfico atlântico na modernidade, o Reino Unido,Portugal e Brasil foram agentes centrais no comércio do tráfico negreiro. Ao contrário dos EUA, onde os escravos eram assistidos à reprodução para um fornecimento sustentável de mão de obra, a renovação de populações pelo tráfico no Brasil era central, economicamente.
Os dados, obtidos a partir de anotações de entrada e saída de escravos, indicam que cerca de 20 milhões de explorados foram retirados da África, sendo que 10% morreram nos navios. Dos 90 portos africanos operantes para os luso-brasileiros, 9,2 mil viagens à colônia foram feitas (de 11, totais nos três séculos mais centrais).
2. Protegidos por seguradoras
A maioria dessas embarcações era protegida por apólices e financiamentos de seguradoras europeias que favoreciam esse negócio arriscado. Tratando-se de uma mercadoria que, na verdade, é uma vida (suscetível à morte) e considerada de grande valor, esses seguros também foram a origem de grandes tragédias.
Isso porque em algumas situações a vigem enfrentou obstáculos dispendiosos. Era mais lucrativo para o traficante, mesmo diante de um item valioso, a morte dos escravos, com o ressarcimento do seguro de vida, do que completar a viagem.
Isso levou muitos capitães a assassinarem escravos em nome do lucro. Um dos casos mais famosos ocorreu em 1781, no navio do capitão britânico Luke Collingwood, que matou um terço da "carga".
3. Operavam ilegalmente com apoio do governo brasileiro
No século 19, as pressões do capitalismo e moralidade protestante levaram a Inglaterra a iniciar uma campanha contra o tráfico negreiro, obrigando a maioria dos países mais fracos a aderirem a essa lógica. O Bill Aberdeen, em 1845, e a Lei Eusébio de Queiroz, em 1850, aboliram oficialmente o tráfico no Brasil, todavia, o comércio continuou ganhando força.
Os navios brasileiros aportavam clandestinamente no Brasil, sem maiores dificuldades, sendo teoricamente monitorados e "punidos" pela Marinha. A complacência do país para com a atividade internacionalmente ilegal fez com que muitos historiadores considerassem o Império como um Estado-pirata, que colaborava para que os barcos desviassem da fiscalização britânica. Como os navios estadunidenses não permitiam vistorias, vários navios carregavam uma bandeira dos EUA.
4. Vida miserável
Os navios negreiros tinham três patamares nos porções, com cerca de meio a um metro de altura, onde a maioria dos escravos era aprisionada (apenas as crianças podiam circular nos convés). Eles eram presos pelos pés ao lado de mais de 500 pessoas. Quando poderiam ir ao lado de fora para realizar exercícios e tomar sol, eles eram obrigados a dançar e cantar para a diversão da tripulação, dando origem a uma cena de melancolia e dor disfarçada.
A depressão (conhecida como banzo) e a raiva predominavam entre os subjugados. Isso fez com que muitos escravizados organizassem revoltas e motins contra o capitão, tentando tomar o navio. A mais famosa delas ocorreu no navio anglófilo Amistad, em 1839, mas existem inúmeros casos. Em alguns deles, quando derrotados, ordenava-se a execução de todos, cujos corpos eram lançados no mar.
5. Ultima sobrevivente
Em 2020, foi identificada pela historiadora Hannah Durkin, da Universidade de Newcastle aquela que é considerada a última sobrevivente do tráfico negreiro conhecida, pelo menos nos EUA, trata-se da beninense Matilda McCrear. Sequestrada aos dois anos de idade e levada ao Alabama no navio Clotilda em 1860, ela viveu até os anos 1940.
Trabalhando ainda criança numa fazenda até a abolição de fato no país, em 1865, ela continuou na zona rural boa parte da vida. Descrevendo a experiência nos navios e na lástima escravista para os netos, ela influenciou os descendentes a lutarem por respeito, sendo que eles integraram as linhas de frente dos Movimentos pelos Direitos Civis.
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