Construções alienígenas ainda hoje adornam os Bálcãs. E elas existem por causa de um racha no comunismo internacional
A instalação de um regime marxista costumava ser uma má notícia para os artistas. Desde os tempos de Stalin, o realismo socialista era imposto pelo Estado. Um estilo que devia ser simples e, como o nome indica, realista, de forma que pudesse ser compreendido por qualquer proletário do mundo.
Na União Soviética, isso limitaria seriamente as opções artísticas até o fim do regime. Mas nem todo país comunista era a União Soviética: a Iugoslávia rompeu com o Kremlin em 1948. Seu líder, Josip Broz Tito, era amigável ao Ocidente e vivia sob ameaça de assassinato pelos soviéticos.
Em plena Guerra Fria, Tito foi agraciado com medalhas da França, o Reino Unido e até o Brasil, que honravam seu status como um herói de guerra, líder dos partisans, o grupo de resistência antinazista mais bem-sucedido.
Entre 1950 e 1970, Tito mandou erguer enormes construções, conhecidas como spomenik (monumentos, em sérvio-croata). Projetados por escultores e arquitetos iugoslavos, como Dušan Džamonj, Vojin Bakić e Bogdan Bogdanović, elas foram erguidas para homenagear os locais que abrigaram campos de concentração ou onde aconteceram importantes batalhas da Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, são símbolo de força, poder, resistência e sofrimento.
As construções gigantescas, com características futuristas e formas inovadoras, estão definitivamente fora do realismo socialista – parecem até fazer parte de outro planeta:
Monumento à Revolução - Podgaric, Croácia, 1967
Criado em 1967 pelo escultor modernista Duzan Dzamonja, celebra uma rebelião contra o domínio fascista iniciado em 1941, a qual contou com o apoio da população local. O evento marcaria o começo da luta dos partisans na Croácia, e ainda hoje é um feriado nacional.
Makedonium - Kruševo, Macedonia, 1974
Um raro exemplo que não se refere à Segunda Guerra. O formato remete a uma maça, a arma medieval. Dentro estão os restos do líder Nikola Karev, que conduziu a Revolta de Ilinden, um levante de 1903 contra o Império Otomano, que dominava a Macedônia havia séculos.
Memorial Šušnjar - Sanski Most, Bósnia e Herzegovina, 1970
Com 15 metros de altura, foi construído em homenagem às vítimas da ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial e da Revolta de Sanski Most, quando a população local se revoltou contra o Ustashe.
Monumento aos partisans - Monte Kosmaj, Sérvia, 1970
A estrela no topo da montanha celebra a criação de uma das primeiras unidades de partisans, que aconteceu no local, 40 quilômetros ao sul da capital Belgrado, em junho de 1941.
Flor de Concreto - Jasenovac, Croácia, 1966
Homenageia as 800 mil pessoas que morreram no campo de concentração que havia na cidade, operado pelas forças do Estado Independente da Croácia e do Ustashe.
Monumento aos 32 patriotas - Niksic, Montenegro, 1976
Pode parecer uma celebração da capacidade industrial do regime, mas é uma lembrança de um grupo de rebeldes mortos na colina Trebjesa, em 1942. Niksic, a segunda maior cidade de Montenegro, tem outro monumenot, inompleto.
Monumento à Revolução - Monte Kozara, Bósnia, 1972
O monumento é dedicado aos partisans e civis que morreram na Batalha de Kozara, em 1942. Erguido em 1972, na cidade de Kozara, Bósnia e Herzegovina, o memorial tem 33 metros de altura e traz o nome de mais de 9 mil soldados mortos.
Parque Memorial Bubanj - Nis, Sérvia,1963
Os três punhos representam as mãos dos homens, mulheres e crianças que resistiram às atrocidades nazistas na cidade. Entre 10 mil e 12 mil cidadãos de Nis foram exterminados durante a Segunda Guerra. O escultor, Ivan Sabolic, foi um dos primeiros a abandonar o realismo soviético.
Monumento aos Mineiros - Mitrovica, Kosovo, 1973
É um carrinho de mineração sobre duas colunas, que causam uma perspectiva bizarra e falsa. Muitos mineiros – a especialidade da região – se juntaram à resistência e morreram na Segunda Guerra.
Casa-monumento do Partido Comunista da Bulgária - Buzludzha, Bulgária, 1981
Único nesta lista a não ser criado pela Iugoslávia, foi uma espécie de resposta dos vizinhos, que eram próximos aos soviéticos e não se entendiam muito bem com os iugoslavos. O “disco voador” foi criado no pico Buzludzha, onde o PC da Bulgária havia sido fundado.
Os spomeniks foram esquecidos e perderam seu significado após a queda do regime socialista, em 1992, e a desintegração da Iugoslávia, em 2003. Mas continuam em pé, com toda a sua imponência, e são considerados um dos grandes tesouros do regime comunista.