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Matérias / Brasil

Defesa do interesse coletivo: A carta deixada por Bruno Covas antes de sua morte

A última mensagem do político foi lida para os membros de seu partido na última sexta-feira, 14

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 17/05/2021, às 14h29

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Fotografia de Bruno Covas já debilitado por conta do câncer - Divulgação / Instagram/ Arquivo Pessoal
Fotografia de Bruno Covas já debilitado por conta do câncer - Divulgação / Instagram/ Arquivo Pessoal

No último domingo, 16, a cidade de São Paulo perdeu seu prefeito, o político e economista Bruno Covas (PSDB) para o câncerque, embora tenha surgido em 2019, havia passado por novas complicações em 2021, e além de atingir seu sistema digestivo, passava por metástase em seus ossos e fígado.  

Dois dias antes de falecer, Bruno, já tendo consciência que seu fim estava próximo, escreveu uma mensagem final para seus parceiros de partido. Nela, abordou a gravidade da situação em que o Brasil se encontra, relembrou os objetivos dos fundadores do PSDB e por fim deu as boas vindas a Rodrigo Garcia, político que havia abandonado naquela mesma sexta-feira, 14, o Democratas, partido onde esteve nos últimos 27 anos, para juntar-se ao PSDB. 

A carta do prefeito, inclusive, foi lida no evento de filiação de Rodrigo. Àquela altura, de acordo com o que foi repercutido pelo G1, Covas já havia sido sedado, de forma que estavam todos conscientes que essas seriam as últimas palavras que ouviriam do político. 

O cargo de prefeito da cidade de São Paulo, vale comentar, será assumido pelo vice Ricardo Nunes.

Fotografia de Bruno Covas em 2017, antes da doença / Crédito: Getty Images 

A carta final 

“A pandemia da Covid-19 tem cobrado um preço caro dos brasileiros e vamos caminhando para contabilizar 430 mil mortos. Uma tragédia sem precedentes que já deixa e vai deixar muitas marcas na nossa história. As consequências são catastróficas: vidas interrompidas, famílias em sofrimento, negócios em dificuldade, desemprego, pobreza e, lamentavelmente, a fome”, lamentou Bruno em sua mensagem, após agradecer ao carinho que todos haviam enviado para ele. 

Além de apontar os problemas do nosso período atual, todavia, o político também apontou para uma solução: “Faço esse preâmbulo pois é exatamente sobre o que se trata o dia de hoje: política. A solução para nossos problemas só será enfrentada pela via da política, pela via democrática, pela seriedade com que os governos trabalham e realizam políticas públicas”, escreveu, ainda segundo repercutido pelo G1. 

O economista destacou que os tucanos e tucanas podiam ficar orgulhosos das ações do partido em meio à crise, citando, por exemplo, o desenvolvimento de vacinas pelo Instituto Butantan e a expansão da infraestrutura hospitalar. “O fortalecimento do SUS em nosso estado é uma realidade”, concluiu Covas ainda. 

Fotografia de Bruno Covas segurando mão de filho em sua última estadia no hospital / Crédito: Instagram/ Arquivo Pessoal

Com os elogios em relação à atuação de seu partido, Bruno criticou as atitudes do governo federal, dizendo que ele vinha “desdenhando da vida e da saúde dos brasileiros ao longo da pandemia”. O político disse que o PSDB tinha “demonstrado na prática” sua “responsabilidade pública” e vocação em “fazer um trabalho técnico e baseado em evidências e na ciência”, entre outros aspectos. 

Por fim, Covas retomou ideais e também objetivos iniciais do grupo para receber o mais novo membro: 

“O momento do Brasil demanda de todos nós espírito público, unidade, agregação, somar e não dividir, não deixar nenhum interesse pessoal sobrepujar o interesse coletivo. Receber em nossos quadros o vice-governador Rodrigo Garcia sinaliza exatamente isso. (...) No sonho de nossos fundadores, o Partido da Social-Democracia Brasileira, seria o partido capaz de juntar as forças democráticas ponderadas da república na luta pelo bem comum”, defendeu ele. 

Para concluir sua carta, o então prefeito exaltou o currículo político de Garcia, apontando que o ex-membro do Democratas era um liberal progressista com experiência na defesa do interesse público e portanto iria contribuir para o fortalecimento do PSDB.

A carta, divulgada inicialmente pela jornalista Natuza Nery, pode ser conferida na íntegra abaixo.

"São Paulo, 14 de maio de 2021

Minhas companheiras e meus companheiros,

Espero que estejam bem e protegidos.

Gostaria de em primeiro lugar agradecer a todo carinho, a todas as orações e energia positiva que vocês têm me enviado. Lamento não conseguir responder a tantas mensagens, sintam-se todos abraçados. O apoio e o suporte de vocês têm sido decisivos no meu tratamento. Venho seguindo à risca as orientações da minha equipe médica e, de cabeça erguida, enfrentado os desafios que a vida me impõe. A luta é dura e árdua, mas não esmoreço e sigo em frente.

Esses últimos meses têm sido muito desafiadores para todos nós. A pandemia da Covid-19 tem cobrado um preço caro dos brasileiros e vamos caminhando para contabilizar 430 mil mortos. Uma tragédia sem precedentes que já deixa e vai deixar muitas marcas na nossa história. As consequências são catastróficas: vidas interrompidas, famílias em sofrimento, negócios em dificuldade, desemprego, pobreza e, lamentavelmente, a fome. Faço esse preambulo pois é exatamente sobre o que se trata o dia de hoje: política. A solução para nossos problemas só será enfrentada pela via da política, pela via democrática, pela seriedade com que os governos trabalham e realizam políticas públicas.

Tucanas e tucanos podem se orgulhar de todo o esforço que nossos governos, no estado de São Paulo e nos municípios, incluindo a nossa Capital, têm feito para enfrentar a pandemia. Das vacinas em produção e desenvolvimento pelo Instituto Butantan, à expansão vertiginosa da infraestrutura hospitalar, o fortalecimento do SUS em nosso estado é uma realidade.

Em contraposição ao governo federal, que vem desdenhando da vida e da saúde dos brasileiros ao longo da pandemia, o PSDB de São Paulo e seus aliados vêm demonstrando na prática aquilo que é sua vocação: responsabilidade pública, colocar a população, sobretudo a mais pobre, em primeiro lugar, cuidar de gente, fazer um trabalho técnico e baseado em evidências e na ciência, tomar atitudes difíceis e enfrentar as adversidades sempre com respeito, dignidade e defendendo a democracia.

Somos um partido forte, sólido, com muitos serviços prestados ao nosso país e ao nosso estado. Somos um partido de quadros competentes e que colocam o compromisso público em primeiro lugar. É nesse contexto que quero ressaltar a importância dessa cerimônia de hoje. O momento do Brasil demanda de todos nós espírito público, unidade, agregação, somar e não dividir, não deixar nenhum interesse pessoal sobrepujar o interesse coletivo. Receber em nossos quadros o vice-governador Rodrigo Garcia sinaliza exatamente isso. Ele tem sido incansável na defesa do interesse público. Tenho por ele muito apreço e consideração. Foi decisivo na nossa vitória na eleição passada aqui na Capital e tem sido aliado histórico dos tucanos. Foi aliado do meu avô, foi aliado de Geraldo Alckmin, foi aliado de Serra, ê meu parceiro e aliado, é aliado do Governador Joao Doria, sempre esteve do nosso lado, nada mais natural do que se juntar a nós nessa caminhada.

Vejo nesse ato um resgate da história do nosso partido, inclusive para além das razoes que já mencionei, vejo um resgate do nosso manifesto de fundação. No sonho de nossos fundadores, o Partido da Social-Democracia Brasileira, seria o partido capaz de juntar as forças democráticas ponderadas da república na luta pelo bem comum. Rodrigo é um liberal progressista, um parlamentarista, está afinado com nossos valores e ideais. Sua trajetória e sua experiência político administrativa vem contribuir em muito para que nosso partido possa se fortalecer ainda mais e continue a promover as mudanças que a população precisa no estado de São Paulo.

Seja bem-vindo Rodrigo Garcia, seja bem-vindo ao ninho tucano, seja bem-vindo a Social-Democracia Brasileira.

Muito Obrigado!

Bruno Covas"