Conhecido pelo mistério presente em suas obras, a morte de Edgar Allan Poe, representado em 'O Pálido do Olho Azul', ainda é um episódio controverso
Entre as muitas realizações literárias de sua carreira, Edgar Allan Poe também é creditado pela criação do gênero de ficção criminal através de sua obra O Assassinato da Rua Morgue, publicado em 1841. A partir daí, Poe abriu caminho para grandes detetives da literatura, que vão desde Sherlock Holmes até Hercule Poirot.
O nome do ilustre escritor voltou a circular com a estreia do filme 'O Pálido de Olho Azul', um filme misterioso da Netflix que se tornou um dos mais assistidos da plataforma de streaming. Totalmente fictício, mostra a história de um detetive aposentado que procura um cadete ao investigar o crime. O nome do rapaz surpreende: Edgar Allan Poe.
No entanto, o maior mistério de sua intensa trajetória transcendeu a literatura e chegou à vida real. É apropriado dizer que a morte do autor continua sendo um dos grandes enigmas não resolvidos da literatura americana.
Em junho de 1849, Poe embarcou em uma turnê de palestras com o objetivo de arrecadar fundos para uma revista literária que esperava publicar. Em 27 de setembro, ele deveria embarcar em uma balsa de Richmond para Baltimore e depois seguiria até Nova York. Poe chegou a Baltimore no dia seguinte, mas sua viagem para Nova York nunca aconteceu.
Relatos da época indicam que ele foi encontrado jogado na sarjeta em frente ao Gunner’s Hall, no dia 3 de setembro daquele ano. O escritor estava semiconsciente e incapaz de se mover, como se estivesse altamente alcoolizado.
Um ponto que chamou a atenção foi o fato dele não estar vestido com seu habitual terno de lã preta, mas sim com roupas surradas que pareciam não pertencer a ele, devido estarem muito largas e gastas.
Levado a um hospital, jamais retomou seu estado de plena consciência e, por isso, foi incapaz de explicar o que aconteceu nos dias precedentes. A morte de Edgar Allan Poe parece ser arrancada diretamente das páginas de uma de suas próprias obras.
Apesar de o seu atestado de óbito listar a causa da morte como inchaço do cérebro, circunstâncias misteriosas em torno de sua morte levaram muitos a especular sobre a verdadeira razão do seu perecimento.
Confira as principais teorias levantadas em torno da morte do escritor.
Em 1867, uma das primeiras teorias foi publicada pela biógrafa Elizabeth Oakes Smith, em seu artigo “Notas Autobiográficas: Edgar Allan Poe”. Segundo a publicação: “Uma mulher insinuou ter sido agredida por ele, que foi cruelmente espancado golpe após golpe por um rufião que não conhecia melhor maneira de vingar a suposta agressão”. Outros relatos dão conta de que alguns homens o abordaram sem nenhum motivo aparente, Poe teria sido roubado e espancado logo em sequência.
Outros acreditam que ele foi vítima de uma prática conhecida como cooping - um método de fraude eleitoral praticado por gangues no século 19 em que uma vítima seria sequestrada, disfarçada e forçada a votar em um candidato específico várias vezes sob diversas identidades.
A prática era recorrente em Baltimore nesse período, além disso, o Gunner’s Hall serviu de local de votação. Outro fato que embasa essa versão é de que os eleitores recebiam uma dose alcoólica como uma espécie de recompensa, e por ter votado várias vezes, Poe ficou em estado de coma.
Em 1999, o pesquisador de saúde pública Albert Donnay, argumentou que a morte de Poe foi resultado do envenenamento por monóxido de carbono vindo do gás de carvão que era usado para iluminação interna durante o século 19.
Para isso, Donnay pegou pedaços do cabelo de Poe e os testou em busca de certos metais pesados que seriam capazes de revelar a presença do gás, no entanto, os resultados foram inconclusivos.
Apesar do teste de Donnay não sustentar sua teoria, o teste revelou níveis elevados de mercúrio no sistema sanguíneo de Poe. Os índices provavelmente foram elevados como resultado de uma epidemia de cólera a que ele foi exposto em julho de 1849, enquanto estava na Filadélfia.
Seu médico teria receitado um remédio a base de cloreto de mercúrio, o que poderia explicar algumas das alucinações e delírios de Poe. Mas, mesmo apesar do composto em excesso, ele ainda estava 30 vezes abaixo do nível necessário para envenenar uma pessoa.
Várias doenças foram propostas como possíveis causas da morte de Poe. Uma das possibilidades mais intrigantes é a sugerida pelo doutor Michael Benitez. Ele participava de uma conferência patológica na quais médicos recebiam casos de pacientes reais com nomes fictícios. Ao analisar o quadro o paciente EP (que era Edgar Allan Poe) ele constatou que os sintomas de letargia e confusão eram claros.
O delírio de Poe parecia melhorar e piorar com tempo, um padrão parecido com pacientes que possuem raiva em um estágio avançado. Além disso, os registros hospitalares indicam que ele tinha dificuldade em beber água, o que poderia ser uma manifestação de um dos sintomas característicos da doença: o medo de água. Vale ressaltar que a enfermidade era bastante comum nos século 19.
Uma das teorias mais recentes veio à tona quando o corpo de Poe foi desenterrado e seus restos mortais foram transferidos para um novo local de honra. Pouco restava do cadáver, mas o que chamou a atenção foi uma estranha massa rolando dentro de seu crânio.
Apesar do cérebro ser uma das primeiras partes do corpo que apodrece após a morte, Matthew Pearl ,um autor americano, ficou intrigado com a informação e, segundo a informação que lhe foi passada por um patologista forense, a massa poderia ser um tumor cerebral que se calcificou após a morte.
Em um livro publicado em 2000, intitulado Midnight Dreary: The Mysterious Death of Edgar Allan Poe, o autor John Evangelist Walsh apresenta a teoria de que Poe foi assassinado pelos irmãos de sua noiva, Elmira Shelton. Usando evidências de jornais, cartas e memórias, ele argumenta que ao chegar à Filadélfia, Poe foi emboscado e intimado pelos três irmãos de Shelton.
Assustado com o ato, ele passou a se disfarçar, mas, ao tentar retornar para Baltimore, ele foi abordado novamente. Espancado, ele foi forçado a beber uísque, que eles sabiam que poderia ser prejudicial à saúde de Poe.