A princípio, a produção infantil e o ataque terrorista não parecem ter nada em comum, mas nem sempre foi assim
Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 09/03/2022, às 11h27 - Atualizado em 11/09/2022, às 12h00
Os atentados terroristas que causaram a queda das Torres Gêmeas no dia 11 de setembro de 2001 marcaram os Estados Unidos de inúmeras formas, deixando uma verdadeira marca e na sociedade e na cultura norte-americanas.
Uma das características do evento trágico, que tirou a vida de um total aproximado de 3 mil pessoas, é que ele foi amplamente televisionado. O momento do impacto dos aviões contra os prédios, em particular, foi repetido inúmeras vezes e através de diversos ângulos, o que contribuiu para que as imagens traumatizantes ficassem gravadas na memória dos estadunidenses.
Assim, é possível entender por que, naquele mês de setembro de 2001, a Disney decidiu alterar uma sequência da animação infantil "Lilo e Stitch", ainda que a produção já estivesse em sua reta final. O episódio foi relembrado por uma matéria de 2017 da revista Vox.
O filme sobre a garotinha do Havaí que faz uma amizade improvável com um alienígena acabou sendo lançado em junho de 2002, sendo um sucesso instantâneo entre o público.
Quem assistiu a versão final, porém, não teria nem como imaginar o que foi mudado a fim de evitar trazer à tona o trauma recente do ataque ao World Trade Center.
Perto do final da animação ocorre uma perseguição entre o vilão da história, Cobra Bubbles, e os aliados de Lilo, Zumba e Peakley (outros dois alienígenas) e sua irmã mais velha, Nani.
Tanto o perseguidor quanto os perseguidos pilotam naves espaciais, e a cena de ação inclui diversas manobras arriscadas em meio às montanhas havaianas, durante as quais os mocinhos escapam por pouco de sofrer algum acidente.
Essa não é a sequência original que havia sido planejada: originalmente, a simpática protagonista dirigia um avião comercial.
A paisagem também era bem diferente, consistindo de prédios em vez de uma cadeia de montanhas. Em meio à fuga, Zumba, que está ao volante, atingia uma série de construções,
Em meio ao contexto do 11 de setembro, no entanto, as escolhas da animação se tornaram semelhantes demais aos eventos trágicos da realidade.
Dá para imaginar que os norte-americanos da época não iriam ficam confortáveis em se lembrar dos tristes (e recentes) acontecimentos enquanto tentavam assistir um filme infantil, e foi exatamente isso que a Disney procurou prever.
Confira abaixo um vídeo que mostra uma comparação lado a lado das duas versões da sequência:
Ainda de acordo com a matéria da Vox, esse não foi o único exemplo de filme alterado entre 2001 e 2002 a fim de evitar que o escapismo oferecido por Hollywood fosse manchado por um lembrete da tragédia que foi o ataque ao World Trade Center.
Uma série de outras produções que contavam com imagens das Torres Gêmeas, por exemplo, tiveram as cenas cortadas. Entre esses, estão "Homens de Preto II", "Escrito nas Estrelas", "A Máquina do Tempo", "Homem-Aranha 2" e "Beijando Jessica Stein".
Seriados televisivos também não fugiram das edições, aliás. "Sex and the City", "Os Sopranos" e "Friends" também sofreram alterações, delineando um padrão por parte da indústria do entretenimento norte-americana, que fez tudo que pôde durante a época para evitar incluir referências ao 11 de setembro em sua cultura pop.
Por outro lado, nos anos seguintes, em compensação, uma grande variedade de filmes e documentários se dedicou a recontar o atentado terrorista e como ele afetou a vida dos estadunidenses.