A partir de registros fecais encontrados no fundo de um lago, arqueólogos sugeriram que mudanças climáticas afetaram a civilização, em um artigo publicado em abril
Conhecida pelo impressionante conhecimento em astronomia e pela construção de grandes pirâmides, a civilização maia foi uma das mais fascinantes que já existiram. Habitando a América Central, os maias formaram uma complexa sociedade que decaiu ao longo do tempo, se extinguindo quando os europeus chegaram no continente.
Como toda civilização notável, eles foram — e continuam sendo — investigados a partir de inúmeros estudos realizados há séculos. A partir dessas pesquisas, foi possível determinar muitas informações sobre a população, mas, com sede de conhecimento, as análises nunca param.
Em abril deste ano, pesquisadores da Universidade McGill, no Canadá, publicaram suas conclusões de um novo estudo realizado a partir de um aspecto curioso: registros fecais. O artigo avaliou a dinâmica demográfica das regiões habitadas pelos maias na Mesoamérica e sugeriu que a civilização foi afetada por mudanças climáticas.
Publicada na revista científica Quaternary Science Reviews, a pesquisa retomou a análise do tamanho da população maia a partir de investigações feitas em registros fecais ao observarem estanóis fecais, ou seja, moléculas orgânicas identificadas em vestígios de fezes humanas ou animais.
As fezes usadas no estudo foram encontradas no subsolo de um lago no sítio arqueológico de Itzan, uma região habitada no passado da Guatemala, e foram aplicadas em um método bastante recente na arqueologia. Além dos registros, evidências arqueológicas descobertas também auxiliaram os cientistas nas análises.
Com esses dados, Benjamin Keenan, principal autor do artigo, e seus colegas conseguiram sugerir a variação populacional da civilização maia ao longo dos séculos. Embora historiadores tenham associado mudanças populacionais a períodos de seca, a pesquisa apontou que períodos úmidos também tiveram papel na oscilação do tamanho da população.
“Esta pesquisa deve ajudar os arqueólogos, fornecendo uma nova ferramenta para observar as mudanças que podem não ser vistas em outras evidências arqueológicas, porque estas podem nunca ter existido ou podem ter sido perdidas ou destruídas”. explicou Keenan. Ele aponta ainda que, na região, as planícies “não preservaram muito bem edifícios e outros registros da ocupação humana por causa do ambiente da floresta tropical.”
A análise revelou que a população maia foi reduzida durante períodos de seca, esta provavelmente sendo sua grande causa. A queda foi observada em três períodos, sendo estes entre os anos 90 e 280 d.C., entre 730 e 900 d.C. e entre 1350 e 950 a.C.
A seca, porém, não foi o único indício de diminuição na dinâmica populacional da civilização maia. Um período úmido e chuvoso também modificou a quantidade de pessoas que habitavam a região, de 400 a 210 a.C.
Por meio da pesquisa, foi possível perceber que não apenas os períodos de seca afetam o tamanho da população maia: mudanças climáticas de maneira geral fizeram com que modificações fossem observadas. Os extremos afetaram o povo de maneira brutal, causando sua queda.
Para Peter Douglas, um dos autores do artigo, “é importante para a sociedade em geral saber que houve civilizações antes de nós que foram afetadas e adaptadas às mudanças climáticas".
"Ao relacionar as evidências de mudanças climáticas e populacionais, podemos começar a ver uma ligação clara entre a precipitação e a capacidade dessas cidades antigas de sustentar sua população”, finalizou o pesquisador.