Em 1912, por culpa de um evento trágico, o país passou por uma drástica mudança na agenda de comemorações
O ano de 1912 pode ter sido comum no restante do mundo, apesar do trágico naufrágio do RMS Titanic, por exemplo. Para os brasileiros, no entanto, a data trouxe um acontecimento que ficaria marcado para sempre na história do país.
O fato é que, naquele ano, um evento deixou grande parte da população em choque, o que teria colocado um fim ao Carnaval como conhecemos hoje. Em uma reviravolta, contudo, a tão amada festa foi comemorada não apenas uma, mas duas vezes.
Mesmo parecendo um sonho que se tornou realidade, o ocorrido não foi simplesmente planejado pelo povo, como uma forma de afastar os fantasmas de um luto profundo. A história, na realidade, é um pouco mais complexa que isso.
Um país em luto
Em 10 de fevereiro, num sábado, faltando exatamente uma semana para a esperada festa do Carnaval, os brasileiros receberam uma notícia avassaladora: o herói nacional Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores há quase 10 anos na época, havia morrido de insuficiência renal, aos 66 anos. O Brasil inteiro parou.
No Rio de Janeiro, o caixão do barão foi levado até o Cemitério do Caju onde por todo o caminho foi acompanhado por brasileiros que lamentavam a morte do ministro. Uma filha, inclusive, se formou no Palácio do Itamaraty, para que as pessoas conseguissem ver o cadáver do homem, que foi enterrado com nada mais, nada menos, que uma cerimônia que contou com honrarias de chefe de Estado.
A morte do político abalou tanto a população que várias escolas carnavalescas, principalmente as do Rio de Janeiro, responsáveis por organizar os blocos de rua, as marchinhas e os bailes à fantasia, decidiram cancelar o evento por conta do luto que assolava o país. Sabendo disso, e em solidariedade à morte de Rio Branco, o presidente na época, Hermes da Fonseca, assinou um decreto que remarcava o carnaval para a semana da páscoa, em abril.
Luto relâmpago
No entanto, o brasileiro, como fiel adorador da semana do Carnaval, sentiu-se bem resolvido com seu luto após uma semana do acontecimento. Quando chegou o outro fim de semana, a população se dirigiu às ruas como se a festa nunca tivesse sido cancelada.
Os foliões vestiram fantasias, encheram-se de confetes e purpurinas, assim como também fizeram uso de lança-perfume, que na época ainda era legalizada e comum em diversas comemorações, principalmente no Carnaval.
O presidente decidiu não fazer nada a respeito da decisão dos foliões, por medo de perder o mínimo de apoio público que ainda o restava, assim como também decidiu manter o decreto do "segundo carnaval".
Dessa forma, a festa se seguiu normalmente, a não ser pela falta de presença dos clubes que promoviam os desfiles de samba e marchinhas, sendo então um evento exclusivamente promovido pela força do povo.
Os foliões foram duramente criticados pela mídia, que alegou que estavam sambando sobre o túmulo de Rio Branco, desrespeitando o luto que devia estar ainda vivo no coração da nação. No entanto, isso não foi o suficiente para abalar aquele pequeno carnaval, que aconteceu normalmente.
A festa acabou e, depois de um mês, lá estavam os agitadores nas ruas, novamente se esbanjando de alegria, convocando, após a quaresma, o segundo carnaval do ano. Com fantasias, máscaras, marchinhas e confetes, o evento foi tão animado quando o primeiro.
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