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Matérias / Brasil

Colônia de Barbacena e Juquery: as semelhanças entre os manicômios brasileiros

Em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História, o jornalista Daniel Navarro Sonim explicou as semelhanças entre ambas instituições brasileiras

Victória Gearini | @victoriagearini Publicado em 22/05/2021, às 07h59 - Atualizado em 26/02/2024, às 14h27

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Paciente da Colônia de Barbacena - Divulgação / Luiz Alfredo / Revista O Cruzeiro
Paciente da Colônia de Barbacena - Divulgação / Luiz Alfredo / Revista O Cruzeiro

Ao longo da História, pessoas consideradas “anormais” ou fora dos “padrões” impostos pela sociedade eram internadas em complexos hospitalares. Contudo, muitas dessas instituições não abrigavam somente pessoas com algum tipo de transtorno mental, mas também mães solos, pessoas LGBTQIA+, presos políticos, entre muitos outros. 

Os 'inimigos do Estado' eram vistos como a escória da sociedade e, muitas vezes, eram internados contra a própria vontade. Dentro dos complexos eram vítimas de maus-tratos, torturas e tinham que enfrentar, ainda, superlotações.

No Brasil, um dos casos que mais escandalizou a sociedade foi o Holocausto no Manicômio de Barbacena, localizado em Minas Gerais. Contudo, durante a década de 1970, o Complexo Hospitalar do Juquery, localizado em Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo, também enfrentou a sua pior fase. 

Em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História, o jornalista Daniel Navarro Sonim, um dos autores da obra “Cinzas do Juquery: Os horrores no maior hospital psiquiátrico do Brasil", explicou as principais semelhanças entre ambas instituições manicomiais brasileiras. 

Política higienista 

Para o especialista, ambos os hospícios eram parecidos, tanto na questão administrativa dos locais, quanto nos tratamentos duvidosos aplicados nos pacientes. 

“Eu acredito que há muita semelhança entre o Hospital Colônia de Barbacena e o Juquery, principalmente por conta da questão de como era a estrutura deles”, disse o escritor.

Assim como no Juquery, o Manicômio de Barbacena era localizado numa região afastada, justamente para isolar os pacientes considerados “anormais” do resto da população, conforme revelou as pesquisas de Daniel Navarro Sonim.

“Era um local afastado de um núcleo urbano desenvolvido os pacientes chegavam em um primeiro momento de trem, assim como acontecia no Juquery. Então era um local afastado que abrigava um número de pessoas exorbitantes, tanto que há uma discussão de qual era o maior hospital psiquiátrico do Brasil, se era o Juquery ou o Barbacena. Mas assim, os números absolutos eles servem na verdade como um alerta e denúncia, porque a gente nunca vai ter certeza de quantos pacientes passaram pelo Juquery ou pelo Hospital Colônia de Barbacena e quantos morreram por lá”, analisou o jornalista. 

Segundo o autor, o intuito do Estado era esconder a população considerada “indesejada” e que não cumpria as normas padrões impostas pela sociedade da época. Além disso, havia uma política higienista, ou seja, de segregar e isolar esses indivíduos dos grandes centros urbanos.  

“Isso não difere muito dos campos de concentração da Alemanha e Polônia. Eram locais afastados e que poucas pessoas sabiam onde ficavam, atrás de muros e cercas, nos quais os presos — judeus, ciganos, deficientes físicos e homossexuais — iam para morrer. No Hospital Colônia de Barbacena muita gente morreu por conta das condições e no Juquery também”, disse Daniel Navarro Sonim.

Práticas de tortura

Ao longo dos anos, as duas instituições foram associadas a práticas de tortura contra os pacientes. Para o autor, essa é uma das maiores semelhanças entre ambos os locais.

“Uma coisa interessante e triste ao mesmo tempo é que se a gente pega fotos das duas instituições em preto e branco, e não coloca uma legenda, a gente vai achar que é o mesmo lugar”, desabafou o jornalista. 

Para Daniel Navarro Sonim é inevitável não falar sobre as práticas de tortura, superlotações, condições insalubres e todos os demais horrores que aconteceram nos dois hospitais psiquiátricos brasileiros. 

“Os pacientes — muitos deles — passavam os dias e as noites nus. Eram mal alimentados, então muitos eram magros ou magérrimos, na verdade. Todos tinham a cabeça raspada e os dentes arrancados. Aqueles que tinham uniforme, em pouco tempo ficavam sujos ou se rasgavam”, revelou ele.

Além disso, muitos internos apanhavam da equipe médica e dos guardas, e não tinham perspectiva de melhora. Segundo o escritor, muito pacientes morriam nos complexos, ou passavam boa parte de suas vidas nestes cruéis lugares. 

"Pode-se dizer que eram pessoas abandonadas à própria sorte”, completou Daniel Navarro Sonim.

Influência na medicina 

Segundo o especialista, no Hospital Colônia de Barbacena houve um ‘comércio’ de cadáveres, uma vez que os restos mortais dos pacientes eram vendidos para universidades.

“Para eles era interessante que esses pacientes morressem, porque eles viravam mercadorias para o hospital e para as faculdades de medicina, que compravam esses cadáveres para serem dissecados e estudados”, disse o jornalista.

Diferente do Manicômio de Barbacena, o pesquisador explicou que a medicina sempre esteve presente dentro do próprio Juquery, isto é, ele “foi um grande laboratório e uma grande universidade”.

“No Juquery, a diferença é que a medicina estava dentro do complexo. Há uma ligação muito forte do Juquery com a USP e com a Faculdade de Medicina de Jundiaí, durante os anos de 1970”, disse ele.

Conforme as pesquisas de Daniel Navarro Sonim, boa parte dos medicamentos que a sociedade brasileira tem hoje, originaram do Juquery, tanto de estudos quanto a partir dos testes aplicados nos internos. 

“Muitas práticas foram adotadas de maneira pioneira no próprio Juquery, por exemplo, a malarioterapia. Um dos diretores do Juquery era entusiasta desse método, que consistia em injetar o protozoário da malária no paciente. Isso servia de tratamento para pacientes que tinham contraído sífilis e tinham um tipo de paralisia”, concluiu ele. 


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