Mike Massimino já esteve fora da atmosfera da Terra duas vezes, e revelou algumas de suas experiências em gravidade zero durante uma entrevista de 2017
Em uma conversa com o site Gizmodo em 2017, o astronauta norte-americanoMike Massimino, que já participou de duas viagens espaciais juntamente à NASA, explicou algumas das excentricidades da vida em gravidade zero.
O profissional, que se formou em engenharia mecânica pela Universidade de Columbia, foi enviado para fora da atmosfera da Terra com a mesma missão em ambas as ocasiões: realizar reparos de manutenção no Telescópio Hubble.
No interior de uma espaçonave, até mesmo as tarefas mais comuns passam por transformações. Algumas mudanças já são esperadas: as comidas de astronauta, por exemplo, precisam vir prontas para consumo, uma vez que não é possível cozinhar no espaço.
Os alimentos estão desidratados e compactados, sendo importante que não soltem migalhas — caso isso ocorresse, afinal, elas ficariam flutuando no ar, assim poluindo o ambiente. Essas adaptações podem fazer com que a experiência de fazer uma refeição, para os cosmonautas, seja muito diferente daquela que temos na superfície de nosso planeta.
Ao Gizmodo, Massimono revelou que o "macarrão com queijo", pelo menos, ainda pode ser apreciado durante uma viagem espacial.
A melhor comida de astronauta é macarrão com queijo. É mais fácil cozinhar macarrão com queijo no espaço do que na Terra. Na Terra, é preciso ferver a água e misturar tudo. No espaço ele está desidratado, só é preciso adicionar água, deixar descansando por dez minutos e pronto", explicou ao portal.
Sorvete, por outro lado, seria uma guloseima que não é bem traduzida para a gravidade zero: "É realmente nojento", garantiu o estadunidense.
Um detalhe importante, aliás, é que não é apenas o ato de ingerir comida que fica diferente em ambientes desprovidos de força gravitacional, mas também a etapa da digestão.
Fazer seu sistema digestivo trabalhar e o estômago se ajustar é diferente. Nossa digestão é auxiliada um pouco pela gravidade, então demora um pouco para adaptar. No meu primeiríssimo dia no espaço me senti com um pouco de náusea", lembrou, acrescentando que o sintoma felizmente só teria persistido por "algumas horas".
Outras reações corporais com o qual o cosmonauta precisou lidar foram dores nas costas, inchaço e um "aumento" de dois centímetros em sua estatura. Mike Massimino enfatizou, porém, que o maior desconforto foi em sua primeira visita ao espaço. Na segunda vez, tudo foi mais fácil, e ele teria se sentido "muito bem".
Outro desafio diz respeito a manter a higiene pessoal numa nave, já que água corrente costuma ser uma parte essencial desses rituais de limpeza.
Tomar uma ducha lá realmente não funciona. As gotas d’água ficam juntas por meio da tensão superficial, então você pode pegar uma, brincar com ela ou beber. É preciso tomar cuidado, no entanto. Porque ela pode pegar nas coisas e causar problemas, e também não é um recurso que se tem em abundância", contou o homem na entrevista de 2017.
A seguir, ele explicou como ele fazia, portanto, para se limpar durante suas missões da NASA: "É como se fosse um banho de esponja. Você pega um pano e põe um pouco de água, se molha e pronto. Usamos shampoo seco — põe um pouco de água na mão, ele espuma, e então dá para secar com a toalha. Dá para ficar limpo, mas não realmente limpo. Você fica doido por um banho quando chega em casa".
Massimino ainda mencionou um fenômeno curioso que apenas quem já fez uma viagem espacial pode entender: qual o "cheiro do espaço".
Eu ouvi sobre isso pela primeira vez quando eu era um astronauta novo, e um dos cosmonautas russos disse que foi o cheiro que ele sentiu na Mir [uma estação espacial operada pela União Soviética e pela Rússia, de 1986 a 2001]. Depois de sair um pouco pelo espaço, você fica numa câmera de vácuo, ela re-pressuriza, e então você abre a escotilha. Existe um cheiro diferente por alguns minutos. Não sabemos realmente como o espaço cheira. Provavelmente é o cheiro da liberação de gases dos metais na câmara, um cheiro metálico bem distinto. Eu gosto de pensar que esse é o cheiro do espaço", contou o astronauta.
Já uma experiência que aparentemente permanece a mesma aqui e no espaço sideral é a de soltar um pum no meio de um grupo de pessoas — em geral, não é uma boa ideia.
"A melhor coisa a se fazer e ir até o banheiro, onde tem mais ventilação, para levar o odor embora. Provavelmente, do mesmo jeito que acontece na Terra. Se você precisa peidar, ou faz isso de forma privada ou as pessoas ficam bravas contigo. Esse é o tipo de coisa que pode levar a uma desarmonia da equipe", alertou Massimino por fim.