Com cenas de violência em um internato católico para indígenas, '1923' apresenta situações que de fato aconteciam na época
A série '1923', que faz parte do universo de Yellowstone, apresenta ao público a personagem Teonna Rainwater, uma jovem indígena que sofre uma série de abusos em um internato católico.
Alvo da brutalidade da Irmã Mary e de outros administradores da instituição, ela é espancada pelos menores motivos, seja por falar sua língua nativa ou por esquecer pequenos detalhes em sala de aula. Infelizmente, a trama apresenta situações que de fato existiram na história dos Estados Unidos.
Criados no contexto da expansão para o Oeste, os chamados internatos indígenas americanos ganharam popularidade em meados de 1800 e se multiplicaram ao longo das décadas, chegando a quase 200 instituições espalhadas por cerca de 30 estados, incluindo Montana, onde se passa a trama de '1923'. Nessas escolas, o objetivo era apagar a cultura indígena: crianças eram proibidas de falar sua língua, recebiam novos nomes e eram batizadas no cristianismo.
A atriz Jennifer Ehle, que interpreta a Irmã Mary, explicou em entrevista ao Screen Rant a mentalidade que justificava tais práticas:
“Irmã Mary é uma pessoa que acredita, como as pessoas que dirigiam essas escolas residenciais realmente acreditavam, que você tinha que 'matar o indígena para salvar o homem'. Você tinha que forçar a assimilação; Você tinha que remover toda a identidade cultural dessas crianças que haviam sido removidas à força de suas famílias e viviam isoladas.”
Aminah Nieves, que interpreta Teonna, reforça a importância de contar essa história: “É difícil. Mas, sendo indígenas, é nosso dever contar nossas histórias e contá-las da maneira mais forte, rápida e poderosa possível.”
Apesar de 1923 girar em torno da família Dutton e das dificuldades enfrentadas para manter o Yellowstone Dutton Ranch durante um dos períodos mais desafiadores da história de Montana, a série se apoia fortemente em eventos reais.
Além da violência nos internatos, a trama aborda com precisão o crescimento da pecuária, os impactos da Grande Depressão e da Lei Seca, além das consequências da Primeira Guerra Mundial.
A série também estabelece conexões diretas com "Yellowstone", especialmente por meio de Thomas Rainwater, líder das Tribos Confederadas de Broken Rock. Desde o primeiro episódio da série principal, Rainwater aparece como um antagonista de John Dutton, reivindicando a terra que pertenceu ao seu povo. Inicialmente visto como um vilão, sua luta se revela legítima à medida que a série explora o passado de opressão sofrido por gerações de indígenas americanos.
Ao final de "Yellowstone", a decisão da família Dutton de entregar suas terras a Thomas Rainwater representa uma forma de reparação histórica, concedendo a ele e à sua comunidade uma vitória simbólica.
As cenas dos internatos em 1923 foram emocionalmente desafiadoras para o elenco. Aminah Nieves e Jennifer Ehle falaram sobre o impacto das gravações em entrevista à TV Insider, mencionando que a primeira cena de agressão na sala de aula foi filmada logo no primeiro dia. O respeito no set foi essencial para lidar com o peso da narrativa.
Nieves destacou que Teonna não desejava machucar a Irmã Mary, mesmo ao revidar os abusos sofridos: “não era uma ação que ela realmente desejava fazer, mas era uma que ela tinha que fazer para salvar a si mesma e a todos naquela sala"
Já Ehle explicou que sua personagem acreditava estar protegendo as crianças ao submetê-las a tais práticas, pois era movida por “intensa ignorância e danos”.
Apesar da brutalidade retratada, Nieves expressou o orgulho de trazer essa história à luz, reforçando que seu impacto transcende gerações: “É algo que vive conosco, quer queiramos ou não. Vai viver com nossos filhos." Ela ainda destacou que contar essas histórias "é nosso dever e é muito importante."
Os episódios de "1923" podem ser conferidos na plataforma de streaming Paramount+. Já "1883" pode ser assistida na Netflix.
