Pouco conhecida, espécie possui características peculiares e corre risco de extinção
Publicado em 23/10/2021, às 10h00 - Atualizado em 02/02/2023, às 17h44
A Cegonha-bico-de-sapato entra na lista de animais que poucas pessoas conhecem e os que já a viram, majoritariamente em fotos ou vídeos na internet, ainda duvidam se a espécie existe de fato ou se é só mais uma criação hollywoodiana.
Além da sua aparência bela e peculiar, os ‘Balaeniceps rex’, ou Shoebill, com também são chamados, possuem uma história um tanto quanto curiosa.
Parente vivo dos dinossauros, a Cegonha-bico-de-sapato já sobreviveu a episódios extremos, como a Segunda Guerra Mundial, embora, hoje, a espécie esteja em risco de extinção.
O Shoebill habita, atualmente, regiões pantanosas no leste tropical da África, em áreas entre o Sudão do Sul e a Zâmbia. Assim como as cegonhas, a Balaeniceps rex possui uma peculiaridade na hora de caçar: é paciente, capaz de permanecer imóvel por muito tempo. Seu bico, com uma espécie de gancho na ponta, ajuda a prender com força sua presa, que são, em grande parte, peixes e rãs.
Entretanto, apesar do nome, segundo explica Gerald Mayr em artigo publicado no Journal für Ornithologie, tem uma filogenia mais próxima dos pelicanos, em relação a comparações anatômicas; e das garças, no que diz respeito a evidências bioquímicas.
Quando dizemos que as aves atuais são os parentes mais próximos dos extintos dinossauros, muitos não acreditam...
— Biólogo Sérgio Rangel (@BiologoRangel) October 18, 2021
CEGONHA-BICO-DE-SAPATO (Balaeniceps rex) pic.twitter.com/KOtWlQ5wcK
Medindo entre 1 metro e 10 e 1.40 de altura, a Cegonha-bico-de-sapato pode pesar até 7 quilos e a distância entre as pontas de suas asas pode atingir os dois metros de comprimento.
De acordo com a Agência Ambiental Pick-upau, o Shoebill é um animal muito sedentário, realizando movimentos apenas quando precisar buscar um habitat que possa prover melhores recursos.
Além do mais, a espécie voa muito raramente. Nos céus, o Balaeniceps rex chega a bater asas cerca de 150 vezes por minuto, o que a coloca entre uma das aves mais lentas da atualidade.
Seu nome biológico, Balaeniceps rex, pode até sugerir uma ligação com o famoso tiranossauro, mas essa é apenas uma coincidência. "Epítetos específicos (a 2ª palavra em noves científicos) repetem muito. Por ex.: tanto o arroz comum quanto a maconha são ‘sativa’. Rex é rei em latim, Balaeniceps é ‘cabeça de baleia’”, explica o biólogo Pirula em uma thread em seu Twitter.
Esse bicho é o Balaeniceps rex. Sim, tem "rex" no nome, o q nada tem a ver com tiranossauro. Epítetos específicos (a 2ª palavra em nomes científicos) repetem muito. Por ex.: tanto o arroz comum quanto a maconha são "sativa". Rex é rei em latim, Balaeniceps é "cabeça de baleia".
— Pirula (@Pirulla25) June 2, 2021
Porém, a relação com eles existe de fato, afinal, as aves, em geral, são parentes próximos dos dinossauros, entretanto, elas tiveram a sorte de sobreviverem à grande extinção já que, segundo a teoria darwiniana explica, conseguiram se adaptar o suficiente para estarem vivas até os dias atuais.
“Ou seja, os bicos-de-sapato são de fato dinossauros. Mas não são mais dinossauros do que um bem-te-vi, uma pomba ou um beija-flor. Todos são igualmente dinossauros, a diferença é só essa carona que faz eles parecerem ferozes. Mas é só pose”, explica Pirula.
Ou seja, os bicos-de-sapato são de fato dinossauros. Mas não são mais dinossauros do que um bem-te-vi, uma pomba ou um beija-flor. Todos são igualmente dinossauros, a diferença é só essa carona que faz eles parecerem ferozes. Mas é só pose.
— Pirula (@Pirulla25) June 2, 2021
The fim. pic.twitter.com/kKw7A6S2Ha
Apesar disso, assim como seus antepassados, a espécie corre o risco de extinção. Segundo o Pick-upau, em 2002, a população do Shoebill era estimada entre 5.000 e 8.000 indivíduos, sendo que apenas 5.300, no máximo, seriam capazes de se reproduzirem.
Desta forma, a BirdLife International e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) considera a situação da ave como ‘vulnerável’, muito em virtude da ação humana.
O primeiro ponto, e um dos principais, é o fato de que as regiões pantanosas onde as Cegonhas-bico-de-sapato vivem estão sendo convertidas em áreas agropecuárias, com os pântanos sendo drenados ou até mesmo pelo despejo exacerbado de agrotóxicos.
Além disso, é comum que a passagem do gado pela região faça com que os ninhos da ave sejam pisoteados. Outro ponto crucial para a diminuição da população do Balaeniceps rex é a caça ilegal. Por ser um animal exótico, colecionadores chegam a pagar 37 mil reais pela ave, segundo o site da agência ambiental.
Um último fator, esse mais peculiar, é que muitos consideram que a Cegonha-bico-de-sapato seja sinônimo de mau presságio. Além do mais, por serem tímidas, muitas vezes a ave se espanta com a presença humana e foge do local onde botou seus ovos, o que deixa seus filhotes vulneráveis.
Apesar das más notícias, na Zâmbia, uma equipe de 12 pescadores luta pela preservação da espécie, monitorando as aves adultas e, principalmente, a população em seu período reprodutivo, impedindo que caçadores, humanos e animais, se aproveitem da fragilidade do Shoebill.
Segundo a Pick-upau, desde que o programa foi implantado, em 2012, 25 filhotes, de 21 ninhos diferentes, tiveram sucesso. Além do mais, seis filhotes que foram roubados acabaram sendo recuperados. O programa vem se expandindo com o passar dos anos, devido a sua eficiência e sucesso.
Como aponta matéria do History Collection, o Balaeniceps rex era uma das espécies que viveu no famoso Zoológico de Berlim, região que foi constantemente bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial
Os ataques começaram em novembro de 1943 e se estenderam até a metade de 1945 — um ano antes do fim da Guerra, por exemplo, o zoo foi atingido em, pelo menos, sete ocasiões, embora nunca tenha deixado de funcionar nessa época.
Quando o Exército Vermelho invadiu Berlim, o pouco que sobrou do local foi completamente destruído. Entre os sobreviventes estava uma Cegonha-cabeça-de-sapato, que foi salva por uma cuidadora, que o levou para casa e manteve o animal vivo enquanto a cidade desmoronava (como pode ser visto na imagem acima).