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Matérias / Crime

72 anos de mistério: o bizarro caso do cadáver do 'Homem de Somerton'

O episódio, que envolveu uma série de eventos bizarros, permanece sem solução, entretanto, novas pesquisas podem encontrar uma resposta

Pamela Malva Publicado em 25/09/2020, às 09h00

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O sepultamento do cadáver - Divulgação
O sepultamento do cadáver - Divulgação

Na noite de 30 de novembro de 1948, um casal andava de maneira descontraída pela praia de Somerton, na Austrália. Entre 19h e 20h, ambos perceberam um corpo no chão, perto de uma instituição chamada Crippled Children's Home.

Considerando que os postes de iluminação ainda estavam ligados, o casal estranhou que o homem deitado não estivesse reagindo às moscas que o rodeavam. No entanto, resolveram não interferir, pensando que aquela pessoa estaria ou bêbada, ou dormindo.

No dia seguinte, por volta das 6h30 da manhã, o que o casal testemunhou se tornaria uma importante prova para o que ficou conhecido como um dos maiores mistérios da Austrália. Sem querer, os dois amantes estavam dentro do caso Taman Shud, ou Mistério do Homem de Somerton.

No início do dia 1° de dezembro daquele ano, um homem foi encontrado morto e a polícia foi chamada. Em primeiro momento, os oficiais perceberam que ele não portava qualquer documento de identidade. Vestia roupas simples, sem etiquetas e, indo contra o clima quente daquele dia, usava um suéter de tricô e um casaco de estilo europeu.

Local onde o corpo foi encontrado marcado com um "X" / Crédito: Wikimedia Commons

Em seus bolsos, foram encontrados bilhetes de ônibus e de trem — a parada de ônibus onde o bilhete foi comprado estava a 250 metros do local do crime. O corpo foi mandado para a autópsia e sua arcada dentária não bateu com nenhum registro existente.

Segundo o patologista John Burton Cleland, o morto tinha uma aparência britânica e deveria ter entre 40 e 45 anos. Devido a algumas características específicas, o homem provavelmente não exercia muito trabalho manual, mas poderia ser um dançarino ou um fazendeiro, com músculos definidos na panturrilha.

No inquérito, que cravava a hora da morte como sendo às 2h da manhã do dia 1 de dezembro, o patologista Dr. Dwyer concluiu que a última refeição do homem teria sido um pastel e não identificou quaisquer substâncias estranhas em seu organismo. De qualquer forma, o envenenamento era a principal suspeita — restava saber quem o teria envenenado.

A identidade do homem, no entanto, permaneceu um mistério, já que nenhuma testemunha viu seu rosto enquanto ainda estava vivo. Nem mesmo a Scotland Yard chegou a qualquer conclusão. Assim, o cadáver foi embalsamado em 10 de dezembro daquele ano.

Em 1949, duas pessoas identificaram o cadáver como sendo ex-lenhador Robert Walsh, de 63 anos. No entanto, a possibilidade foi descartada quando uma delas voltou atrás, dizendo que o corpo não tinha uma cicatriz em particular, que Walsh tinha. Além disso, a idade não batia com a determinada pelos patologistas.

Poucos dias depois, funcionários da Estação Ferroviária de Adelaide encontraram uma mala marrom no guarda-volumes da estação. Ela estava lá desde as 11h da manhã do dia 30 de novembro de 1948. Dentro dela, roupas com o nome T. Keane gravado foram encontradas.

A polícia procurou por pessoas desaparecidas com tal nomenclatura e um homem foi identificado, mas seus familiares não o reconheceram quando viram o cadáver de Somerton. No final, apenas um item da mala pôde ser usado como prova: um casaco com costuras e bordados particulares. Ele indicava que o dono só poderia tê-lo adquirido nos Estados Unidos.

Registros ferroviários indicaram que o homem veio de um trem noturno, que teria partido de Melbourne, Sydney ou Port Augusta. Ele teria comprado seu bilhete para o trem das 10h50 da manhã, que, por alguma razão, teria perdido ou decidido não pegar. Em seguida, partiu de ônibus para Glenelg.

No inquérito, Cedric Stanton Hicks, professor de Fisiologia e Farmacologia da Universidade de Adelaide, afirmou que drogas poderiam ter sido a causa da morte do homem. Tais compostos químicos seriam extremamente difíceis, senão impossíveis, de serem identificados.

Ainda mais, Cedric afirmou que, caso a morte tivesse mesmo ocorrido sete horas depois que o homem foi visto pela última vez, ele deveria ter ingerido uma grande dose de substâncias. Assim, os movimentos que ele fazia quando fora visto por outro casal na mesma noite indicariam uma última convulsão antes de sua morte.

Na mesma época, um pedaço de papel impresso com as palavras Taman Shud foi encontrado em um bolso falso nas calças do homem morto. A prova foi divulgada ao público pela polícia, na tentativa de encontrar um livro com os mesmos escritos e uma pessoa foi até os oficiais com um exemplar em mãos.

Ela teria encontrado o livro em seu carro, que estava estacionado e destrancado em Glenalg, na noite de 30 de novembro de 1948. Nas costas da obra, uma anotação feita a lápis foi encontrada. Uma sequência de letras sem sentido indicava que as cinco linhas escritas provavelmente formavam um código.

Escritas deixadas pelo misterioso Homem de Somerton em livro encontrado / Crédito: Wikimedia Commons

Além disso, um número de telefone estava rabiscado no livro. Com ele, os policiais encontraram uma ex-enfermeira que morava em Glenelg, a 800 metros de onde o corpo foi encontrado. Em testemunho, a mulher declarou que era, de fato, dona de uma cópia do livro, mas que a presenteou a um tenente do exército durante a Segunda Guerra Mundial.

Por muito tempo, a polícia pensou que o morto fosse o homem presenteado, Alfred Boxall. Os oficiais apenas descartaram a possibilidade quando Boxall foi encontrado vivo, ainda com a cópia que recebera da enfermeira completa, sem quaisquer páginas faltando.

Até esse momento, a polícia andava em círculos e não encontrava nada sobre a identidade do homem. Anos depois do enterro, uma recepcionista do Strathmore Hotel, que ficava em frente à Estação de Adelaide, trouxe novidades.

Busto do homem feito pela polícia antes do seu enterro / Crédito: Wikimedia Commons

Ela afirmou que um homem teria se hospedado no local no mesmo período da morte, deixando seu quarto no dia 30 de novembro de 1948. Ainda mais, a mulher lembrou que, após a saída do homem, as faxineiras teriam encontrado uma caixa médica preta e uma seringa hipodérmica no apartamento.

Mesmo com novas pistas, o caso ainda permanece aberto e sem qualquer solução. Por mais que um busto feito do homem antes do seu enterro — contendo fibras capilares — seja conservado até hoje pela Sociedade Histórica da Polícia do Sul da Austrália, o DNA contido na peça foi destruído graças ao embalsamento.

Outras evidências, como a mala marrom — destruída em 1986 — e arquivos com depoimentos de testemunhas sumiram ou foram perdidos com o passar dos anos. Todavia, uma grande novidade sobre o caso foi divulgada no ano passado.

Segundo o jornal The Mirror, foi autorizado que os restos do homem misterioso sejam exumados. Como consequência, as investigações poderão remover o que sobrou do cadáver e reabrir a investigação.

De acordo com o veículo, a decisão ocorreu após um pedido de Roma e Rachel Egan, que podem ter ligações genéticas com o homem morto. Como consequência, testes de DNA serão realizados. 


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