Ossos de Centrosaurus apertus adulto, que viveu no fim do Cretáceo, apresentou evidências de câncer ósseo
Publicado em 05/03/2023, às 18h00 - Atualizado em 15/03/2023, às 09h34
Considerado um primo herbívoro de tamanho médio dos Triceratops, o Centrosaurus apertus adulto viveu até aproximadamente 65 milhões de anos atrás, no final do período Cretáceo. A espécie, que do nome em latim significa "lagarto pontiagudo", media em torno de 6 metros de comprimento e pesava por volta de 4 toneladas.
Conhecido por ter a cabeça pesada, com dois chifres pequenos no topo e um grande na ponta do nariz, o Centrosaurus apertus adulto vagou pela região onde hoje está a América do Norte. Ele também é conhecido por seus ombros fortes e um rabo pequeno.
Muitos Centrosaurus apertus adulto, entretanto, morreram há 77 milhões de anos, quando um rebanho foi atingido por uma inundação catastrófica de uma tempestade tropical que atingiu o que hoje se denomina a cidade canadense de Alberta, no sudoeste do país.
O local se tornou um depósito geológico de fósseis preservados, que foram estudados ao longo dos anos. Em 2020, porém, um diagnóstico chamou a atenção da comunidade científica: um desses dinossauros tinha câncer ósseo em sua tíbia.
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A doença, possivelmente, se alastrou por outras partes de seu corpo. A conclusão, de que aquele Centrosaurus apertus adulto tinha osteossarcoma, chamou a atenção visto que, embora um tipo raro de câncer ósseo maligno, a enfermidade, mais comumente encontrada em crianças, atinge cerca de 25 mil pessoas todos os anos.
Ou seja, aquela foi a primeira vez que encontraram um câncer maligno num dinossauro. "Acontece que as doenças que afetaram os dinossauros têm essencialmente a mesma aparência daquelas que afetam os humanos ou outras criaturas", explicou Bruce Rothschild à BBC.
Pesquisador associado em paleontologia de vertebrados no Carnegie Museum of Natural History, na Pensilvânia, Estados Unidos, Bruce fez parte da equipe multidisciplinar que analisou o caso.
Após examinarem centenas de ossos no Royal Tyrrell Museum em Drumheller, o paleontólogo David Evans, da Universidade de Toronto, e o hematologista humano e presidente da faculdade de medicina da Universidade McMaster (Canadá), Mark Crowther, encontraram possíveis sinais de câncer ósseo na tíbia do Centrosaurus apertus.
Entretanto, vale ressaltar que a tarefa não foi nada fácil, visto que ossos com tais características não são organizados seguindo essa classificação da doença, mas sim espalhados pelas coleções.
As buscas aconteceram junto a outros cientistas, como a patologista óssea Snezana Popovich, da McMaster University. "Definitivamente me lembro de Snezana pegando este osso e dizendo: 'Acho que isso é câncer ósseo'", recorda Evans.
Um ponto que chamou a atenção no osso é que ele possui uma protuberância em uma extremidade, aponta a BBC. A deformação foi classificada como um calo de fratura. Além disso, ele tinha outras visíveis malformações e grandes orifícios abertos (forames não naturais) em torno da protuberância.
Desta forma, o osso foi comparado com outras duas amostras: com um osso normal da canela de um Centrosaurus e com o osso da panturrilha de uma pessoa com diagnóstico confirmado de osteossarcoma.
Mas a pesquisa não se resumiu a isso, visto que raios-x e tomografias computadorizadas de alta qualidade também foram feitas, que teve apoio de reconstrução em 3D e histologia para ajudar na criação de biópsias que ajudassem o estudo ao nível celular.
"Isso nos permitiu fazer um diagnóstico de câncer positivo que está de acordo com o que os médicos da minha equipe sugeriram [que fariam] em um paciente humano", prosseguiu o paleontólogo.
Na verdade, partimos para seccionar o osso em série… Conseguimos rastrear o tumor cancerígeno abrindo caminho através do osso, do joelho ao tornozelo”, explicou.
Um grande ponto a se relevar é que se hoje doenças e diagnósticos são feitos em animais vivos, fazer o mesmo em dinossauros é uma tarefa árdua, visto que há pouco material para se analisar.
"Não podemos realmente confiar em nenhum dos exames médicos que faríamos hoje... A maneira como identificamos [doenças] tem que ser radicalmente diferente", explica Cary Woodruff, curador de paleontologia de vertebrados no Phillip and Patricia Frost Museum of Science em Miami, na Flórida.
Além do mais, muitas enfermidades não deixam vestígios nos dinossauros, tornando praticamente impossível estabelecer do que eles morreram. "Provavelmente uma boa parte de nossos dinossauros morreu de doenças ou coisas do tipo, para as quais não temos evidências osteológicas, ou seja, não há indicadores nos ossos", prossegue Woodruff.
Mas o avanço da ciência tem encurtado cada vez mais essas lacunas. "Pode haver muitos ossos com doenças que mal são visíveis na superfície e que ninguém pensaria em olhar", corrobora Evans.
Por fim, podemos entender de dois jeitos a condição do Centrosaurus apertus adulto: a primeira é que o osteossarcoma em estágio avançado pode ter lhe afetado em sua condição motora, ou seja, fazendo dele uma presa fácil para o temível Tyrannosaurus.
Por outro lado, o dinossauro parece ter morrido no mesmo desastre natural que afetou seu bando; o que faz o paleontólogo David Evans especular que ele pode ter sido protegido e cuidado por seu grupo.
É uma visão realmente interessante e única da vida dos dinossauros que não tínhamos antes”, finaliza.