1 ano após o lançamento da série, o comportamento do personagem causou polêmica em instituições do país
Era abril de 1990, quando o diretor William Krumnow anunciou pelo sistema de som da Lutz Elementary School, em Fremont, Ohio, que os alunos estavam terminantemente proibidos de frequentarem a escola usando camisetas estampadas com o rosto de Bart Simpson, a estrela rebelde do famoso desenho animado Os Simpsons (1989). Inicialmente, ele estava preocupado com uma camisa que mostrava Bart apontando um estilingue com a palavra underachiever (algo como fracassado ou frustrado).
O diretor acreditava que a mensagem trazia uma subversão desnecessária para um lugar de aprendizado. “Ter orgulho de ser incompetente é uma contradição daquilo que defendemos”, disse Krumnow em uma entrevista naquele ano. “buscamos a excelência e instituímos bons valores nas crianças... o programa [Os Simpsons] ensina coisas erradas aos alunos”.
Pode até parecer loucura, mas William não estava sozinho nessa jornada contra o personagem. Diretores escolares da Flórida, Califórnia, Michigan, Illinois e Washington também estavam reprimindo alunos com camisetas de Bart, temendo que o jeito desapegado dele pudesse se tornar um tipo errado de modelo para as crianças seguirem.
Como é de se imaginar, a proibição rendeu bons frutos aos produtos da família amarela, que estreou na TV em 17 de dezembro do ano anterior. Camisas do desenho se esgotaram nas lojas e se tornaram um verdadeiro fenômeno de vendas.
Estima-se que mais de 15 milhões de peças com estampas de Bart foram vendidas somente em 1990. Isso porque o personagem fazia sucesso entre os jovens, pois ele era um espelho para todas elas, que adoravam andar de skate e destestavam a escola.
Mas ao contrário deles, Bartolomeu Simpson não tinha censuras, seu cabelo espetado combinava com seu estilo despojado e sua língua estava sempre afiada.
O linguajar do personagem era considerado inapropriado e incompatível com um ambiente respeitoso que os diretores queriam em uma escola. Os alunos do Memorial Junior High School foram informados que não poderiam usar a camisa polêmica. Como consequência, o superintendente distrital da escola primária de Burnham, Al Vega, ficou satisfeito por nenhum aluno sequer ter tentado usar. “Espero que seja porque os pais se sintam da mesma maneira que eu [...] Eu, como responsável, não vou deixar meu filho usar isso na escola”, declarou.
No entanto, nem todos os pais estavam de acordo com a proibição. Jeannette Manning, mãe de um estudante da Califórina, disse que pensava em comprar uma camiseta para o filho “por princípios”. Já Maira Romero não conseguia entender por que o filho de 11 anos estava sendo repreendido: “ Prefiro que ele vista uma camiseta de Bart Simpson do que uma daquelas camisetas de rock and roll com crânios e ossos cruzados”.
Alguns especialistas em desenvolvimento infantil não tinham certeza se a proibição seria a melhor saída, muito pelo contrário, para eles essa coibição só tornaria as coisas mais atraentes para adolescentes propensos à rebelião. Na Wells High School, de Chicago, o diretor David Peterson refutou a censura: “É como uma criança dizendo que odeia a escola. Eu vou suspendê-lo por isso? Acho que não”.
Diversos estudantes sofreram uma série de represarias. Na Brookwood Junior High, em Glenwood, Illinois, os professores ordenavam que os alunos que vestissem as camisas de Bart, ligassem para os pais levarem uma troca de roupa. Outras escolas forçavam as crianças a vestirem a camiseta do avesso. Em alguns casos extremos, os professores cobriam as palavras e frases ofensivas com fita adesiva.
Matt Groening, o criador da série, disse em entrevista que achou a proibição tola: “Não tenho comentários [...] Meus pais me ensinaram a respeitar os diretores da escola primária, mesmo aqueles que não tinham nada melhor para fazer do que dizer às crianças o que vestir”. Matt disse que a palavra underachiever aparecia entre aspas na estampa, indicando que foram os diretores que deram esse rótulo para Bart.
Como muitos previam, a febre das camisetas de Bart Simpson desapareceu rapidamente. As crianças logo encontraram uma nova moda. Em junho de 1991, as estampas dos Simpsons deram lugar a outra série de sucesso da Fox, a comédia In Living Color, que lançou nomes como Jim Carrey, Chris Rock e Marlons Wayans.