Herdeiro de um combatente da Segunda Guerra, o soldado viu diversos episódios de sua vida representados nas telonas
Troque a icônica faixa na cabeça por uma farda do Exército dos Estados Unidos e os cabelos compridos de Sylvester Stallone por diversas medalhas de condecoração. É assim que você transforma o eterno Rambo em Bo Gritz, um combatente da vida real.
Com as inúmeras produções cinematográficas que representam conflitos bélicos em Hollywood, uma questão paira entre os entusiastas: a vida imita a arte, ou seria a arte que imita a realidade? Essa é justamente a pergunta que trás mais profundidade para a comparação entre o soldado indestrutível das telonas e o capitão James Gordon.
Nascido em Oklahoma, Bo Gritz é herdeiro de um antigo soldado da Força Aérea norte-americana que lutou na Segunda Guerra Mundial. Por isso, inclusive, a família do jovem não se surpreendeu quando James tornou-se um soldado das Forças Especiais. Alistado em agosto de 1957, o militar logo começou a colecionar vitórias no Exército.
Tamanho era o reconhecimento pelos seus feitos, que Bo Gritz foi considerado um “herói americano”, recebendo altas condecorações. Desse modo, os filmes de Stallone também buscaram uma correspondência com sua biografia. Nos longas, o protagonista dizimava 504 pessoas apenas com uma pedra, uma faca, um arco e algumas flechas — não muito diferente de Gritz, que assassinou 400 pessoas e lutou no Vietnã.
Gritz também decidiu utilizar da sua fama na mídia para disseminar a informação de que diversos prisioneiros de guerra norte-americanos estavam sendo mantidos no Sudeste Asiático. Segundo o militar, eles teriam sido capturados por comunistas russos.
Quando o capitão foi enviado para resgatá-los, contudo, verificou-se que a infomração não era verdadeira: não havia nenhum prisioneiro. Isso não impediu, todavia, que o longa 'Rambo 2' criasse um cenário em que as acusações de Gritz fossem reais.
No ano de 1986 James passou a treinar mujahdins afegãos para lutar contra os soviéticos em Sandy Valley (Nevada), como consequência, em 1988, o terceiro filme da franquia se embasa diretamente nessa história: na ajuda de Sylvester na revolta afegã contra os russos. Como resultado, Gritz passou a ver uma extrema equivalência entre o que vivia e o que era transmitido nas telas do cinema.
“Quando a terceira parte foi lançada, comecei a suspeitar que minha vida se parecia muito com a de Rambo”, afirmou o ator, em entrevista ao El País. Foi assim que o soldado norte-americano passou a se autodominar como “o verdadeiro Rambo”.
O sujeito hábil de guerra em 1998, tentou suicídio após sua quarta esposa pedir divórcio. O tiro disparado contra si mesmo não o matou. Apesar disso, logo que se recuperou da depressão, ele voltou a se relacionar com outra mulher e tornou-se evangélico.
Hoje, ele atua propagando a palavra de Deus, episódio que é reproduzido em 'Rambo 4'. Isso porque o personagem viaja até Birmânia para auxiliar os cristãos e acaba se tornando um deles, difundindo a palavra do Senhor com tiros.
Em 2017, o documentário 'Erase and Forget', dirigido por Andrea Luka Zimmerman, misturou a ficção e a realidade para contar a história de Bo Gritz. Na trama, o antigo capitão chegou a reproduzir as cenas do filme que marcou os anos 1980.
Hoje aos 82 anos, Bo Gritz segue uma vida pacata em seu rancho — reclusão que acabou entrando para a narrativa de 'Rambo: Até o Fim'. Isso porque nem o personagem, nem o verdadeiro militar, têm mais a idade necessária para continuar combatendo o crime.