Além dos assassinatos de Wendy Knell e Caroline Pierce, Fuller abusou de mais de 100 mulheres mortas — o que inclui algumas crianças
Wendy Knell foi morta em sua residência no dia 23 de junho de 1987. Seu corpo só foi encontrado no dia seguinte, em sua cama, pelo seu namorado. Familiares e amigos estranharam o fato dela não ter ido trabalhar naquele dia. Durante 34 anos, seus parentes buscaram respostas sobre quem a matou e “como foram seus últimos momentos de vida”.
Caroline Pierce, por sua vez, foi sequestrada meses depois, em 24 de novembro daquele mesmo ano, do lado de fora de sua casa. Na ocasião, vizinhos relataram que ouviram alguns gritos. Demorou três semanas para que o cadáver da mulher fosse encontrado por um trabalhador rural em um local a mais de 64 quilômetros de distância de onde ela morava.
Esses dois crimes, por anos, geraram mais dúvidas do que certezas. Ao longo dos mais de 30 anos, familiares, amigos e as autoridades tentavam entender o que motivou tudo aquilo e, principalmente, quem foi o responsável por tal ato. Os casos, porém, ganharam uma resposta recentemente.
A identidade do responsável pelos crimes só foi descoberta recentemente, após avanços em testes de DNA. Segundo informou a BBC, a enorme operação policial custou cerca de 2,5 milhões de libras, algo em torno de R$19 milhões.
A comparação do material genético encontrado na cena do crime bateu parcialmente com a de um sujeito, cujo DNA havia sido inserido em um banco de dados em 2012. Ao testarem o irmão deste rapaz, no entanto, descobriu-se que seu DNA batia exatamente com resquícios de sêmen achados na meia de Caroline. David Fuller havia sido encontrado.
Aos 67 anos, ele acabou sendo preso em dezembro de 2020. Mas as investigações sobre sua vida revelaram uma série de crimes muito mais extensa e repugnante: além das duas mortes, Fuller abusou sexualmente de, pelo menos, cem cadáveres femininos — o que inclui o de algumas crianças.
Em 1989, David Fuller passou a cuidar da manutenção elétrica em hospitais. Ele foi funcionário do Kent and Sussex Hospital até seu fechamento, em setembro de 2011. Posteriormente, foi transferido para o Tunbridge Wells Hospital, onde permaneceu até dezembro de 2020, quando foi preso.
Segundo revelou à polícia, David trabalhava até mais tarde e esperava os demais funcionários irem embora para se dirigir ao necrotério dos locais. Por lá, em suas palavras, “abusava dos mesmos corpos repetidamente”.
A situação se tornou mais nauseante durante as buscas em sua casa. Na residência de Fuller, investigadores encontram centenas de vídeos e imagens de pornografia infantil, que foram armazenadas em HD’s, DVD’s e cartões de memória.
Mas, o mais chocante ainda estava por vir. Uma caixa secreta foi encontrada aparafusada na parte de trás de uma cômoda e colocada dentro de seu guarda-roupa. Lá, dois discos rígidos estavam guardados, eles continham vídeos que David Fuller havia gravado quando ele abusava sexualmente de alguns cadáveres do necrotério.
Alguns registros estavam identificados com os nomes das vítimas, entre elas três crianças. As gravações foram feitas entre 2008 e novembro de 2020. No entanto, os investigadores não conseguiram identificar 20 mulheres que aparecem nas gravações. A imprensa britânica trata o caso como o mais grave crime de necrofilia da história criminal do Reino Unido.
Infelizmente, é provável que algumas das vítimas nunca sejam identificadas", declarou o investigador Paul Fotheringham.
Foi identificado também que David Fuller mantinha um caderno onde registrava parte dos delitos que cometeu, o que inclui, por baixo, 30 roubos e invasões de propriedade na década de 1970 — bem antes da polícia criar um banco de dados de DNA.
Sobre a morte de Knell, há indícios de que ela foi estuprada após, ou durante, sua morte, já que a saliva de David foi encontrada não só na roupa de cama da mulher, como também em sua toalha e até mesmo em suas partes íntimas.
Com Pierce as coisas ainda são um pouco mais obscuras, já que ela foi encontrada em um dique, três semanas depois de seu sequestro, usando apenas um par de meias — que se mostraram fundamentais para que o material genético de Fuller fosse achado, conforme citado acima.
Há a suspeita, segundo a BBC, de que o criminoso conhecesse suas duas vítimas, mesmo que minimamente. Afinal, ele era cliente da SupaSnaps, uma rede que fazia revelações de fotos, onde Wendy, inclusive, trabalhava.
Na mesma quadra da loja ficava o restaurante em que Caroline era gerente. O local foi visitado por David, segundo revela anotações em seu diário e fotos que ele tirou no estabelecimento.
Preso desde 2020, David Fuller começou a ser julgado este ano. Foi só no quarto dia de audiências, no começo do mês passado, que ele passou a se declarar culpado pelos crimes. Até então, relata a BBC, a defesa de Fuller dizia que, apesar dele ter matado as mulheres, ele não poderia ser considerado culpado, visto que suas funções mentais estavam debilitadas.
Ainda não foi definida a data de uma nova audiência, na qual a sentença de David será conhecida. Mesmo assim, o caso já gera uma enorme comoção popular. Priti Patel, ministra do Interior do Reino Unido, declarou esperar que as famílias das mulheres “possam encontrar algum consolo em ver a justiça finalmente ser feita”.
Em comunicado, os parentes de Knell relataram que “é bom saber que ele [David Fuller] não poderá machucar mais ninguém ou causar mais dor”.
"Agora, sabemos, e infelizmente é muito pior do que poderíamos ter imaginado. Mas podemos agora começar a superar a dor e a lembrar dela como a garota bonita, gentil, generosa, atenciosa e engraçada que era. Embora a confissão não mude nada, já que a dor e a perda sempre estarão lá, é bom saber que ele não poderá machucar mais ninguém nem causar mais dor."