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Matérias / Amelia Earhart

Amelia Earhart do mito ao mistério: A última viagem da piloto

Em 1937, Amelia Earhart desapareceu após tentativa de viajar ao redor do mundo. 90 anos depois, o que aconteceu com a pioneira da aviação feminina?

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 01/02/2024, às 20h00

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A piloto Amelia Earhart - Domínio Público
A piloto Amelia Earhart - Domínio Público

Em 1937, Amelia Earhart já era um ícone da aviação. Após estabelecer recordes, ela sonhava com voos maiores: queria se tornar a primeira mulher a viajar ao redor do mundo. No dia 17 de março daquele ano, ela partiu de Oakland, na Califórnia, em seu avião Lockheed Electra 10E

Em sua companhia estava o navegador Fred Noonan. Eles pareciam determinados a entrar para a História. Embora, na primeira parte da viagem, eles tenham encontrado alguns problemas, que exigiram a reconstrução do avião; a segunda decolagem, em 20 de maio do mesmo ano, pareceu ser muito mais tranquila. 

Da Califórnia foram para a Flórida, antes de passarem pela América do Sul, África e Ásia. Cerca de um mês após o início da jornada, porém, algo deu errado. Era 2 de julho quando Amélia e Fred partiram de Lae, na Nova Guiné, com destino à isolada Ilha Howland, no Pacífico.

O trajeto de mais de 11 mil quilômetros, que serviria para abastecer, jamais foi concluído. O avião desapareceu para sempre. Mas o que aconteceu?

O mistério perdura até hoje. Embora uma equipe de investigadores acredite ter encontrado o avião após quase 90 anos, muitas coisas ainda precisariam ser esclarecidas sobre o episódio. 

A lenda

Cerca de 40 anos de seu misterioso fim, Amelia Mary Earhart nasceu em 24 de julho de 1897, em Atchison, Kansas. Embora tenha ficado conhecida como pioneira da aviação feminina, Amelia nem sempre mostrou entusiasmo com a atividade. 

Conforme a PBS, quando mais nova, Earhart tinha outros hobbies que mais lhe atraíam, como caçar, andar de trenó e até mesmo subir em árvores.

"Era uma coisa feita de arame e madeira enferrujada e não parecia nada interessante", lembrou sobre o primeiro avião que viu na Feira Estadual de Iowa em 1908, recorda o Amelia Earhart Hangar Museum. Ela só mudaria de opinião mais de uma década depois, quando, em 1920, aos 23 anos, Amelia compareceu a um show aéreo em Long Beach e voou com um piloto.

Após iniciar as aulas de voo, em seis meses ela usou suas economias para comprar a própria aeronave — um Kinner Airster amarelo de segunda mão que ela chamava carinhosamente de "Canário".

Dali em diante, Amelia começou a quebrar recordes. A NASA descreve seus feitos: a primeira mulher a voar sozinha pela América do Norte em 1929; um recorde mundial de altitude em 1931, quando sobrevoou a 18.475 pés; e a primeira mulher a voar sozinha através do Oceano Atlântico em 1932.

A piloto Amelia Earhart - Domínio Público

Naquele mesmo ano, mais uma prova de sua audácia. Ao pousar num campo na Irlanda, em 21 de maio, um agricultor perguntou o quão longe ela havia voado. "Da América", disse; provando o feito ao lhe mostrar um exemplar de um jornal do dia anterior. 

Por suas façanhas, Amelia Earhart conquistou admiração. Mas ela buscava mais. Então, em 1937, decidiu circunavegar o globo. A viagem estabeleceu o legado da aviadora, não da forma que ela esperava, é verdade; e também a tornou alvo de um dos maiores mistérios da história da aviação. 

Última viagem 

A viagem que culminou com o misterioso desaparecimento de Amelia Earhart começou de uma maneira conturbada. A NASA recorda que, inicialmente, ela planejou voar de leste a oeste.

Em 17 de março de 1937, Earhart decolou de Oakland para Honolulu, no Havaí, na companhia de outros três tripulantes: o navegador Fred Noonan (que sumiu com ela), o capitão Harry Manning e o piloto acrobático Paul Mantz.

Problemas técnicos frustraram a tripulação de deixar Honolulu para continuar a viagem três dias depois. No momento da decolagem, o avião Lockheed Electra 10E acabou fazendo um loop no solo e precisou ser reparado. 

Quando consertado, Manning e Mantz decidiram não seguir viagem. Em 20 de maio, Earhart e Noonan pousaram em Miami, na Flórida. Apesar do problema inicial, tudo correu bem a partir dali — com a dupla voando da América do Sul para a África e para o Sul da Ásia. 

"Ficamos gratos por termos conseguido atravessar com sucesso aquelas regiões remotas de mar e selva — estranhos em uma terra estranha", escreveu ela de Lae, na Nova Guiné, em 29 de junho, recorda o StoryMaps.

Três dias depois, em 2 de julho, a dupla deixou a Nova Guiné em sentido à isolada Ilha Howland, no Pacífico. Aquela seria uma das últimas paradas antes de voltar à América. Ao todo, eles completaram 35 mil quilômetros de viagem; faltando apenas 11 mil para o objetivo final. Mas Earhart e Noonan nunca conseguiram.

Às 7h42 do horário local, Amelia entrou em contato, via rádio, com um cúter da Guarda Costeira, o USCGC Itasca. Segundo a NBC News, a embarcação esperava na Ilha Howland para oferecer apoio.

A piloto Amelia Earhart - Domínio Público

"Devemos estar em você, mas não podemos vê-lo. Mas a gasolina está acabando", disse Earhart. "Não consegui entrar em contato com você por rádio. Estamos voando a 1.000 pés".

A embarcação, porém, não conseguiu contatá-la de volta, recordou a PBS. Cerca de uma hora depois, Earhart se comunicou novamente: "Estamos na direção 157 337", disse Earhart às 8h43, apontando possíveis rumos da bússola para indicar sua localização. 

Vamos repetir esta mensagem. Repetiremos isso em 6.210 quilociclos. Espere". Amelia Earhart, porém, jamais enviou outra mensagem. 

Fim do mistério?

Após quase 90 anos, o mistério sobre o paradeiro do avião de Amelia Earhart estaria próximo de seu fim. Pelo menos, é isso que anunciou uma equipe de busca da Deep Sea Vision no último final de semana.

Em setembro de 2023, uma tripulação de 16 pessoas iniciou a busca pelo Lockheed 10-E Electra de Earhart no fundo do Oceano Pacífico, perto da Ilha Howland, nas proximidades de Tarawa, Kiribati.

Cerca de um mês depois, eles capturaram, mediante sonar, uma imagem que se assemelha ao formato de um avião a 160 quilômetros da ilha.

Entretanto, vale ressaltar, a confirmação de que se trata da aeronave continua pendente; embora Tony Romeo, o piloto e investidor imobiliário que liderou as buscas, expressou confiança em relação a isso.

A piloto Amelia Earhart - Domínio Público

Não há outros acidentes conhecidos na área, e certamente não daquela época ou daquele tipo de design com a história que você vê na imagem", disse ele.

Ex-oficial de inteligência da Força Aérea dos EUA, Romeo investiu cerca de 11 milhões de dólares nas buscas — até o momento. O arqueólogo subaquático Andrew Pietruszka enfatizou a necessidade de uma investigação física antes de confirmar a identidade dos destroços.

Caso seja confirmado que os destroços realmente sejam do Lockheed 10-E Electra, a próxima grande questão será como eles conseguirão resgatar e preservar os destroços.