No século 18, o então vilarejo de São Paulo tentou uma revolta contra a metrópole – mas seu “líder” não estava nada feliz
O fazendeiro Amador Bueno levava uma vida sossegada, cheio de escravos índios e com algum poder na então vila de São Paulo, quando chegou a notícia do fim da União Ibérica (1580-1640), em março de 1641. São Paulo era um local bem diferente das cidades costeiras brasileiras, sofria grande influência dos espanhóis que viviam no restante da América Latina. Até a arquitetura era distinta.
A chegada ao trono português de João IV deixou os súditos da Espanha que moravam por aqui em polvorosa. Eles urdiram então uma "aclamação" de Amador Bueno, ele mesmo filho de um imigrante sevilhano, como rei de São Paulo.
A turba, comandada por espanhóis, engrossada por moradores e desocupados, dirigiu-se à casa do fazendeiro, na rua São Bento, aos gritos de "viva Amador Bueno, nosso rei". Ele, claro, recusou tamanha honraria e alertou que se estava diante de um crime de lesa-majestade. A multidão, enfurecida, passou a persegui-lo e até ameaça-lo de morte caso não empunhasse o cetro.
Bueno alojou-se no mosteiro de São Bento enquanto gritava "viva o senhor dom João IV, nosso rei e senhor, pelo qual darei a vida". Deixou a história esfriar e, no dia seguinte, foi para Santos, onde ficou até que a poeira baixasse.