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Matérias / Escravidão

Além do tronco: 10 métodos atrozes utilizados nos engenhos escravistas

De tudo era feito para torturar cativos insubordinados que buscavam a própria liberdade

André Nogueira Publicado em 23/05/2020, às 09h00

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Açoitamento por Debret - Wikimedia Commons
Açoitamento por Debret - Wikimedia Commons

O mundo do trabalho no Brasil é historicamente marcado pela coerção e violência. Com mais de 300 anos de escravidão na veia do desenvolvimento de nossa nação, o país é marcado por atrocidades dos mais diversos níveis, praticadas por feitores e proprietários de terra na nossa realidade colonial, tal como no Império.

Variando em diversas formas e instituições, mesmo clandestinas, a tortura de escravos como forma de punição marcou a realidade da escravidão no Brasil. De troncos, chibatas, torturas psicológicas e formas de isolamento perigosas, os escravos no Brasil sofreram os mais diversos reveses durante sua luta de séculos pela libertação.

Como afirma o historiador Vilson Pereira do Santos, em seu artigo Técnicas de Tortura: Punições e Castigos de Escravos no Brasil Escravista, “na sociedade escravista brasileira, em engenhos de cana-de-açúcar do nordeste e em fazendas cafeeiras do sul, as crueldades de senhores e feitores alcançam níveis extremos e incríveis: novenas e trezenas de matar”.

Ele continua: “anavalhamento do corpo, seguido do uso de salmoura; mutilações; estupros de negras escravas; castração de homens; amputação de seios; fraturas de dentes e ossos feitas a marteladas. Criou-se no interior da sociedade escravista uma longa tradição de formas requintadas de crueldade contra os escravos, algumas que chegaram às raias de práticas comuns ao sadismo”.

Conheça dez dessas atrozes formas de punição no mundo escravista.

1. Sal nas feridas

A chibata era a mais clássica forma de punição no mundo colonial. No caso do Império, essa forma de revés era exclusiva do governo — era praticada de maneira ilícita e corriqueira nos engenhos, sem fiscalização. As agressões causavam ferimentos abertos na pele dos escravizados, o que era usado também como forma de violência.

Isso porque nos casos de escravos mais rebeldes, além das chibatadas, era aplicado sal ou suco de limão nos ferimentos, para que se causasse imensa dor no prisioneiro. O ato também fazia com que as cicatrizes ficassem mais acentuadas e visíveis, criando uma espécie de alerta dos poderes do feitor e resultando em danos psicológicos no cativo.

2. Mutilação

Nas prisões e senzalas do mundo colonial, outra forma bastante disseminada de tortura entre escravos fugidos era a mutilação, como a quebra de ossos, arranchamento de membros ou dedos, golpes nas unhas e dentes, entre outros. Um método comum era a extração de genitais ou castração por faca quente.

Essas torturas ocorriam principalmente nas prisões do Estado, que marcaram o Período Joanino. A escritora Flora Thompson-Deveaux, em Notas sobre o Calabouço publicada na Revista Piauí, 2018, lembra: “não eram poucos os escravos que morriam ainda na prisão em decorrência dos fermentos, e muitos provavelmente morreram depois de sair do Calabouço”.

3. Prisão

Muitos escravos, diante de considerados menos graves, entretanto,  perigosos em termos de movimentação social, eram levados a prisões para que se isolassem do contato social e fossem mantidos em condições deploráveis. Esses lugares, que eram compartilhados com homens livres pobres e infratores, não levavam em conta as principais necessidades do ser humano, como alimentação e higiene.

Eram dois os mais relevantes lugres para esse destino no início do século 19: “a Cadeia (antigo Aljube) e o Calabouço eram as duas principais prisões do Rio de Janeiro, nas quais ficavam depositados os escravos, sendo o Calabouço exclusivo para os cativos. É importante destacar que as prisões à época não eram destinadas à ressocialização dos presos”, afirma Paloma Siqueira Fonseca (UnB) em De escravo a galé: a servidão penal no período joanino.

4. Correntes

Uma forma prática de evitar fugas e punir delinquentes era o uso de correntes nos pescoços, braços e calcanhares dos escravizados, principalmente nos casos urbanos. São muitos os registros, inclusive de Debret, dessa prática. Os objetos eram grandes e pesados, causando desconforto e dor nos cativos, muitas vezes marcando a pele profundamente e sufocando.

5. Marcas de identificação

Uma forma clássica de penar um escravizado que agiu de maneira contrária ao esperado, e se dava principalmente em casos de fuga, era a marcação de uma identificação em sua pele.

Por escarificação ou ferro quente, era cicatrizado um símbolo ou iniciais do proprietário, normalmente em regiões visíveis como braço, mão e, principalmente, rosto, que reafirmava na mente do cativo sua condição de propriedade.

Essas marcas faziam parte de todo um projeto mental dos escravistas, que enxergavam o mundo a partir da ideia de que a colônia devia ser regida pela ordem natural do senhor e do escravo. O cativo estaria fadado a sua condição de presa.

Como coloca Keila Grinberg, em Castigos físicos e legislação, “muitos juristas, políticos e senhores defendiam a manutenção de penalidades específicas para escravos, argumentando serem o “nível cultural” e a “evolução social” do país incompatíveis com os princípios clássicos da igualdade entre seres humanos”.

6. Máscara de Flandres

Essa punição, conhecida como Rosto de Ferro, causava grande desconforto aos escravos, impedindo que eles se alimentassem, se comunicassem direito ou mesmo respirassem naturalmente. Em muitos casos, isso gerava também crises de pânico e ansiedade. A maioria desses objetos era feita de aço laminado e eram trancados com cadeado.

7. Separação de famílias

Uma prática corriqueira dos engenhos era, desde o início, separar grupos étnicos para impedir sua articulação. Porém, como punição, era muito comum que feitores tirassem os bebês de suas mães, e muitos deles eram vendidos.

Muitos casos não foram feitos nem por benefício financeiro, mas para gerar desprazer e que isso fosse usado como prevenção contra novos casos de insubordinação: “a violência exagerada dos senhores contra os escravos se dava, na maioria das vezes, por necessidade de exemplificação aos outros escravos e geralmente recaia sobre os cativos velhos e sem expressivo valor econômico”, afirma Vilson Pereira.

8. Tronco

Tronco / Crédito: Wikimedia Commons

Infratores eram comumente amarrados a troncos e pilares para, de maneira desconfortável, ficassem ao sol, sofrendo. Na grande maioria dos casos, isso era acompanhado por um número de chibatadas, que abriam ferimentos enormes nas cotas nuas do escravo.

Como descreve Pereira, “para os escravos indolentes ou faltosos, devia-se principiar pelo castigo do pau, contudo, Deus os proverá para que possam comer e vestir, aí, neste sentido, referia-se a sua utilidade para o trabalho. É bem certo, que muitos senhores de escravos faziam mais caso de seus cavalos do que de meia dúzia de seus escravos”.

9. Perseguição por cães

Muitos casos de fugas foram resolvidos pelos feitores com a soltura de cachorros bravos e treinados para atacar os escravos, mordendo-os e até arrancando pedaços. Muitos negros morriam nessas situações, dilacerados por grupos grandes de cães raivosos. Na situação de perseguição, era quase impossível que o escravo saísse na vantagem.

10. Garrote

Esse equipamento sádico de tortura era muito usado: o escravizado era amarrado numa cadeira e era presa em seu pescoço uma banda (metal ou couro) ligada a uma haste e uma manivela. Quando o mecanismo é girado, a banda é pressionada, gerando o enforcamento do cativo, que muitas vezes levava a uma morte lenta. Porém, o objetivo principal era a tortura, pois o escravo era visto como um bem valioso.


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