Quando ainda era bebê, a pequena foi adotada ilegalmente por seu suposto pai biológico. Daquele dia em diante, sua vida virou um misto de frieza e crueldade
Por anos, os Estados Unidos não detinham quaisquer órgãos que protegessem os direitos das crianças do país. Por esse motivo, centenas de meninos e meninas norte-americanos ficaram desamparados.
Em meados de 1860, por exemplo, uma das única instituições que cuidava de casos de agressões em Nova York era o Departamento de instituições de caridade. Foi esse o órgão que recebeu o caso de Mary Ellen Wilson.
Abandonada, esquecida e adotada por desconhecidos, a menina foi alvo de agressões covardes que cessaram apenas quando Etta Angell Wheeler resolveu ajudar. Daquele dia em diante, a trajetória da menina virou uma saga frenética e, de certa forma, inspiradora.
Uma menininha sonhadora
Mary Ellen Wilson nasceu em março de 1864, no bairro de Hell’s Kitchen, em Manhattan. Natural de Nova York, então, a menina cresceu com pais trabalhadores que buscavam as melhores oportunidades na gigantesca cidade.
Durante a Guerra Civil, entretanto, seu pai, Thomas, faleceu. Sozinha, a mãe de Mary Ellen, Francis, teve de encontrar formas de se sustentar. O dinheiro, apesar de ajudar, era curto e não cobria os gastos da criação da menina.
Assim, Francis tomou a única decisão que estava ao seu alcance: entregou Mary Ellen a Mary Score, a trabalhadora de uma creche. A mãe da menina, contudo, já não conseguia visitá-la, muito menos pagar os gastos de Score.
Dessa forma, Mary Ellen, com quase dois anos, foi entregue ao Departamento de instituições de caridade de Nova York. O órgão, por sua vez, encontrou Thomas McCormack, um homem que dizia ser pai biológico da menina.
O começo do pesadelo
Casado com Mary Connolly, Thomas conseguiu a guarda de Mary Ellen em um processo ilegal, sem documentos ou recibos adequados. A única coisa que os McCormacks eram obrigados a fazer era apresentar anualmente um depoimento sobre os cuidados prestados à Mary Ellen — o que foi feito apenas duas vezes.
Pouco tempo depois da adoção, todavia, Thomas McCormack morreu e a jovem menina ficou sob os cuidados de Mary Connolly. A viúva casou-se com Francis Connolly e mudou-se para um apartamento, com Mary Ellen à tiracolo.
Foi no novo endereço que as agressões começaram. Vizinhos passaram a ouvir gritos e reclamações de maus-tratos por parte de Mary Ellen. Desesperados, os moradores pediram ajuda de Etta Angell Wheeler, uma missionária metodista.
A fim de solucionar a questão, Etta buscou uma forma de entrar na casa de Mary Connolly. Uma vez dentro do apartamento, a mulher encontrou a pequena Mary Ellen coberta por hematomas, desnutrida e com claras evidências de negligência.
Um anjo disfarçado
Aterrorizada pela situação, Etta começou a procurar por medidas legais que pudessem ser tomadas. Sem quaisquer órgãos que pudessem cuidar do caso, a missionária contatou Henry Bergh, um defensor do direito dos animais, criador da Sociedade Americana de Prevenção a Crueldade Contra os Animais.
Com o testemunho dos vizinhos em mãos, Etta e Henry moveram um processo contra Mary Connolly, buscando salvar Mary Ellen das crueldades da mãe adotiva. Aos 10 anos, a menina foi tirada da casa onde morava e o julgamento começou.
O caso foi levado à Suprema Corte do Estado de Nova Iorque, em 1874. Em seu próprio testemunho, a menina confirmou que era espancada regularmente. A pequena não era alimentada, era forçada a dormir no chão e ficava sozinha com frequência, além de ser proibida de sair de casa.
Na corte, Mary Ellen emocionou à todos quando disse não saber quantos anos tinha. “Mamma tinha o hábito de dar chicotadas e bater-me quase todos os dias”, narrou a menina. “Ela já me cortou com uma tesoura, não tenho lembrança de ter sido beijada por qualquer um. Ela nunca me acariciou ou me mimou.”
Após o deprimente e cirúrgico testemunho da criança, Mary Connolly foi condenada à um ano de cárcere privado. Como resposta ao caso cruel, a Sociedade de Nova York para a Prevenção da Crueldade contra as Crianças — primeira do gênero — foi criada.
Com a condenação da mãe adotiva, Mary Ellen foi enviada para um lar juvenil e acabou sendo adotada por Etta Wheeler. Aos 24 anos, a jovem se casou, teve dois filhos e decidiu, em homenagem à sua própria história, adotar uma menina órfã. Mary Ellen morreu apenas aos 92 anos, em 1956.
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