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Matérias / Crimes

Violadas por oficiais: A perturbadora história das freiras mortas em El Salvador

As religiosas chegaram ao país com o objetivo de se dedicarem à caridade, contudo, acabaram sendo recebidas com violência por parte de militares

Ingredi Brunato Publicado em 20/12/2020, às 10h00

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Fotografia de todas as freiras que foram na missão de caridade para El Salvador - Divulgação/ Maryknoll Mission Archives
Fotografia de todas as freiras que foram na missão de caridade para El Salvador - Divulgação/ Maryknoll Mission Archives

Em dezembro de 1980, um grupo de freiras norte-americanas realizava um trabalho de caridade em El Salvador, país da América Central, quando quatro delas foram sequestradas por integrantes da Guarda Nacional. Em seguida, diante de um episódio que chocou os EUA, as mulheres católicas foram estupradas e assassinadas. 

Eram elas Ford, de 40 anos, Maura Clark, de 49, Dorothy Kazel, de 40, e por fim a missionária leiga Jean Donovan, de apenas 27 anos, que na época planejava o próprio casamento

Pequeno memorial dedicado às freiras / Crédito: Divulgação/ SHARE 

A motivação por trás do brutal assassinato seria justamente às tarefas que as religiosas vinham se dedicando nos últimos tempos, que consistiam em ajudar camponeses que viviam em áreas rurais carentes. Tudo se deu porque o governo da época não enxergava as ações das religiosas com bons olhos, considerando-as “subversivas”. 

O crime, todavia, só fora desvendado treze anos depois, quando um relatório da Comissão da Verdade das Nações Unidas divulgou que dois militares do país tinham não apenas orquestrado as ações de violência, mas também tomado as providências para encobrir os rastros. 

Os esquadrões 

A irmã Maura Clarke em uma missão anterior para a Nicarágua / Crédito: Divulgação/ Maryknoll Mission Archives

Em uma ironia dramática, nove meses antes das freiras irem até El Salvador, duas delas atenderam ao funeral de um arcebispo chamado Oscar Romero, que havia sido executado pelos esquadrões da morte, compostos por militares de direita. 

Foi como um prenúncio de um futuro sombrio - um 'aviso', todavia, que não foi escutado por elas, uma vez que não cancelaram sua viagem futura para o mesmo país que tirara a vida do colega religioso. 

Eileen Markey, que escreveu um livro biográfico sobre Maura Clarke, explicou em entrevista para o site Global Sisters Report um pouco mais da mentalidade das mulheres religiosas.

"O que descobri sobre as quatro é que não eram especiais. Elas eram pessoas normais que tomaram uma série de decisões que as levaram a [El Salvador]. Por que ficar? O estranho teria sido se elas tivessem ido embora. Tudo o que fizeram as levou a trabalhar com o povo. Teria sido muito mais uma ruptura em seu caráter se tivessem saído.”

Tragédia

Da esquerda para a direita, Ford e Maura Clarke / Crédito: Divulgação/Maryknoll Mission Archives 

Por sequências de decisões aparentemente inócuas e pelo ideal da caridade que as freiras acabaram caindo em desgraça. Na manhã seguinte após serem interceptadas por militares, seus corpos sem vida foram descobertos por trabalhadores rurais. 30 quilômetros do local onde foram encontradas, estava a van que usaram para se locomover, completamente destruída pelo fogo.

Na época, não era possível desvendar o caso oficialmente, porque era justamente quem controlava a narrativa oficial que tinha mandado matá-las. O que não impedia especulações, com pessoas ligando os pontos por conta própria. A explicação oferecida na época foi que as mulheres católicas acabaram sendo vítimas de uma tentativa de roubo particularmente violenta. 

Depois da ONU investigar o acontecimento, foi revelado sem sombra de dúvida que o coronel Carlos Eugenio Vides Cassanova e o general Jose Guillermo Garcia estavam por trás dos sequestros e assassinatos. O primeiro, no caso, era diretor da Guarda Nacional em 1980, quando tudo aconteceu, enquanto o segundo ocupava o posto de ministro da Defesa. 

A verdade não podia trazer as freiras de volta, contudo, poderia resultar em alguma justiça para mulheres que foram enterradas em uma vala comum num país estrangeiro, sem direito a um funeral que reunisse seus entes queridos, ou sequer o real motivo pelo qual suas vidas acabaram. 


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