Falecido nesta quinta-feira, 29, Pelé realizou o feito histórico de pênalti e fez uma homenagem memorável às crianças desafortunadas na comemoração
Em uma quarta-feira, no dia 19 de novembro de 1969, todos esperavam apenas por um fato: o milésimo gol de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Há 51 anos, o Maracanã, mesmo em uma noite chuvosa, estava cheio: eram 65.157 pessoas no icônico estádio da cidade carioca. Nos gramados, um jogo morno, que viria a se tornar palco de um evento histórico.
A partida entre Vasco X Santos fazia parte do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Brasileirão do período. O enorme público teve que esperar até mais da metade do primeiro tempo para conseguir comemorar o feito. Mas, aos 34 do segundo tempo, o zagueiro Fernando Silva, do Vasco, derrubou Pelé dentro da grande área.
Falecido nesta quinta-feira, 29, o Rei do Futebol tinha corrido para receber um passe em profundidade de Clodoaldo e foi jogado ao chão. O árbitro marcou pênalti — e o santista se preparou para bater a cobrança. Para o causador da penalidade máxima, porém, afirma até hoje que aquilo não foi um pênalti.
No ano passado, em entrevista ao Globo Esporte, ele disse: “O Pelé, com a habilidade que ele tinha, com a inteligência que sempre teve como jogador de futebol, bateu na minha perna e caiu, o árbitro marcou o pênalti. Mas não foi pênalti, eu afirmo que não foi. O árbitro marcou e, infelizmente para o Clube de Regatas Vasco da Gama, foi consumado o gol”.
O gol de número 1.000 foi marcado às 23h23 daquele dia, há pouco mais de meio século. "A bola branca atravessou a linha de gol aos 34 minutos, 12 segundos e 9 décimos, para estabelecer uma ponte entre a realidade e a fantasia: o milésimo gol de Pelé", cravou o jornal O Estado, no dia seguinte.
“A minha preocupação, que é uma coisa que ninguém pode estar passando que eu passei, é que todo mundo acha que pênalti é fácil de bater. Mas, quando eu coloquei a bola na marca do pênalti, todo mundo começou a gritar 'Pelé', Pelé', e eu comecei a tremer, a ficar nervoso e a pensar: 'não posso errar, não posso errar”, confessou o Rei em entrevista à Agência Efe.
Ele cobrou no canto com o pé direito e, caprichosamente, marcou seu milésimo gol. O goleiro do Vasco na época, Edgardo Andrada, tentou defender, mas ainda ficou conhecido como "Arqueiro Mil" após a bola branca passar por ele e garantir a vitória do Santos por 2 a 1.
Segundo contado pelo History, o goleiro chorou pelo título que recebeu naquela noite, ao deixar a bola ultrapassar a linha do gol. Eles teriam conversado por rádio no vestiário depois do jogo.
Andrada disse: "Você merece muito mais de mil gols, Pelé. Mas lamento que tenha sido eu o goleiro mil. Confesso que não queria de jeito algum que você fizesse esse gol em mim". "Uma das coisas que gostei foi que você fez tudo para evitar o milésimo gol, o que o valorizou", respondeu Pelé.
Depois do gol mil, a alegria tomou o Maracanã. Repórteres e fotógrafos invadiram os gramados e Pelédedicou o momento às crianças. “Pelo amor de Deus, minha gente! Agora que todos estão ouvindo, faço um apelo especial a todos: ajudem as crianças pobres, ajudem os desamparados. É o único apelo nesta hora muito especial para mim".
Ele correu atrás da bola e a segurou como seu prêmio de mil gols, mas o jogo ainda não tinha chegado ao fim. Ainda assim, parecia que todos estavam mais que satisfeitos com o resultado — era possível sentir todo o estádio aplaudindo de pé o grande feito do Rei do Futebol, mesmo com a derrota do Vasco em terras cariocas.
O Rei do Futebol vestiu a camisa com número 1.000 e deu uma volta olímpica pelo Maracanã. Relembrou novamente a caridade, “ajudemos às crianças desafortunadas, que precisam do pouco de quem tem muito”, disse nos vestiários.