Uma mulher morreu em circunstâncias enigmáticas, numa cena que a princípio parecia um suicídio, mas que era bem mais complicada do que aparentava
Em uma manhã de maio de 1995, uma mulher fez check-in no Plaza Hotel, um estabelecimento norueguês que ficava na cidade de Oslo e era de alto padrão, inclusive sendo conhecido por abrigar reuniões onde era discutida a manutenção da paz entre potências estrangeiras e o país, por isso não sendo incomum que figuras importantes andassem pelos corredores.
A mulher era jovem, branca, apresentava cabelo preto e curto, olhos azuis, e aproximadamente 1,60 metros de altura. Também informou nos documentos do hotel que seu nome era Jennifer Fairgate, no entanto, esse dado se provaria falso posteriormente, assim como seu endereço, que se referia a uma rua existente da Bélgica, porém com um número que não existia nela.
Claramente, “Jennifer” queria que sua identidade permanecesse um segredo, o que, aliás, ela fez com tanta eficiência que até hoje não sabemos quem era ela. Porém, existe mais a respeito dessa história além de uma mulher tentando proteger seu anonimato.
Horas mais tarde, ela foi encontrada morta em seu quarto, por um funcionário que percebeu que o número de cartão de crédito fornecido pela moça era inválido.
Na época, o caso foi considerado suicídio porque a mulher misteriosa estava sozinha no quarto, não havia sinal de luta, e o mais auto-evidente: o revólver usado para tirar sua vida estava em sua mão. Porém, as circunstâncias estranhas da história sugerem que havia algo mais acontecendo ali.
O funcionário que tinha como objetivo questionar Fairgate sobre seu cartão de crédito, por acaso, chegou ao local na hora H, bem a tempo de ouvir um tiro dentro do quarto da moça. Porém, como não carregava a chave mestra, não conseguiu abrir a porta, que estava trancada por dentro. Caso ele carregasse, certamente, a história toda teria muito menos enigmas decifrados.
Em vez disso, houve um buraco de cerca de 15 minutos entre o momento do tiro, e o momento que a equipe do hotel adentrou o quarto. O que eles encontraram lá foi um cenário sem sentido.
A mulher que havia morrido não tinha nenhum documento com ela, seja a identidade ou a carteira de motorista, e tampouco possuía as chaves de casa ou até mesmo objetos de higiene pessoal.
De forma ainda mais esquisita, também estavam faltando às etiquetas de suas roupas - que poderiam dar alguma pista de onde ela era - e até o número de registro de sua arma foi removido.
Em um dos últimos episódios da série Mistérios sem Solução, da Netflix, em que a história de Fairgate foi revisitada, a equipe de produção entrevistou Lars ChristianWegner, um jornalista norueguês que relatou o caso na época em que ele ocorreu, e, instigado, procurou pistas sobre a mulher misteriosa ao longo dos anos.
Segundo ele, a Bélgica não possuía registro de ninguém com o nome de “Jennifer Fairgate”, e tampouco a justiça foi informada do desaparecimento de alguém que encaixasse em sua descrição.
A recepcionista do hotel informou na época que ela falava tanto inglês quanto alemão, mas não parecia ter muito sotaque em nenhuma das duas línguas. Já os exames post-mortem de seu DNA e arcada dentária apenas apontaram para uma idade por volta dos 24 anos, e herança europeia.
“Não há vestígios. Não há caminhos a seguir. É como seguir um fantasma”, comentou Wegner.
Na perspectiva de Ola Kaldager, líder do E14 (grupo do serviço de inteligência da Noruega), que analisou os documentos do caso e uma reconstrução da cena do crime, Jennifer poderia ser uma agente secreta que fora assassinada por uma organização governamental.
Essa conclusão teria sido alcançada pelo especialista em vista de alguns elementos, entre eles a ausência de manchas de sangue na mão da mulher que segurava a arma, o fato do objeto continuar entre seus dados após sua morte (sendo que o tranco do tiro tinha grandes chances de fazê-la cair), e também o detalhe de suas roupas não apresentarem etiquetas - o que, segundo ele, era comum para agentes em campo.
“Do meu ponto de vista, esta é uma operação de inteligência muito bem realizada. O que realmente aconteceu lá é muito difícil de dizer, mas tenho a sensação de que ela foi executada. Se ela fosse uma agente de inteligência e fosse morta dessa forma, os dois lados ficariam muito calados”, concluiu o líder na produção da Netflix, apontando também que o motivo pelo qual ninguém relatou o desaparecimento de Fairgate poderia ser devido a chantagens ou subornos.
Tanto no episódio da série documental da Netflix - quanto fora da produção - foram elaboradas inúmeras teorias para determinar o que aconteceu com Jennifer, algumas delas envolvendo pessoas que estavam em outros quartos do hotel no dia de sua morte.
A verdadeira identidade da mulher que morreu naquele hotel, todavia, assim como os acontecimentos finais que levaram à sua morte, talvez nunca sejam descobertos.