Confira maneiras para conhecer novos lugares e fazer amigos sem mexer no bolso
Pois bem, seguem aqui alguns passos que podem ser úteis para quem tem o mesmo problema que eu: muita vontade de viajar e pouco dinheiro no bolso. É mais simples do que parece.
Há uma matriz de viagem que você deve ter em mente: quanto menos dinheiro, maior precisa ser a sua capacidade de adaptação, flexibilidade e improvisação. Isso de forma alguma quer dizer que você vai ter que passar fome ou pedir esmola; longe disso, apenas você vai ter de utilizar outras formas para além do prosaico método da compra: fazer amigos, sorrir mais, ver no que vai dar.
Se você encarar os imprevistos como parte da viagem, provavelmente vai descobrir que as melhores experiências, aquelas que você vai lembrar para a vida toda, simplesmente costumam vir dos mesmos imprevistos de onde também saem as piores situações. Esteja preparado e desfrute os dois, é tudo parte do mesmo estilo de vida. Viajar é mais do que se deslocar do ponto A ao ponto B. A atitude entre esses dois pontos é o que faz a diferença.
Imagine alguém de fora chegando na sua cidade …. Por mais que os guias de viagem e agências de turismo se esforcem, normalmente ninguém saberá melhor do que você como encontrar aqueles lugares que poucos conhecem, ou ter experiências melhores gastando pouco ou mesmo nada. Por que seria diferente quando é com você em outro lugar?
Não subestime o poder da conversa despretensiosa, olhe no olho, pergunte, sorria mais, e dessa base sai todo o restante. Os melhores lugares, que coisas evitar, para onde ir… Você poderia ser antissocial e simplesmente pagar por tudo sem sequer olhar para as pessoas que te servem. Nesse caso, eliminando o dinheiro como forma principal de troca, as relações humanas são de vital importância. Dito isso, podemos ir para itens mais práticos.
Cozinhe, ou coma a comida local: você vai comer mais, melhor, mais fresco e pagando bem menos. Pergunte aos moradores locais onde eles comem, passeie pelo mercado local, converse. A comida local faz parte da cultura, então não faz sentido ir a outro lugar para buscar apenas o que você já tinha na sua cidade. Claro, nada impede de ocasionalmente buscar aquela pizza, ou ir em um restaurante legal. Nada precisa ser radical.
Cozinhar também ajuda e muito. Opte por hospedagem em um local com cozinha, ou leve um fogareiro no seu acampamento, com o tempo você acostuma com ele. Faça novos amigos e cozinhe com eles. Comer vai além da relação meramente comercial do restaurante, faça disso algo a mais.
É incrível como se gasta dinheiro com água engarrafada, ainda que seja possível e relativamente simples obter água potável de forma segura e quase grátis. Pastilhas de cloro são encontradas em qualquer farmácia, ou mesmo água sanitária. Dê uma olhada na quantidade indicada por litro para fazer a mistura (costuma ser uma média de 3 gotas por litro).
Note que a quantidade indicada muda de acordo com a fonte da água, se é da bica (já clorada), do poço ou do rio. A água fica segura e com custo praticamente zero, já que você pode simplesmente encher as suas garrafas nas casas por onde passa.
Água gelada faz falta? Não seja por isso! Dá para fazer a sua térmica usando apenas garrafa, fita adesiva, papel-alumínio e jornal, funciona muito bem. Se você dormir num local onde há geladeira, deixe as garrafas congelando e seja feliz durante todo o dia seguinte (claro, lembre-se de não encher a garrafa por completo, afinal o gelo expande e pode estourá-la).
Acampe ou use aplicativos de hospedagem gratuita. Nas cidades menores, pedir para acampar no quintal é mais simples do que se imagina, e nas cidades grandes há normalmente os tais apps. Para acampar, existe uma abordagem mais amigável e eficiente. Ao perguntar se você pode acampar no quintal da pessoa, dizer “não” pode ser constrangedor e ela pode sentir se invadida com o pedido.
Ao invés disso, pergunte onde você consegue achar um lugar para acampar. Dessa forma, fica implícito o pedido de acampar com a pessoa e ela aceita caso se sinta confortável. Caso ela não ofereça o espaço, certamente vai te indicar um local ou pessoa onde as suas chances serão melhores. Pergunte o nome dessa pessoa.
Chegando no local seguinte, você já vai poder dizer. “O senhor que é o Seu Zé? A Dona Maria ali da esquina disse que o senhor pode ajudar a saber onde posso acampar essa noite!”. A pessoa vai se sentir lisonjeada em ser uma referência de hospitalidade. Caso não funcione, essa pessoa vai te indicar outra pessoa ou lugar, e assim segue o baile, mas não costuma demorar. Sorria, olhe no olho, não use óculos escuros, vá para fazer amigos: esse conjunto tende a gerar uma maior hospitalidade que vai te garantir um lugar para dormir.
Se for parar em cidades maiores, a hospitalidade com desconhecidos pode ser menor, mas em compensação há os apps de hospedagem gratuita. Basicamente, são redes sociais onde você se inscreve, hospeda (caso queira) e é hospedado, sempre gratuitamente, e assim se forma uma comunidade de ajuda mútua entre viajantes.
Há o clássico Couchsurfing, além de grupos de Facebook (como o “Acampe no meu quintal), entre outros. Para ciclistas, há uma excelente opção, o app Warmshowers, que funciona de maneira semelhante ao Couchsurfing, porém é destinado apenas para ciclistas.
O legal pode ser justamente substituir as relações comerciais por amizade. Ao invés de gastar o dinheiro pagando hospedagem, você pode simplesmente ir ao mercado e comprar comida para que todos cozinhem juntos, ou comprar bebidas. Será mais divertido, barato e te trará mais experiências e amigos.
Você não precisa ser um eremita para viajar gastando pouco. Se há uma coisa que não falha em qualquer lugar do mundo, em qualquer época, é que as pessoas dançam, fazem música e encontram maneiras baratas de se alcoolizarem.
Descubra as bebidas locais, caminhe pela cidade, pesquise se tem algum festival gratuito ou barato rolando, faça amigos locais. Divida uma garrafa de vinho com seus novos amigos, compre mais coisas no mercado, faça piqueniques. Cada lugar tem as suas particularidades. Como descobri-las? Converse, pergunte, isso também te ajuda a se integrar com o lugar.
Acredite, sua perna não cai se você usar outros transportes além do táxi. Caminhe, alugue umabicicleta, use transporte público, as opções são inúmeras e variam de lugar para lugar. Na grande maioria dos lugares no mundo, você não vai ser morto, assaltado ou sequestrado ao fazer isso, ainda que a TV diga o contrário.
Ainda nos locais mais perigosos, o que pode acontecer é que você não possa transitar por todos locais em todos os horários, mas isso é mais raro que parece. Sempre pergunte aos locais sobre isso, a mais de um, inclusive. O táxi pode ser considerado também, mas não como um modal absoluto. Saindo de uma festa de madrugada ou em emergência, por que não? Apenas lembre-se que essa é uma opção entre muitas outras, e que algumas vezes dividir o táxi entre um grupo pode ter o mesmo preço do ônibus.
Você vai se surpreender com até onde pode chegar e quanto economiza usando transporte urbano para locomoção intermunicipal, ainda que fazendo alguma baldeação. Use intermodais (conexão entre diferentes transportes públicos tipo ônibus + trem) Entre estados e países, as experiências podem ser incríveis usando ônibus ou trem, ou mesmo carona.
Claro, eu não poderia esquecer do meio que eu mesmo mais utilizo, a bicicleta. De bike é possível se locomover de qualquer lugar para qualquer lugar no mundo, literalmente, com umas pequenas conexões em caso de água.
Usar o roaming do celular pode ser extremamente caro. Considere comprar um chip local para fazer as chamadas locais. Converse com as pessoas sobre o melhor chip para internet. Você pode se surpreender com a economia que se faz com isso. Dependendo do lugar, há aqueles estabelecimentos que oferecem Wi-Fi, mas disso vocês já devem saber e não pretendo me estender chovendo no molhado.
Trabalhe em troca de lugar para dormir e comida (bares e hostels costumam oferecer essa opção). Isso te dá autonomia para conhecer mais o lugar gastando quase nada, já que esses tipos de trabalho costumam ocupar poucas horas do dia e tendem a ser leves e até divertidos. Vale atentar para permissões e vistos para isso.
Você pode ver formas de exercer a sua profissão em outros lados do mundo, ou até mesmo aprender outras em que isso seja possível. Pode ser rentável e prazeroso. Se você produz conteúdo na viagem e/ou possui uma rede forte, é possível monetizar isso, com Crowdfunding, financiamentos recorrentes, rifas etc.
Texto originalmente publicado na revista Bicicleta (Edição 120)
*Por Ricardo Martins