Novo estudo aponta que evento incomum registrado na época pode ter levado a interpretações erradas sobre o campo magnético de Urano
Muito do que se sabe hoje sobre o planeta Urano vem de uma missão da NASA chamada Voyager 2, realizada em 1986. A sonda não tripulada passou cinco dias sobrevoando o terceiro maior planeta do Sistema Solar, que está a uma distância de 2,6 a 3,2 bilhões de quilômetros da Terra. Durante essa breve visita, a Voyager 2 observou um fenômeno peculiar: um evento de vento solar intensificado poucos dias antes de sua chegada, que comprimiu a magnetosfera do planeta.
Segundo um estudo publicado na Nature Astronomy em 11 de novembro, esse evento incomum pode ter levado a interpretações erradas sobre o campo magnético de Urano. Na época, os dados indicavam que a magnetosfera de Urano parecia desprovida de plasma — o quarto estado da matéria, altamente energizado e normalmente encontrado em outras atmosferas planetárias. Em vez disso, foi detectada uma compressão extrema, acompanhada por cinturões intensos de elétrons energizados.
Para investigar melhor, cientistas revisitaram os dados coletados pela Voyager 2 antes do sobrevoo. “Descobrimos que as condições extremas do vento solar, observadas durante o sobrevoo, ocorrem apenas cerca de 4% do tempo”, disse Jamie Jasinski, físico espacial do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, à Reuters. “O encontro ocorreu durante o pico máximo da intensidade do vento solar em um período de oito meses.”
O campo magnético de um planeta age como uma barreira, protegendo-o de partículas carregadas — o plasma — que fluem do Sol no chamado vento solar, de acordo com o portal Galileu. Durante o evento observado, a magnetosfera de Urano foi comprimida, reduzindo seu volume em aproximadamente 20%. Esse fenômeno extremo também gerou cinturões de elétrons altamente energizados, consequência da energia absorvida do vento solar.
“O sobrevoo foi cheio de surpresas, e estávamos procurando uma explicação para seu comportamento incomum. A magnetosfera medida pela Voyager 2 foi apenas um momento específico”, afirmou Linda Spilker, integrante da equipe da missão Voyager 2, em comunicado. “Este novo trabalho explica algumas das aparentes contradições, e mudará nossa visão de Urano mais uma vez.”
Além disso, os cientistas sugerem que duas das luas de Urano, Titânia e Oberon, possam estar imersas na magnetosfera do planeta e podem apresentar sinais de atividade geológica recente. A fonte destaca que essa nova compreensão abre portas para futuras missões, que poderão explorar potenciais oceanos subterrâneos nessas luas.
+ Confira aqui o estudo completo publicado na Nature Astronomy.