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Notícias / Antonio Cicero

Poeta Antonio Cicero morre na Suíça e deixa carta de despedida

Diagnosticado com Alzheimer, o poeta carioca Antonio Cicero optou pelo suicídio assistido na Suíça; decisão foi divulgada em uma carta

Redação Publicado em 23/10/2024, às 12h04

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Antonio Cicero - Divulgação/ABL
Antonio Cicero - Divulgação/ABL

Nesta quarta-feira, 23, morreu o poeta carioca Antonio Cicero, aos 79 anos. Imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), letrista e irmão da cantora Marina Lima, Cicero sofria do mal de Alzheimer eoptou pelo suicídio assistido na Suíça.

Juntamente com a notícia de sua morte, foi divulgada uma carta pela ABL na qual Cicero explica sua decisão. Nela, ele menciona a eutanásia, que se trata da administração de uma dose letal de medicamento por um médico, com o consentimento do paciente em estado terminal e sem perspectivas de melhora.

No entanto, na Suíça e em outros países, o que é permitido é o suicídio assistido, no qual o próprio paciente ingere o remédio letal, geralmente utilizado por pessoas em fase terminal de doenças incuráveis.

Confira a carta de Antonio Cicero:

“Queridos amigos,

Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia.

O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.

Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.

Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.

Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.

Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.

A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.

Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.

Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.

Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”

Trajetória

De acordo com informações do site da ABL, Antonio Cicero Correio Lima nasceu no Rio de Janeiro em 6 de outubro de 1945.

Irmão da cantora Marina Lima, Cicero foi autor de sucessos como “Fullgás”, “Pra Começar” e “À Francesa”, em co-autoria. Ao longo de sua carreira, ele também trabalhou com artistas renomados como João Bosco, Orlando Morais,Adriana Calcanhotto e Lulu Santos, sendo “O Último Romântico”, de Lulu, um de seus destaques, lançado em 1984.

Em 10 de agosto de 2017, Cicero foi eleito para a cadeira número 27 da ABL, substituindo Eduardo Portella, e tomou posse em 16 de março de 2018.

Ele publicou quatro livros de poesia: “Guardar” (Editora Record, 1996), “A Cidade e os Livros” (Editora Record, 2002), “Livros de Sombras: Pintura, Cinema e Poesia” (2010) e “Porventura” (Editora Record, 2012).

Formado em filosofia, também escreveu três ensaios: “O Mundo Desde o Fim” (Francisco Alves, 1995), “Finalidades sem Fim” (Companhia das Letras, 2005) e “Poesia e Filosofia” (Civilização Brasileira, 2012).

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