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Notícias / Pintura

Pintura controversa pode ser único retrato feito em vida de rainha do século 16

Exposta em Wrest Park, na Inglaterra, obra que pode representar a "Rainha dos Nove Dias" tem gerado debates entre especialistas

por Giovanna Gomes
ggomes@caras.com.br

Publicado em 19/03/2025, às 10h08

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Pintura está sendo analisada por especialistas - Divulgação/English Heritage
Pintura está sendo analisada por especialistas - Divulgação/English Heritage

Especialistas estão analisando um retrato que pode ser a única representação conhecida de Lady Jane Grey feita ainda em vida. Até hoje, todas as outras imagens da breve rainha inglesa do século 16 foram criadas após sua execução, incluindo a famosa obra "A Execução de Lady Jane Grey", de Paul Delaroche.

Atualmente exposta em Wrest Park, na Inglaterra, a pintura tem gerado debates sobre a identidade da figura retratada. Uma nova análise conduzida pela English Heritage, em parceria com o Instituto Courtauld de Arte, reforça a hipótese de que o retrato seja, de fato, da monarca conhecida como a "Rainha dos Nove Dias".

Os pesquisadores utilizaram técnicas como dendrocronologia (datação pela análise dos anéis de crescimento da madeira), fluorescência de raios X e reflectografia infravermelha. O painel de madeira no qual a obra foi pintada foi datado entre 1539 e 1571, período que coincide com a vida de Lady Jane Grey.

De acordo com o portal Galileu, a investigação também revelou que o retrato passou por alterações significativas ao longo do tempo. Foram feitas mudanças no traje da personagem e na direção de seu olhar – que originalmente se voltava para a direita e foi redirecionado para a esquerda. Além disso, o lenço branco sobre seus ombros parece ter sido acrescentado posteriormente, assim como o formato da capa de linho que cobre seus cabelos foi bastante modificado.

Quadro de Paul Delaroche; à direita, a pintura analisada pelos especialistas / Crédito: Divulgação/Domínio Público e English Heritage

A análise também destaca que, em algum momento, olhos, boca e orelhas foram propositalmente apagados, um indício de possível ataque iconoclasta, prática comum em períodos de conflito religioso ou político.

“O novo estudo fornece evidências intrigantes que nos aproximam muito mais da afirmação de que esta poderia ser Lady Jane Grey”, afirmou Peter Moore, curador da English Heritage em Wrest Park. Embora não seja uma conclusão definitiva, a pesquisa torna a identificação cada vez mais plausível.

A escritora Philippa Gregory, que também estudou a pintura, destacou a importância dessa possível descoberta. “Se esta for mesmo Jane Grey, é uma adição valiosa à sua iconografia, apresentando-a como uma mulher de caráter – um poderoso desafio à representação tradicional dela como uma vítima vendada”, disse. Gregory ainda comparou as feições do retrato com as de uma pintura de Lady Jane exposta na National Portrait Gallery, apontando semelhanças significativas.

Após mais de 300 anos no acervo de Wrest Park, o retrato – que pertence a uma coleção privada – volta a ser exibido ao público. A mostra também apresenta outras seis pinturas históricas, algumas recém-adquiridas ou cedidas por colecionadores.

Rainha da Inglaterra

Lady Jane Grey governou a Inglaterra por apenas nove dias, em julho de 1553, após a morte de Eduardo VI. O rei protestante nomeou Jane, sua prima, como herdeira, numa tentativa de impedir a ascensão de sua meia-irmã católica, Maria Tudor. No entanto, o apoio a Maria cresceu rapidamente, levando à deposição, prisão e posterior execução de Jane. Com apenas 17 anos, ela foi condenada por traição e decapitada na Torre de Londres, em fevereiro de 1554.

A trágica história da monarca inspirou diversas obras de arte, como a pintura de Paul Delaroche, exibida no Salão de Paris de 1834. Na cena, Jane aparece guiada para o bloco de execução, vestindo branco como símbolo de inocência. A obra foi esquecida por décadas até ser redescoberta em 1973 e hoje é uma das peças mais populares da National Gallery, em Londres.