Novo estudo publicado no último dia 17 no periódico Advances in Atmospheric Sciences analisou fenômeno registrado por fotógrafos chineses
Fotógrafos chineses registraram, na noite de 19 de maio de 2022, um verdadeiro espetáculo nos céus sobre a Cordilheira do Himalaia: relâmpagos vermelhos que iluminaram as montanhas com um brilho impressionante.
O fenômeno, visualmente deslumbrante e batizado de “sprites vermelhos”, chamou atenção pela raridade e beleza, levando pesquisadores a investigarem sua origem. Os resultados desse estudo foram publicados no último dia 17 no periódico Advances in Atmospheric Sciences.
De acordo com a revista Galileu, os sprites vermelhos, que se assemelham a águas-vivas com seus lampejos curtos e intensos, são descargas elétricas que ocorrem em altitudes entre 50 e 90 quilômetros acima de tempestades. O registro feito pelos fotógrafos chineses foi tão impactante que a imagem recebeu o título de Cosmic Fireworks e conquistou o primeiro lugar na categoria Skyscapes do concurso Astronomy Photographer of the Year de 2023, promovido pelo Observatório Real de Greenwich.
Durante o evento, foram capturados 105 sprites em uma única tempestade no sul da Ásia — um recorde para a região. Além disso, os pesquisadores documentaram, pela primeira vez, um brilho atmosférico esverdeado na base da ionosfera noturna, que ficou conhecido como “sprite fantasma”.
A análise científica desse fenômeno, no entanto, enfrentou desafios: os registros fotográficos não informavam datas e horários exatos. Para contornar a dificuldade, a equipe utilizou trajetórias de satélites e a análise do campo estelar para sincronizar o tempo das imagens com precisão. Esse método permitiu aos cientistas correlacionar cada sprite às descargas elétricas específicas que os originaram.
Relâmpagos são descargas elétricas naturais causadas por um desequilíbrio de cargas em nuvens de tempestade, chamadas cumulonimbus. No caso dos sprites vermelhos, a descarga ocorre muito acima dessas nuvens, sendo resultado da excitação de moléculas de nitrogênio, o que produz a tonalidade rubra característica. Como essas descargas duram apenas milissegundos, capturá-las é um verdadeiro desafio.
“Este evento foi realmente notável”, afirmou Gaopeng Lu, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia da China. Segundo ele, a análise mostrou que os sprites foram desencadeados por descargas elétricas positivas de alta intensidade que partiram das nuvens em direção ao solo, dentro de um massivo sistema convectivo de mesoescala. Isso indica que tempestades na região do Himalaia têm potencial para gerar algumas das descargas elétricas superiores mais complexas e intensas já observadas.
O estudo também revelou que essas descargas se originaram em áreas de precipitação estratiforme, conhecidas por chuvas contínuas e homogêneas. A intensidade do fenômeno foi amplificada por Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM), sistemas de tempestades que se estendiam da Planície do Ganges às encostas do Planalto Tibetano, e que são responsáveis por eventos climáticos severos, como fortes chuvas, granizo, raios e rajadas de vento.
Para os pesquisadores, a grande descoberta é que o Himalaia pode atuar como um importante gerador de fenômenos elétricos atmosféricos complexos, com impactos relevantes nas dinâmicas físicas e químicas da atmosfera terrestre.
+ Confira aqui o estudo completo publicado no Advances in Atmospheric Sciences.
