Com introdução de Maria Sílvia Betti, o livro foi escrito durante a ditadura militar brasileira, apresentando as problemáticas daquele período
Recém-lançada pela Temporal Editora, a obra “Mão na luva”, de Oduvaldo Vianna Filho conta a história de um casal que vive uma crise iminente no casamento, na medida que a esposa quer o divórcio e o marido não aceita as motivações da companheira.
No decorrer das páginas, os leitores irão se deparar com uma sequência de flashbacks, traições, silenciamento e conflitos agressivos entre o casal, diante de um cenário político conturbado.
Mais tarde, o nome dos personagens são revelados e mostra que o casal já fez parte da militância de esquerda. Contudo, o marido abandonou os seus ideais e virou o oposto daquilo que a esposa e ele lutaram.
Escrita em 1966, a obra apresenta uma complexidade formal e analítica da da classe média após o Golpe de 1964.
De acordo com a pesquisadora Rosangela Patriota, da Universidade Presbiteriana Mackenzie: “Vianna Filho estetizou a política”. Além disso, com uma linguagem única, o autor foi capaz de abordar as raízes da cultura brasileira.
Embora a peça tenha sido escrita originalmente em 1966, foi somente em 1984 que ela foi encenada, sob a direção de Aderbal Freire Filho, no mesmo ano em que o livro foi publicado pela primeira vez.
Originalmente, a obra foi nomeada de “Corpo a corpo”, assim como seu monólogo posterior, de 1970. Contudo, a partir da edição organizada pelo crítico Yan Michalski, surgiu o título definitivo “Mão na luva”.
Atualmente, a edição relançada pela Temporal Editora encontra-se disponível na Amazon em formato Kindle e conta com a ilustre introdução de Maria Sílvia Betti.
Nascido em 1936, no Rio de Janeiro, o autor era filho do dramaturgo Oduvaldo Vianna e da radialista Deocélia Vianna. Sob influência de seus pais, desde cedo entrou para a militância política comunista.
Ainda na adolescência ingressou para o movimento estudantil, onde organizou o Teatro Paulista do Estudante, junto do colega de militância Gianfrancesco Guarnieri. Ao longo de sua carreira, o dramaturgo foi responsável por diversas outras transformações no campo das artes, sendo fundamental para a criação de um teatro político de rua.
Com o Golpe de 1964 e a implantação da ditadura militar no Brasil, o escritor enfrentou diversos obstáculos, mas resistiu bravamente ao autoritarismo e à censura, que se intensificou em 1968, com o Ato Institucional número 5.
Diversas obras e peças organizadas pelo dramaturgo foram censuradas durante este período. Todavia, isso não o impediu de continuar produzindo sua arte.
Infelizmente, ele veio a óbito em 1974, mas o seu legado para a cultura nacional é inestimável, sendo amplamente reverenciado nos dias atuais.