Por anos, o cantor foi para os centros de SP e RJ e fez questão de ser seu próprio camelô contra a pirataria
Wallacy Ferrari, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 05/04/2021, às 15h35 - Atualizado às 21h45
O prestígio de Agnaldo Timóteo na música popular brasileira pode até ter sido incontestável pelo público que o acompanhava por décadas, mas passou a ser gradativamente menor para as gravadoras que o acompanharam no passado. Falecido no último sábado, 3, em decorrência do covid-19, os maus bocados iniciaram décadas antes.
Após anos tendo suas obras publicadas pela gravadora EMI-Odeon, totalizando 26 álbuns, o artista passou a maior parte das décadas de 1980 e 1990 lançando álbuns por outros famosos selos da indústria fonográfica, como a 3M, a Som Livre, Globo/Columbia e, por fim, na Sony Music.
O controle limitado de divulgação e criatividade resultaram na queda de vendas — bem diferente dos 20 primeiros anos de carreira, onde figurou 13 vezes a lista dos cinquenta discos mais vendidos do Brasil, como informou a Piauí. Cansado do cenário, não apenas decidiu lançar os álbuns seguintes em selos independentes, como criou sua própria estratégia de divulgação.
Sua estratégia buscava matar três coelhos numa cajadada só; a primeira era vencer as grandes gravadoras, depois vencer as bancas de jornal - que passaram a ser usadas com frequência por artistas independentes após o sucesso do álbum "A Vida É Doce" de Lobão em 1999 - e por fim, vencer a pirataria.
O único lugar onde todos estes elementos estavam unidos era a rua — e era lá que Agnaldo estaria. Entre os anos de 2001 e 2004, o cantor se instalou em pontos movimentados de São Paulo e Rio de Janeiro com sua própria barraquinha, que horas antes, passava anunciando que Agnaldo Timóteo venderia discos autografados, como noticiou a Gazeta.
Olho-no-olho, calculou ter vendido mais de 35 mil cópias nos dois primeiros anos, trabalhando cerca de seis horas em dias variados e fixando o preço em R$ 10,00 por disco — R$ 3 gastos na prensagem e RS 7 de lucro, bem mais do que ganharia com a venda em bancas, como informou ao Netmarkt em 2002.
“Com isso, não quero questionar o trabalho dos camelôs, mas com certeza o meu admirador não vai deixar de comprar um CD meu para levar um pirata pela metade do preço”, disse o cantor ao veículo.
No período, foi entrevistado pelo portal MVHP e perguntado sobre a opção de divulgar o trabalho nas ruas: “É emocionante, não tem nenhum demérito ou conotação pejorativa. É uma coisa nova e maravilhosa que estou fazendo e aguardando que meus colegas, os mais audaciosos, também o façam”, disse Timóteo.
Afirmou também que, na época, cobrava R$ 15 mil por show, sem negociação. Anos depois, ainda lançou álbuns pela Som Livre, do Grupo Globo, e chegou a ser elogiado por Silvio Santos durante o programa 'Qual É A Música?' por, assim como ele, se arriscar como camelô.
Mesmo retomando o prestígio comercial, ainda montou suas barraquinhas em diferentes períodos — uma vez em 2010, como noticiou o portal O Fuxico, e a última em dezembro de 2017, conforme informou o jornalista Ancelmo Gois no O Globo, vendendo 600 discos pessoalmente em sua última empreitada.
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