Cidade grega foi ocupada pelos nazistas durante o conflito e serviu como ponto de partida de judeus rumo aos campos de extermínio de Auschwitz
A estação ferroviária de Tessalônica, situada nas extremidades desta cidade ao norte da Grécia, é um dos locais mais emblemáticos dos horrores vividos pelo país durante a ocupação nazista.
Foi ali que milhares de judeus gregos foram forçados a embarcar em vagões de carga rumo aos campos de extermínio de Auschwitz, um testemunho sombrio da brutalidade nazista.
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Em uma visita recente, o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier inaugurou oficialmente o terreno destinado à construção de um museu do Holocausto, um projeto aguardado há muito tempo. Com sentimento de vergonha, Steinmeier destacou a importância do local como um lembrete das atrocidades cometidas.
O novo museu, com oito andares e formato octogonal, foi descrito como a obra mais significativa em Tessalônica desde a Segunda Guerra Mundial. As obras já começaram e a expectativa é que estejam concluídas em 2026, com a Alemanha comprometendo-se a doar 10 milhões de euros para sua construção.
Finalmente está acontecendo", declarou David Saltiel, líder da comunidade judaica local, agora bastante reduzida, conforme repercutiu o The Guardian.
Mais de 80 anos após a deportação dos judeus de Tessalônica para os campos de concentração nazistas — uma tragédia que dizimou cerca de 50 mil pessoas, ou 90% da população judaica da cidade — o museu busca não apenas preservar a memória dessas vítimas, mas também educar sobre a história dos judeus gregos. Antes da ocupação nazista, Tessalônica era conhecida como "Mãe de Israel", devido à sua rica herança judaica sefaradita.
A comunidade sefaradita, predominantemente falante de ladino e originária da Espanha do século 15, sofreu perdas devastadoras durante o Holocausto. Em todo o território grego, cerca de 17 mil judeus pereceram, elevando as taxas de mortalidade entre os judeus gregos às mais altas fora da Polônia.
Para Saltiel, que lidera o conselho central das comunidades judaicas na Grécia há 25 anos, o museu do Holocausto é uma iniciativa tardia, mas crucial para curar feridas antigas.
Sinto que sou a voz daqueles que foram levados nos trens", afirmou emocionado.
O novo museu substituirá um pequeno museu judaico inaugurado em 2001 e pretende ser um espaço educativo e centro de direitos humanos num momento em que grupos de extrema-direita estão ressurgindo na Europa.
Apesar dos avanços no projeto do museu, muito ainda precisa ser feito para honrar adequadamente o passado multicultural da cidade e combater o antissemitismo persistente na região. Yiannis Boutaris, ex-prefeito de Tessalônica conhecido por sua visão progressista e esforços para preservar o legado judeu e otomano da cidade, desempenhou papel fundamental na promoção deste projeto.
Boutaris enfatizou a necessidade de enfrentar tabus históricos em uma sociedade que muitas vezes optou por esquecer os eventos do Holocausto. Ainda existem obstáculos a serem superados, como a transformação planejada da Praça da Liberdade em um parque memorial e o reconhecimento adequado dos locais históricos judaicos na cidade.
O futuro museu do Holocausto promete ser único ao narrar especificamente a história dos judeus sefaraditas na região balcânica. Esta iniciativa representa não apenas uma homenagem às vítimas do passado, mas também um passo vital na educação sobre tolerância e diversidade cultural em tempos conturbados.