Alguns enterros possuíam padrão de respeito religioso; outros, por sua vez, podem ter pertencido a criminosos executados. Confira!
Na terça-feira, 5, a Gahan and Long Archaeological Services — uma das principais consultorias arqueológicas voltadas as construções da Irlanda do Norte — divulgou que seus arqueólogos desenterraram em Carrickfergus, uma cidade na costa do país, os restos mortais de 146 pessoas onde havia o cemitério de uma antiga abadia medieval.
Conforme descrito pela BBC, a maioria dos restos mortais nas sepulturas pertenciam a homens, e apenas um pequeno número a mulheres e crianças. Ainda não se pode confirmar com precisão a datação desta descoberta, mas os investigadores acreditam que seja do século 14 ou 15.
+ Misterioso esqueleto de quase 2 mil anos é encontrado em pântano na Irlanda pela polícia
O cemitério, segundo o Live Science, foi desenterrado no final de 2023, antes do início de obras de construção em Carrickfergus, no condado de Antrim. Ele pertencia à antiga Abadia de Woodburn, que serviu como importante local de culto ao povo premonstratense, uma ordem religiosa católica romana do século 14.
A Abadia teria sido então dissolvida em 1542, após a comunidade e o abade local se retirarem para uma cidade próxima.
+ Mais de mil sepulturas e antiga vila medieval são encontradas em abadia na França
Agora, os pesquisadores envolvidos na descoberta esperam os resultados de um relatório pós-escavação, onde podem descobrir mais sobre os indivíduos ali sepultados.
Isso nos dirá a idade dos indivíduos. Podemos identificar doenças que eles possam ter tido, obteremos datas de radiocarbono para eles e poderemos fazer outras análises que também possam nos dizer a origem étnica dos indivíduos," explica Chris Long, arqueólogo da Gahan and Long Archaeological Services e líder da escavação recente, à BBC.
Após o fim das análises, os restos mortais serão novamente enterrados, em local que ainda não foi divulgado nem determinado.
Uma característica dos sepultamentos que salta aos olhos dos arqueólogos é que a maioria deles estava voltada do oeste para o leste. Pois os cristãos medievais tinham a crença de que o falecido, dessa forma, estaria “mais pronto para ver Cristo vindo do leste” desta posição, nas palavras do padre inglês dos séculos 14 e 15, John Mirk.
De modo geral, os cristãos medievais tiveram muito cuidado em fornecer um enterro oeste-leste e em garantir que todos os ritos cristãos fossem observados, a fim de apoiar o indivíduo falecido em sua jornada pelo purgatório", explica à WordsSideKick.com a professora de arqueologia medieval na Universidade de Reading, no Reino Unido, Roberta Gilchrist.
Haviam também algumas sepulturas em que as tradições não eram tão respeitadas, e continham mais de uma pessoa em seu interior. Casos assim geralmente são associados às épocas de crise com peste ou quaisquer outros eventos de grande mortalidade.
No entanto, o que chamava mais atenção nos enterros descobertos recentemente eram as sepulturas que destoavam desse padrão. Em alguns casos, foram encontrados enterros voltados do norte para o sul, possivelmente como uma forma de desrespeito; em outros, os indivíduos estavam de bruços, o que sugerem que podem ter sido criminosos executados.
“Um enterro inclinado [ou] um enterro atípico é geralmente interpretado como tendo a intenção de transmitir desrespeito, punição ou humilhação dos mortos. O enterro na posição norte-sul pode ter sido igualmente considerado como um sinal de estigma e falta de respeito pelo falecido”, acrescenta Gilchrist.
Ainda assim, ressalta a pesquisadora, essas pessoas foram enterradas em um cemitério consagrado, em uma abadia: “A sanção final teria sido enterrá-los em terreno não consagrado, o que no contexto cultural cristão medieval é tratar os mortos como uma não-pessoa (sem possibilidade de salvação).”