Rastros fossilizados foram feitos quando o mundo ainda se organizava no supercontinente Gondwana, há 120 milhões de anos
Recentemente, paleontólogos descobriram durante uma escavação na Formação Wonthaggi, no estado de Vitória, na Austrália, aquelas que são, até o momento, as mais antigas pegadas de pássaros já descobertas não só no país, como em todo o hemisfério sul do planeta. Os vestígios datam de cerca de 120 milhões de anos atrás, quando o mundo ainda vivia o período Cretáceo Inferior, que durou de 145 milhões a 100,5 milhões de anos atrás.
Segundo o Live Science, essas primeiras aves australianas viveram nas regiões polares meridionais do supercontinente Gondwana, anterior à Pangea, no qual o território onde hoje é a Austrália ficava mais próximo ao Polo Sul. Antes dessa descoberta, já haviam outras evidências de aves do Cretáceo Inferior na região — como material esquelético limitado, penas e duas pegadas —, mas o achado recente se provou o mais antigo.
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Essas pegadas de pássaros são cientificamente importantes por vários motivos. Por um lado, são as mais antigas da Austrália, o que nos diz que os pássaros vivem na Austrália há pelo menos 120 milhões de anos. Mas também são as pegadas de pássaros mais antigas do hemisfério sul, que cobre muito mais o mundo do Cretáceo", conta Anthony Martin, paleontólogo da Universidade Emory em Atlanta e co-autor do estudo ao WordsSideKick.com.
"Essas pegadas são de quando esta parte da Austrália ainda estava conectada à Antártida e perto do Polo Sul. Então, isso faz delas as pegadas de pássaros mais antigas de ambientes anteriormente polares", complementa o pesquisador.
Os envolvidos no estudo ainda pontuam que os rastros fornecem pistas sobre como se deu a dispersão dos primeiros pássaros pelas massas de terra e biomas. Ao todo, o estudo — publicado na quarta-feira, 15 de novembro, na revista PLOS ONE — descreve 27 pegadas com tamanhos e formatos variados, sugerindo a ocorrência de várias espécies na região.
As pegadas, por sua vez, foram descobertas em afloramentos marinhos que, outrora, foi uma planície de inundação polar, que alagam devido ao derretimento sazonal do gelo. Logo, a região pode ter sido parte de uma rota migratória durante os verões polares, conforme sugerem os autores do estudo.
Como essas pegadas de pássaros foram feitas em ambientes polares há pelo menos 120 milhões de anos e foram preservadas no que eram então planícies aluviais de rios, achamos que isso mostra que os pássaros viviam nesses locais durante os verões, após o degelo da primavera", afirma Martin. "Isso implica ainda que eles provavelmente não vivem lá durante invernos frios e escuros, então podem ter migrado sazonalmente de e para outros ambientes."
Agora, os pesquisadores esperam que as descobertas inspirem a busca por novas evidências de aves do Cretáceo no Hemisfério Sul: "Poderemos então compreender melhor onde as aves se dispersaram no início da sua história evolutiva e quando começaram a mudar o mundo", conta, por fim, Anthony Martin.