Segundo novo estudo, pragas devastadoras do antigo Império Romano foram acompanhadas por longas e intensas ondas de frio; confira!
Uma nova pesquisa publicada na última sexta-feira, 26, na revista Science Advances, aponta que algumas das pandemias mais devastadoras do antigo Império Romano também estiveram relacionadas a períodos de variação climática na Itália.
"Quando você agita o sistema climático, isso realmente impacta os patógenos, os ecossistemas e, acima de tudo, as sociedades humanas", pontua o colíder do estudo e historiador romano da Universidade de Oklahoma e do Instituto Santa Fé, Kyle Harper, ao WordsSideKick.com. Foi a partir disso que o novo estudo se desenvolveu.
Conforme informado pelo Live Science, a investigação se concentrou em um núcleo de sedimentos escavados no Golfo de Taranto, transportados pelo rio Pó, na Itália, e outros que drenam as montanhas dos Apeninos.
Nestes núcleos, foi possível associar camadas de sedimentos a anos específicos, sendo os principais dados provenientes de vidro vulcânico. que poderia ser atribuído a erupções específicas.
A partir dos dados, foi constatado que os sedimentos poderiam revelar fatos desde 200 a.C. até 600 d.C. Então, para reconstruir a temperatura e a precipitação da região, a equipe utilizou-se de pequenos organismos chamados dinoflagelados — cujos ciclos de vida são extremamente sensíveis a essas variações —, preservados nos sedimentos.
No final do outono, os dinoflagelados se transformam em um estado de repouso conhecido como cisto, que pode ser preservado no registro fóssil. Diferentes espécies desses organismos se adaptam a climas próprios únicos — algumas são mais abundantes em períodos de cheias, outras em períodos de frio —, e a partir disso foi constatado que, entre 200 a.C. e 100 a.C., o clima do Império Romano foi relativamente estável, com alguns períodos curtos de frio.
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No entanto, entre 160 e 180 d.C., Roma foi assolada por um intenso frio. E esse período coincide, justamente, com a chegada da Peste Antonina — ou Peste de Galeno —, uma pandemia trazida pelos exércitos romanos quando retornaram da Ásia Ocidental, que causava sintomas como febre, diarreia e pústulas na pele. Hoje, especialistas acreditam que pode ter sido um surto de varíola ou sarampo.
Outro período de grande frio foi registrado entre 245 e 275 d.C. e, mais uma vez, coincidiu com uma pandemia: a Peste de Cipriano. Registros históricos descrevem que essa doença provocava vômitos, diarreia e até mesmo a putrefação de membros. Nesse caso, não se sabe exatamente o que causou a doença, mas especulam que pode ter sido sarampo, varíola ou algum tipo de febre hemorrágica.
Após o ano 500, uma terceira onda de frio ocorreu no Império Romano, em um período que ficou conhecido como Pequena Idade do Gelo da Antiguidade Tardia. E, foi em 541 que ocorreu o primeiro surto de peste bubônica no oeste da Eurásia. Também conhecida na época como Peste de Justiniano, esta foi a precursora da peste negra, uma das pandemias mais mortais de toda a história, que devastaria a Europa no século 13.
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Segundo Karin Zonneveld, que participa do estudo e atua como paleoceanógrafa da Universidade de Bremen, na Alemanha, "a correlação entre os tempos em que a Europa sofria com grandes surtos de doenças infecciosas correspondentes a fases de clima frio foi impressionante". Agora, a relação real entre esses fatores ainda é razão para investigação.
De acordo com Harper, uma possível explicação é que mudanças ecológicas podem tornar a propagação de doenças de animais para humanos mais provável, além de alterações na própria resiliência humana.
Em uma sociedade agrícola como a da Roma Antiga, por exemplo, os agricultores podem ter enfrentado dificuldade em produzir colheitas suficientes nesses períodos frios, o que acarretaria desnutrição da população e, logo, ficariam mais suscetíveis a doenças.
Agora, os estudiosos planejam seguir com a pesquisa para realizar uma comparação mais profunda dos dados do núcleo de sedimentos com registros climáticos e estudos arqueológicos de Roma, afirma Harper.