Novo estudo realizou análise impressionante das penas fossilizadas, as quais foram originalmente encontradas em 1889 nas proximidades de vulcão
Um estudo publicado na última terça-feira, 18 de março, no periódico Geology, revelou uma descoberta impressionante: penas fossilizadas de um grifo (Gyps fulvus), datadas de 30.000 anos, preservadas de forma inédita em rochas vulcânicas na Itália. Embora os fósseis tenham sido encontrados em 1889, nas proximidades do antigo complexo do vulcão Colli Albani, foi só com tecnologias recentes que os pesquisadores conseguiram analisar a fundo as amostras.
O Gyps fulvus, conhecido como grifo, é um abutre que habita regiões do sul da Europa, sudoeste asiático e partes da África. As penas estudadas são únicas porque representam o primeiro caso conhecido de mineralização tridimensional de tecidos moles em um ambiente vulcânico. Diferentemente da maioria das penas fósseis, preservadas em filmes carbonáceos comprimidos, essas foram mineralizadas em três dimensões, revelando um nível de detalhe sem precedentes.
“As rochas vulcânicas são menos exploradas porque geralmente são associadas a fluxos turbulentos de gases quentes, cinzas e lava”, explicou a dra. Valentina Rossi, autora principal do estudo e pesquisadora da Universidade de Cork, na Irlanda, em entrevista ao site IFLScience. "Tecidos moles delicados de animais são difíceis de fossilizar em ambientes geológicos do tipo", destacou.
No entanto, a análise das penas provou que, em certas condições, essas rochas podem preservar materiais orgânicos com uma qualidade impressionante. As informações são da revista Galileu.
A pesquisa revelou que as penas foram fossilizadas em zeólita nanocristalina, um mineral de origem vulcânica até então nunca associado à preservação de tecidos moles em fósseis. Esses nanocristais de zeólita substituíram os componentes orgânicos das penas, mantendo detalhes microscópicos, incluindo melanossomos – estruturas celulares que determinam a cor das penas.
Segundo Rossi, a chave para essa preservação extraordinária está nas cinzas vulcânicas e nos fragmentos de vidro presentes no sedimento onde as penas foram encontradas. Compostas principalmente de silício e alumínio, essas substâncias, ao interagirem com a água da chuva, dissolvem-se e podem recristalizar como zeólitas.
“Há relatos de que zeólitas em geral podem crescer em cima de material biológico, replicando estruturas finas. É exatamente o que acontece com as penas do grifo enterradas em um sedimento rico em cinzas”, detalhou a pesquisadora.
O resultado é uma das amostras de penas fossilizadas mais bem preservadas já descobertas, oferecendo uma visão detalhada e sem precedentes da biologia dessa ave extinta.
“Essa descoberta mostra que podemos encontrar fósseis incríveis preservados em rochas vulcânicas que são feitas, principalmente, de cinzas finas", apontou Rossi. "E as penas podem ser encontradas em algumas rochas vulcânicas preservadas em finos detalhes biológicos”, concluiu.
+ Confira aqui o estudo completo publicado no periódico Geology.