Preso em Miami, ex-militar Pedro Barrientos foi enviado de volta ao Chile na última sexta, 1, onde será julgado pelo assassinato do cantor Víctor Jara
Em outubro deste ano, conforme repercutido pela equipe do site do Aventuras na História, o ex-militar chileno Pedro Barrientos foi preso em Miami, nos Estados Unidos. Agente durante a sangrenta Ditadura de Augusto Pinochet, Barrientos é acusado de um dos casos mais emblemáticos de violação dos direitos humanos: o assassinato do cantor Víctor Jara.
Na tarde da última sexta-feira, 1, Pedro — que na época do crime era um tenente de apenas 24 anos e um dos oficiais encarregados pelos detidos no Estádio Nacional do Chile — foi extraditado dos Estados Unidos de volta ao Chile.
Ao chegar em Santiago, capital do país, o ex-soldado foi escoltado pela polícia chilena até ser transportado de helicóptero para um quartel. "Queremos definir um limite neste caso — e rapidamente", disse o advogado de direitos humanos Nelson Caucoto, que representa a família Jara desde 1998.
Alguém algum dia teria pensado que haveria justiça para Víctor Jara?" questionou. "Claro que não, há apenas uma década ninguém pensaria que isso seria possível. Então, nesse sentido, a justiça está sendo feita."
Apesar da extradição de Barrientos, ativistas no país alertam que a busca por justiça precisa ser constante e inabalável — visto que muitos militares acusados de atrocidades durante a Ditadura Pinochet continuam escapando de punições.
Segundo o The Guardian exemplifica, 14 pessoas condenadas pelo Supremo Tribunal do Chile por violações dos direitos humanos — incluindo execuções extrajudiciais e sequestros — continuam foragidas, incluindo duas consideradas culpadas em relação ao sequestro e assassinato de Jara.
Cantor, diretor de teatro, professor universitário e simpatizante do governo socialista de Salvador Allende — deposto após golpe em 11 de setembro de 1973 —, Víctor Jara tinha apenas 40 anos quando foi executado.
+ Víctor Jara, o músico socialista fuzilado logo após o golpe militar de Pinochet
"Em termos gerais, o Chile ainda tem uma enorme dívida a pagar em termos de Justiça pelos desaparecimentos forçados, execuções e tortura [cometidas durante o regime de Pinochet]", afirmou Rodrigo Bustos, diretor-executivo da Anistia Internacional no Chile.
Até o momento, apenas cerca de um terço dos 3.216 casos de desaparecimentos forçados e execuções cometidas durante a Ditadura tiveram suas condenações garantidas, apontam dados compilados Observatório de Justiça Transicional da Universidade Diego Portales. Além disso, apenas 0,6% das vítimas sobreviventes viram os seus casos terminarem em condenação.
A Justiça que chega tão tarde também é uma negação de justiça", aponta Bustos. "No entanto, é vital que estes casos não terminem em impunidade se quisermos construir um país onde estes crimes não se repitam."