Após ter 30% do bioma incendiado no ano passado, a região começou a apresentar melhoras, mas ainda preocupa pesquisadores
No ano passado, o Pantanal passou por alguns dos piores meses de sua história. O recorde de pontos de incêndio foi atingido nos meses de julho, setembro e outubro. Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), cerca de 30% do bioma foi atingido por fogo, queimando 4,350 milhões de hectares.
A maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do país foi uma das mais atingidas, tendo 93% de sua área destruída em 2020. Agora, porém, pesquisadores registraram na região o crescimento da vegetação, frutos em árvores e animais se alimentando novamente. As informações são do G1.
Os sinais de recuperação da reserva surpreenderam os especialistas, que tinham a expectativa inicial de uma melhora no bioma apenas um ano depois dos incêndios. Quatro meses depois, acuri, canjiqueira, bocaiuva, jatobá, jenipapo, figueira e marmelada já apresentam frutificações na unidade de conservação.
Os frutos dessas árvores servem de alimento para muitos animais da região, como araras, queixadas e antas. Eles foram observados pelos cientistas novamente, durante esse momento de alimentação.
Embora o contexto seja de otimismo, os pesquisadores ainda se mostram receosos quanto às consequências de longo prazo dos incêndios de proporção histórica. Mesmo que a vegetação tenha crescido notavelmente, ainda não é possível afirmar que a área está recuperada.
Gabriela Schuck, bióloga do Grupo de Estudos em Vida Silvestre (GEVS), explicou: “Este é um momento de transição e estruturação da paisagem. Vemos água em todos os lugares e ela é um recurso essencial para todas as espécies e para a produção de frutos. Ou seja, mantendo a alimentação dos animais herbívoros, mantêm-se a alimentação dos animais carnívoros e tudo vai se ajeitando dentro de uma relativa normalidade. Porém, não falamos ainda em recuperação, mas em transformação e reestruturação da área. Ainda é preciso monitorar como as coisas serão em longo prazo, porque o fato de ver vida animal e vegetal não significa que isso se manterá no futuro”.
“Com as ações de combate ao fogo pela brigada do Sesc Pantanal e o investimento em pesquisas, poderemos dar uma resposta para a sociedade sobre a real proporção do que foi afetado no bioma”, afirmou. “O histórico das pesquisas, realizadas há 24 anos na RPPN, colaboram para este momento de transição que vive o Pantanal, pois temos dados do antes, estamos levantando o do agora, e podemos projetar os impactos a longo prazo”.