Conselho Mundial de Igrejas definiu recentemente conjunto de práticas que devem ser adotadas por organizações religiosas para combater crise climática
Publicado em 24/03/2025, às 08h39
Recentemente, o Conselho Mundial de Igrejas definiu em um novo manual de justiça climática um conjunto de práticas que devem ser adotadas por organizações religiosas para combater a crise climática que vem assolando o mundo nos últimos anos. Essas medidas são encorajadas com a intenção de proteger os jovens e as gerações futuras.
Conforme repercute o The Guardian, o manual compila ensinamentos cristãos sobre administração e justiça, e ainda apresenta o litígio estratégico como uma ferramenta para "criar esperança e responsabilizas as partes responsáveis". Vale mencionar que, nos últimos anos, diversos líderes religiosos se manifestaram sobre a crise climática, incluindo o próprio papa Francisco.
Agora, o Conselho Mundial de Igrejas, que representa denominações diferentes ao redor de todo o mundo, alegou que ficou "cada vez mais claro que a defesa por si só é insuficiente", tendo em vista que as emissões de gás carbônico seguiram aumentando, com a "expansão implacável" das indústrias de combustíveis fósseis.
Esta situação nos obriga a reconhecer que não há contradição entre utilizar estruturas legais e incorporar valores cristãos", afirma o manual do Conselho Mundial de Igrejas. "Na verdade, nossa fé nos chama a falar a verdade ao poder e a tomar todas as medidas legais disponíveis para proteger nosso planeta e seus habitantes".
No manual, é apontado o crescimento do litígio climático nos últimos anos, com a intenção de impactar diretamente o comportamento corporativo e estatal, além do discurso público, catalisando mudanças mais amplas na política. Os processos, vale mencionar, miram cada vez mais organizações que financiam e investem em combustíveis fósseis, como bancos públicos e comerciais, fundos de pensão e agências de crédito.
"Uma intervenção legal direcionada que aumenta os custos de fazer negócios para empresas de combustíveis fósseis poderia previsivelmente ter efeitos colaterais significativos em nível de sistema, por exemplo, tornando as tecnologias de energia renovável mais baratas do que os combustíveis fósseis", destaca o manual. "O foco em atores financeiros oferece uma rara oportunidade de impacto sistêmico que poderia ser irrealizável por meio do direcionamento de empresas individuais de combustíveis fósseis".
Vale mencionar ainda que esse não é o primeiro processo de intervenção legal baseado na fé sobre o clima. Anteriormente, moradores de uma ilha ameaçada pelo aumento do nível do mar, na Indonésia, moveram um processo contra uma produtora suíça de cimento, e apoiado pela ONG Swiss Church Aid (HEKS/EPER).
Esperamos ver uma proliferação de ações legais em todo o mundo por motivos morais", afirma a líder sênior do programa sobre crianças e clima no Conselho Mundial de Igrejas, Frederique Seidel, ao Guardian.
Seidel acrescenta que empresas visadas por organizações religiosas enfrentam sérios riscos em sua reputação, de forma que, talvez, a ameaça de litígio possa levar fiéis a lutar de maneira prática por mudanças, antes que decisões legais sejam finalmente concluídas ou não.
A líder sênior também afirma que, inicialmente, não era planejado que o manual tivesse uma intenção política, e que o conselho representava um amplo espectro de igrejas conservadoras e liberais — abrangendo quase 600 milhões de pessoas pelo mundo, em mais de 110 países, segundo Seidel.
"Levamos essas preocupações muito a sério. Estamos essencialmente deixando para nosso eleitorado escolher os meios e os mecanismos que são mais viáveis e confortáveis para eles em seu próprio contexto político e social", continua Seidel, reconhecendo o risco de reação negativa ao litígio.
Por fim, o manual ainda descreve uma série de possíveis ações não litiginosas que podem ser tomadas, como questionar os investimentos de organizações financeiras ou relatar preocupação sobre empresas a reguladores ou órgãos como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Nesse sentido, as igrejas também são desencorajadas a investir em combustíveis fósseis.
Ativista da justiça climática de Uganda e uma cristã evangélica renascida, Vanessa Nakate conclui, em um prefácio, que o manual rejeitava a noção de exploração de recursos para ganho individual, e ainda encorajava uma abordagem mais "ecocêntrica" nas igrejas. "Este é um chamado para que a igreja se levante contra as injustiças", escreveu.