Mudanças climáticas aceleram a deterioração de túmulos históricos em Svalbard, Noruega, expondo restos mortais e artefatos à erosão
Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 10/03/2025, às 18h30 - Atualizado em 12/03/2025, às 17h36
O arquipélago norueguês de Svalbard, no Ártico, abriga um tesouro arqueológico incrível sob suas paisagens congeladas: cemitérios de baleeiros europeus dos séculos 17 e 18. No entanto, o aumento das temperaturas está acelerando o degelo do permafrost, o que ameaça acabar com esses locais históricos e revelar seus segredos ao mar.
Os túmulos em Smeerenburgfjorden, onde repousam os restos de cerca de 600 baleeiros, figuram entre os mais antigos e vulneráveis sítios de patrimônio cultural em Svalbard. Preservados por séculos no permafrost, os corpos e artefatos enfrentam agora a ameaça do degelo acelerado pelas mudanças climáticas, que desestabiliza os túmulos e expõe os materiais à erosão e decomposição.
Sob a liderança da arqueóloga Lise Loktu, do Instituto Norueguês de Pesquisa do Patrimônio Cultural (NIKU), o projeto "Esqueletos no Armário" tem como objetivo registrar os estragos e examinar os restos mortais antes que sejam perdidos. "Os túmulos representam um recurso arqueológico único, raramente preservado em outros lugares", explica Loktu na pesquisa.
Nas últimas três a quatro décadas, Svalbard testemunhou um aumento considerável nas temperaturas, o que resultou em condições climáticas extremas, chuvas mais intensas e erosão costeira acelerada.
O degelo do permafrost está aprofundando a camada ativa do solo, o que torna os cemitérios ainda mais vulneráveis. A força das ondas e a diminuição do gelo marinho contribuem para a destruição dos túmulos.
"Em Likneset, documentamos que muitas sepulturas estão sendo destruídas devido a essas mudanças climáticas", relata Lise na pesquisa. "Os caixões estão desmoronando, expondo materiais esqueléticos e têxteis à intrusão de sedimentos, água e oxigênio. Coletivamente, esses processos aceleram a decomposição microbiana de materiais arqueológicos".
A degradação é tão rápida que os pesquisadores observam mudanças perceptíveis de um ano para o outro. "Estamos em uma corrida contra o tempo para documentar essas sepulturas antes que desapareçam completamente. Ainda há muita informação a ser coletada", acrescenta a arqueóloga na pesquisa.
Os restos mortais dos baleeiros revelam um valioso panorama da vida dos europeus nos séculos 17 e 18. Estudos anteriores, ao analisarem esses vestígios, desvendaram detalhes sobre a saúde, as condições de vida e as estruturas sociais desses indivíduos. Além disso, as análises apontam para a diversidade de origens dos baleeiros, vindos de diferentes países europeus, e para a existência de distinções sociais entre eles.
A análise óssea revela a árdua vida dos baleeiros, marcada por sinais de desnutrição, doenças e trabalho exaustivo desde a juventude. O escorbuto, causado pela deficiência de vitamina C, era a principal causa de morte.
Com a rápida deterioração dos túmulos, os pesquisadores temem que o conhecimento histórico crítico seja perdido para sempre. "As sepulturas em Svalbard estão se decompondo mais rapidamente e sendo levadas para o mar devido à erosão. Isso é sobre preservar o conhecimento que, de outra forma, desapareceria para sempre, conhecimento que não podemos recuperar de nenhum outro lugar", alerta Loktu.
Segundo o 'Archaeology News', os arqueólogos estão em uma corrida contra o tempo, trabalhando incansavelmente para preservar o máximo possível antes que a deterioração avance, mas o tempo está se esgotando rapidamente.