Cova com os corpos de, pelo menos, 100.000 torturados e assassinados sob o regime brutal do ex-presidente Bashar al-Assad é encontrada na Síria
Uma cova coletiva contendo os corpos de, pelo menos, 100.000 indivíduos que foram torturados e assassinados sob o regime brutal do ex-presidente Bashar al-Assad foi encontrada nas proximidades de Damasco, capital da Síria.
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A informação foi divulgada por Mouaz Moustafa, diretor executivo da Syrian Emergency Task Force (SETF), uma organização de defesa dos direitos humanos baseada nos Estados Unidos.
De acordo com Moustafa, as vítimas do regime foram localizadas em al-Qutayfah, a aproximadamente 40 quilômetros ao norte da capital síria. "Cem mil é a estimativa mais conservadora", afirmou ele à Reuters, referindo-se ao número de corpos que acredita terem sido enterrados no local. "É uma estimativa extremamente conservadora e quase injusta", acrescentou.
O executivo também alertou que esta descoberta representa apenas uma das oito covas coletivas criadas pelo governo deposto de Assad. A cova localizada em al-Qutayfah é composta por várias valas que possuem profundidade estimada entre 5 e 7 metros e largura superior a 3 metros.
Moustafa, que chegou à Síria após a fuga de Assad para Moscou na semana passada, indicou que a cova foi provavelmente o resultado de operações realizadas pela antiga estrutura militar do regime.
"[A Força Aérea Síria] era responsável por transportar os corpos de hospitais militares — onde os cadáveres eram levados após torturas fatais — para diferentes ramificações da inteligência, antes de serem enviados para locais de sepultamento coletivo", explicou.
Além disso, Moustafa destacou que relatos de pessoal funerário que conseguiram escapar da Síria confirmam as condições descritas da cova, enquanto motoristas de retroescavadeiras relataram terem recebido ordens para compactar os corpos para que coubessem nas valas.
A descoberta sombria é considerada uma das maiores covas coletivas da história moderna. Em comparação, uma cova coletiva da era Stalin na Ucrânia — situada em Bykivnia, uma floresta próxima à capital Kyiv — abriga mais de 200.000 prisioneiros políticos executados, segundo informações da BBC.
Além da cova em al-Qutayfah, surgiram relatos sobre dezenas de corpos encontrados na província de Daraa, no sul da Síria. Vídeos impactantes da agência de notícias Agence France-Presse mostram cadáveres dispostos em sacos ao redor do buraco, com homens extraindo ossos do solo onde estavam enterrados.
Os corpos descobertos em toda a Síria são possivelmente parte dos mais de 150.000 indivíduos desaparecidos sob o regime Assad, conhecido por prender e torturar opositores e os lançar em prisões sem esperança de retorno, conforme dados da Comissão Internacional sobre Pessoas Desaparecidas (ICMP). O número real dos desaparecidos durante anos de guerra civil sangrenta ainda não foi verificado de forma independente.
Jenifer Fenton, porta-voz do enviado especial das Nações Unidas para a Síria, solicitou aos rebeldes que assegurassem documentos relacionados aos locais de detenção e covas coletivas administradas por Assad, para garantir justiça e responsabilidade pelos crimes cometidos.
Devemos priorizar a contabilidade dos desaparecidos, garantindo que as famílias recebam a clareza e reconhecimento que desesperadamente necessitam", disse ela em um comunicado.
Os rebeldes sírios, liderados por Abu Mohammed al-Jolani, prometeram responsabilizar o governo Assad pelas alegadas violações dos direitos humanos e crimes de guerra.