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Notícias / Arqueologia

Cão sacrificado na Roma Antiga é encontrado sob construção na Bélgica

Descoberta rara lança luz sobre rituais de purificação em instituições e templos do império romano do Ocidente; saiba mais!

Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 07/04/2025, às 15h00

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Fóssil preservado de cão usado em ritual - SOLVA Dienst Archeologie
Fóssil preservado de cão usado em ritual - SOLVA Dienst Archeologie

Arqueólogos descobriram recentemente, na vila de Velzeke, na Bélgica, os restos bem preservados de um cão que viveu na época da Roma Antiga. O achado, segundo os pesquisadores, está ligado a um ritual de sacrifício — prática comum na Antiguidade — e revela detalhes pouco conhecidos sobre os ritos romanos ligados a construções.

O anúncio foi feito em 21 de março pelo Serviço de Arqueologia SOLVA, órgão governamental belga responsável pelas escavações. Arne Verbrugge, arqueólogo da região da Flandres, explicou que os trabalhos ocorreram em um antigo vicus — centro regional romano — e que a ossada do cão estava sob o piso de pedra de um edifício, o que favoreceu sua conservação.

“A maioria dos ossos da época romana que encontramos em nossa região já está bastante degradada. Mas em certos contextos, como poços ou valas, a preservação é melhor”, disse Verbrugge à Fox News Digital. “Como o cão foi enterrado sob uma fundação de arenito calcário, os restos foram preservados de maneira incomum.”

Rituais

Segundo o arqueólogo, cães eram usados com frequência em práticas rituais na Roma Antiga e, em muitos casos, sacrificados como “guardiões” para acompanhar os mortos em sua jornada pós-vida. No entanto, o caso de Velzeke parece ser diferente.

Esse animal não foi sacrificado para acompanhar um ser humano falecido, mas sim como parte de um ritual de fundação de um edifício — o que é raro na Bélgica”, destacou o arqueólogo à Fox.

Verbrugge cita o tratado “De Re Rustica”, do escritor romano Varrão, para contextualizar a prática. “Sabemos que os romanos às vezes usavam cães em rituais para purificar terrenos e casas. É provável que, antes da construção em Velzeke, tenha havido um ritual de purificação do local.”

Ele também relaciona o sacrifício a festivais religiosos da época, como a Lupercália, festa dedicada ao deus Fauno e associada à fertilidade e purificação, em que cães e outros animais eram imolados.

Sítio arqueológico

A construção sob a qual o cão foi encontrado era feita com fundações de pedra — algo incomum na região durante o período romano. Isso indica que se tratava de um edifício importante, possivelmente com funções públicas, administrativas, religiosas ou até militares.

É o primeiro sacrifício canino relacionado a construção descoberto na Flandres, embora haja registros semelhantes na França e no Reino Unido”, afirmou Verbrugge.

Ainda não é possível determinar a raça do animal, já que a categorização moderna de raças surgiu recentemente. No entanto, após a lavagem dos ossos, os pesquisadores esperam coletar informações como causa da morte, idade, sexo e possíveis doenças.

Mais registros do fóssil durante escavação - SOLVA Dienst Archeologie

Além do cão, a escavação revelou outros artefatos: restos de um segundo cachorro, ossos de um porco jovem, cerca de 33 taças intactas e uma tigela de bronze. No entanto, esses itens foram considerados como lixo doméstico ou restos de atividades cotidianas, e não parte de rituais.

“O conjunto dos achados revela uma cultura rica nesse local, com presença de cerâmica de luxo importada, joias e até moedas de prata”, afirmou o arqueólogo. “É notável que muitas valas também contenham escória e fragmentos de fornos, o que indica a presença de atividades artesanais na área.”

Parte do sítio também apresenta evidências de práticas rituais e religiosas, o que reforça a importância do local no contexto da vida romana na região.