Grace Davidson recebeu transplante do útero de sua irmã em 2023 e, agora, celebra a chegada de sua primeira filha, Amy Isabel
Publicado em 08/04/2025, às 09h34
Cirurgiões britânicos estão celebrando um avanço médico surpreendente, depois que uma mulher se tornou a primeira do Reino Unido a dar à luz após receber um útero transplantado. Grace Davidson, com 36 anos, deu à luz à pequena Amy Isabel, em um feito inédito para a medicina britânica.
Conforme repercute o The Guardian, Grace era ainda adolescente quando foi diagnosticada com uma doença rara que a impedia de ter um útero. Agora, ela e seu marido, Angus, afirmam ter recebido "o maior presente que poderiam ter pedido".
A menina foi nomeada como Amy Isabel, como uma homenagem a duas figuras essenciais durante todo o processo, aguardado não só pela família como também pelos médicos: a irmã de Grace, Amy Purdia, que já tem duas filhas e doou seu próprio útero em 2023; e Isabel Quiroga, uma cirurgiã que ajudou a aperfeiçoar a técnica de transplante.
Amy Isabel nasceu de uma cesária planejada pelo NHS (o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido) no dia 27 de fevereiro, no hospital Queen Charlotte's and Chelsea, em Londres. "Foi difícil acreditar que ela era real. Eu sabia que ela era nossa, mas é difícil acreditar", disse Grace Davidson ao Guardian.
Grace ainda contou que ela e o marido sempre tiveram "uma esperança silenciosa" de que o transplante seria um completo sucesso, e que permitiria que eles começassem uma família. "Mas foi só quando ela chegou que a realidade disso caiu", afirma.
Com a chegada de Amy Isabel, após 25 anos de pesquisa liderada pelo professor Richard Smith, líder clínico da instituição Womb Transplant UK — organização de caridade que oferece apoio a mulheres nascidas sem útero, ou com útero que não funciona —, uma nova esperança surge em mais mulheres. Vale mencionar que outros três transplantes do tipo ocorreram no Reino Unido, usando doadoras falecidas.
"Sinto uma grande alegria, na verdade, inacreditável — 25 anos depois de começar esta pesquisa, finalmente temos um bebê, a pequena Amy Isabel. Espantoso, realmente espantoso", relatou Smith à PA Media. "Houve muitas lágrimas derramadas por todos nós neste processo — realmente muito emocionante, com certeza. É realmente algo".
Grace Davidson é uma nutricionista do NHS do norte de Londres, que nasceu com a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser. Esta é uma condição rara que atinge uma em cada 5 mil mulheres, provocando um útero subdesenvolvido ou até mesmo ausente. Os ovários, por sua vez, permaneceram intactos e ainda produziam óvulos e hormônios normalmente, o que ainda permitia a concepção através de um tratamento de fertilidade.
Por isso, antes de receber o útero, ela e o marido realizaram um tratamento de fertilidade, no qual criaram sete embriões. Eles foram congelados para fertilização in vitro e, meses após a cirurgia para receber o útero de sua irmã, um dos embriões foi transferido para ela.
O pai de Amy Isabel, Angus Davidson, disse que a chegada de sua filha foi um momento muito emocionante para todos: "Depois de esperar tanto tempo, é meio estranho entender que este é o momento em que você vai conhecer sua filha. A sala estava cheia de pessoas que nos ajudaram na jornada para realmente termos Amy. Nós estávamos meio que suprimindo emoções, provavelmente por 10 anos, e você não sabe como isso vai sair".
A sala estava tão cheia de amor e alegria e todas essas pessoas que tinham um interesse pessoal em Amy por razões médicas e científicas incríveis. Mas as linhas entre isso e o amor por nossa família e por Amy são muito tênues — parecia uma sala cheia de amor", relatou. "O momento em que a vimos foi incrível, e nós dois simplesmente caímos em lágrimas".
Amy Purdie, por sua vez, disse que foi "uma alegria absolta" ver sua irmã e seu cunhado se tornarem pais, e que "valeu cada momento" o que passou para doar seu útero. Vale mencionar que Grace precisou tomar imunossupressores para garantir que seu corpo não rejeitaria o útero, e ela afirma que ainda gostaria de ter outro filho.
Por fim, vale mencionar que, embora este seja um caso inédito no Reino Unido, registros do tipo já existem. Pelo mundo, já foram realizados mais de 100 transplantes de útero, e acredita-se que ao menos 50 bebês já nasceram como resultado. O primeiro parto bem-sucedido do tipo ocorreu em 2014, na Suécia, com o nascimento do pequeno Vincent.