Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Notícias / Pré-história

Cientistas descobrem hábito curioso de 'cangurus gigantes' pré-históricos

Espécie extinta de cangurus gigantes que viveu na Austrália parece ter tido hábitos que vão na contramão de muitas comunidades animais

Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 23/04/2025, às 18h10

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Imagem meramente ilustrativa - Getty Images
Imagem meramente ilustrativa - Getty Images

Apesar do tamanho impressionante, uma espécie extinta de cangurus gigantes que viveu na Austrália parece ter tido hábitos bastante "caseiros", com um território surpreendentemente limitado, de acordo com um novo estudo conduzido por pesquisadores australianos.

O protagonista da pesquisa é o Protemnodon, um gênero de cangurus que habitou o continente entre 5 milhões e 40 mil anos atrás. Esses animais podiam pesar até 170 kg — mais que o dobro do peso de um canguru-vermelho moderno, o maior marsupial atual. Diante desse porte, os cientistas esperavam que essas criaturas tivessem grandes áreas de deslocamento.

“Em geral, animais maiores tendem a percorrer distâncias maiores para encontrar alimento e recursos”, explicou ao The Guardian o paleoecologista Chris Laurikainen Gaete, da Universidade de Wollongong, coautor do estudo publicado no Paleontology eJournal.

Controvérsia

Porém, uma análise dos dentes fossilizados encontrados próximo ao Monte Etna, no norte de Queensland, apontou o contrário. Os Protemnodon que viveram ali passavam praticamente toda a vida perto das cavernas de calcário onde seus restos foram descobertos.

“O que vemos é que esses cangurus eram verdadeiros ‘bichos do mato’”, disse ao jornal o paleontólogo e curador do Museu de Queensland, Dr. Scott Hocknull. “Eles viviam em um bolsão bem pequeno, aproveitando a abundância de folhas da floresta tropical e a proteção das cavernas contra predadores pré-históricos, como os leões marsupiais.”

Segundo os pesquisadores, essa preferência por um território restrito funcionou bem por um bom tempo. O ambiente era estável e oferecia tudo o que os animais precisavam. 

Mas, quando o clima começou a mudar e a floresta tropical foi substituída por paisagens mais secas, cerca de 280 mil anos atrás, a falta de mobilidade se tornou um fator de risco. Os Protemnodon do Monte Etna não conseguiram se adaptar, o que contribuiu para sua extinção.

O paleontólogo Dr. Isaac Kerr, da Universidade Flinders, que não participou do estudo, destacou ao Guardian que fósseis de Protemnodon foram encontrados em várias regiões da Austrália, indicando que diferentes espécies se adaptaram a diversos habitats, incluindo a Tasmânia e até a Nova Guiné. Ele descreve o animal como parecido com um wallaroo, porém mais robusto, com pernas mais curtas e corpo musculoso.

Modelo 3D de Protemnodon - Capricorn Cave/Atuchin Lawrence Hocknull

Para identificar os padrões de movimento dos cangurus pré-históricos, os cientistas usaram uma técnica que analisa a assinatura química do estrôncio nos dentes fossilizados. Esse elemento químico varia conforme o tipo de rocha do solo local e acaba se incorporando nas plantas e, consequentemente, nos animais que delas se alimentam.

Essa técnica permitiu aos pesquisadores comparar os níveis de estrôncio nos fósseis com os das rochas ao redor do Monte Etna, concluindo que os animais não se afastavam muito dali. O Monte Etna é um dos mais importantes sítios fósseis da Austrália, com registros detalhados de antigas florestas tropicais do período Pleistoceno. 

Monte Etna, em Queensland - Scott Hocknull

O próximo passo da equipe é aplicar essa mesma análise em fósseis de outras espécies menores, como os cangurus-arborícolas e wallabies, cujos descendentes ainda vivem hoje, para entender por que alguns resistiram às mudanças ambientais enquanto outros, como o Protemnodon, desapareceram.

“Esse método muda radicalmente a forma como ecologistas e paleontólogos interpretam o registro fóssil”, afirma Hocknull. Ele acredita que o estudo poderá ajudar a esclarecer, caso a caso, por que algumas espécies da megafauna desapareceram em certos locais e outras sobreviveram.